Por Bruno Marinh | Extra:
Gilcione Nonato Costa, do Departamento de Matemática da Universidade Federal
de Minas Gerais (UFMG), resume as probabilidades que calcula como sendo a sua
maneira, como matemático, de expressar sua opinião a respeito do futebol. A
mais recente dá um alerta claro para o Flamengo: já está na hora de o time
arrancar se sonha em ser campeão brasileiro. Neste sábado, contra o Santos, às
19h, na Vila Belmiro, só a vitória interessa para os cariocas.
Antes da 18ª rodada, o rubro-negro entra em campo com 10,5% de chances de ser
campeão. É pouco, mas o que preocupa mais é a vantagem do Atlético-MG. De
acordo com os cálculos do Departamento de Matemática da UFMG, a atual
probabilidade do Galo ser campeão é de 58,6%. Nunca na história dos pontos
corridos com 20 clubes um time chegou a essa altura da competição com tantas
chances e viu o título escapar no fim.
A partir de segunda-feira, os dados atualizados farão parte da nova plataforma
de estatísticas do GLOBO, que terá, além das probabilidades, o histórico das
últimas campanhas das equipes, além de outras informações, com menu de
navegação para cada um dos 20 clubes da Série A do Brasileiro.
O cálculo que ressalta o favoritismo do Atlético-MG e reforça a urgência de
uma campanha arrebatadora por parte do Flamengo parte da premissa básica de
qualquer operação de probabilidade: para saber se um time será campeão, irá
para a Libertadores ou será rebaixado, basta pegar a quantidade de diferentes
combinações de resultados que levam até o evento específico e dividi-las pelo
total de combinações possíveis.
Na prática, chegar a esse resultado seria absurdamente complexo e trabalhoso:
ao fim do primeiro turno, por exemplo, restarão ainda 190 partidas a serem
disputadas no Brasileiro e simular os três resultados possíveis de cada jogo
(vitória, empate ou derrota) e cruzá-los levaria uma eternidade. O grupo da
UFMG criou um software que faz esse trabalho.
O pulo do gato que apura a qualidade da probabilidade é a criação de uma
espécie de perfil de cada time. Ele leva em consideração os resultados
anteriores das equipes como mandantes e visitantes. Os perfis estão sempre em
mutação: a cada rodada que passa, ele é atualizado e fica mais apurado em
termos de tendência.
Gilcione explica que a construção desse perfil que norteia a projeção futura
leva em consideração diferentes pesos dos resultados passados:
— A gente avalia o perfil do adversário. Se você vence um adversário forte,
isso conta mais do que você vencer um time mais fraco. Se você vence como
visitante uma equipe que é forte como mandante, isso afeta mais o seu perfil
como visitante do que você vencer um time com histórico ruim como mandante.
O matemático faz as contas do Campeonato Brasileiro deste ano vendo a frieza
dos números aquecerem o coração atleticano. Aos 50 anos, nasceu em 1971,
justamente quando o Galo conquistou seu único título da competição. A
motivação para começar o trabalho foi muito menos prazerosa. A primeira vez
que começou a calcular probabilidades na Série A foi em 2004, assustado com o
risco do Atlético ser rebaixado. O time escapou da queda naquele ano, mas não
no seguinte, quando o grupo do Departamento de Matemática da UFMG foi criado.
O grupo se transformou em projeto de extensão, site e hoje é uma das
principais referências do país. Na reta final dos campeonatos, é fonte para
torcedores, que estão quase tão preocupados em fazer contas e estudar a tabela
quanto em assistir ao time jogar.
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Imagem: Marcelo Cortes
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