Extra:
A partida entre Flamengo e Universidad Católica nesta quinta-feira pela
Libertadores era apenas a segunda vez em que pequeno Thiago Sepúlveda, de 10
anos, assistia ao rubro-negro in loco. Sua estreia em um estádio foi em 2017,
quando os dois clubes se enfrentaram no mesmo San Carlos de Apoquindo. Após
ser atingido no rosto por um sinalizador, lançado por um torcedor chileno no
jogo de ontem, o menino, abatido, disse à mãe que não quer saber mais de
futebol.
Além de Thiago, um idoso que estava na torcida do Flamengo ficou ferido por
objetos arremessados pelos rivais chilenos, entre eles garrafas e pedras. Com
os ânimos exaltados desde o início da partida, torcedores da Católica
protagonizaram cenas de violência sobretudo após o terceiro gol da equipe
carioca, que venceu por 3 a 2.
Foi nesse momento que a jornalista Danielle Carvalho, mãe de Thiago, deixou o
jogo de lado na tentativa de proteger o filho. Virou-se para a arquibancada
onde estavam os chilenos e se postou na frente do garoto. Mesmo assim não viu
o sinalizador que atingiu o menino.
— Começaram a lançar coisas pro meu lado. Então, deixei de ver a patrida para
ver o povo jogando. Eu fiquei como um escudo. Demorei um minuto para dar conta
de que meu filho tinha sido atingido. Não vi nada vindo na minha direção. Até
que olho para trás e vejo meu filho caído no chão, com sangue e o olho fechado
— contou Danielle ao EXTRA.
Na noite desta quinta-feira, no estádio San Carlos de Apoquindo, em Santiago, no Chile, aconteceram cenas lamentáveis de racismo, lançamento de pedras, garrafas e sinalizadores (uma criança foi ferida) da torcida adversária em direção aos torcedores rubro-negros, ... (@CONMEBOL) pic.twitter.com/Wi0aO8nGZj
— Flamengo (@Flamengo) April 29, 2022
Segundo ela, torcedores do Flamengo que estavam perto ajudaram a socorrer o
menino. O grupo pediu para a segurança liberar o acesso e facilitar a chegada
à ambulância, mas os funcionários não atenderam de imediato. Um dos
rubro-negros então desceu com Thiago no colo pelas escadas da arquibancada
enquanto gritava que havia uma criança ferida. Só então conseguiram auxílio.
— Estava tão orgulhosa de ver meu filho feliz, cantando. De poder compartilhar
essa paixão com ele. Não consigo entender como chegou ao rosto do Thiago. Não
sei se deu a volta, o que aconteceu — afirmou a mãe. — Era para ser uma noite
feliz, mas terminou com meu filho aos prantos e ferido — emendou, emocionada.
Em lágrimas e assustado, Thiago foi amparado por funcionários e torcedores do
Flamengo na saída do estádio. Ele foi examinado por um médico, que constatou
sinais de queimadura. Inicialmente, suspeitava-se que ele havia sido atingido
por uma pedra.
'Mãe, estou com medo'
— O Thiago ficou com a marca de queimadura em volta do olho. E ele me disse:
'Mãe, eu senti algo quente'. Foi sinalizador. Saía aquela fumaça vermelha, e
lançavam. Poderia ter sido pior. O médico disse que foi leve, mas por mais
alguns centímetros ele poderia ficar até cego — afirmou Danielle. — Meu fiho
está muito afetado, triste. Ele me falou: Mãe, não consigo parar de pensar.
Estou com medo, não quero saber de futebol agora'. E eu não quero que ele
tenha essa imagem.
Após o episódio, Danielle também registrou ocorrência na delegacia. Imagens
compartilhadas nas redes sociais, denunciadas inclusive por torcedores da
Católica, mostram um homem arremessando o artefato em direção aos
rubro-negros. O clube chileno afirmou em nota que avalia medidas criminais
contra o agressor e pediu ajuda para identificá-lo.
Necesitamos identificar a los responsables de estos hechos. No podemos tolerar estas conductas miserables en nuestro estadio. Necesitamos tu ayuda de manera anónima para identificar a estos sujetos. Escríbenos con confidencialidad a lineadirecta@cruzados.cl y acabemos con esto! https://t.co/DAscRH971r
— Universidad Católica (@Cruzados) April 29, 2022
O Flamengo também condenou, em nota, os ocorridos durante a partida. Fora os
objetos lançados, um torcedor foi flagrado imitando um macaco em direção aos
rubro-negros. É o quarto episódio de racismo envolvendo clubes brasileiros
apenas nesta semana.
De acordo com a mãe, o clube chileno ainda não entrou em contato com ela nem
ofereceu qualquer tipo de assistência. Danielle conta que alertou policiais
sobre a conduta dos torcedores rivais e que os rubro-negros viram quem
arremessou o sinalizador, mas os agentes e funcionários da segurança nada
fizeram.
— Falei que tinha visto quem foi, pedi para me levarem para prendê-lo, mas
ninguém me deu confiança. Se tivessem me ouvido, ele estava preso agora —
disse Danielle. — Criaram problema para eu entrar com guarda-chuva, e tinha
chovido no dia anterior. Mas os torcedores da Católica tinham garrafas, pedra,
sinalizador. Como entraram com isso? — indaga.
Danielle, que se mudou de Cabo Frio (RJ) para a capital chilena Santiago há 14
anos, cobra agora uma investigação e punição do responsável. Ao lado do filho,
espera ainda poder reviver momentos de alegria nos estádios, com a certeza de
que casos como esse não ficarão impunes.
— Não podemos normalizar mais um caso de violência. Esse torcedor tem que ser
punido.
VEJA AS ÚLTIMAS NOTÍCIAS
Imagem: Divulgação