'Gato' na Copinha, zagueiro recomeça como capitão, sonha com chance no Flamengo e se espelha em Mina



Os gritos de alguns companheiros de time, em tom de zoeira, não atrapalham Heltton Matheus durante entrevista. O zagueiro já não tem mais nada a esconder. Um a um, os brincalhões vão para o vestiário, enquanto o defensor fica no gramado, conversando com a reportagem do LANCE!. E ele tem muito para falar... Em janeiro deste ano, Heltton Matheus Cardoso Rodrigues, então com 22 anos, jogava com a identidade de Brendon Matheus Araújo Lima dos Santos, um colega de 19 anos, preso no Rio de Janeiro. Assim ele fez sucesso na Copa São Paulo, brilhando na competição sub-20 com a camisa do Paulista. A fraude foi desmascarada após a classificação do seu time à semifinal. O clube foi eliminado e o atleta acabou suspenso de competições oficiais por 360 dias.



O mundo de Heltton Matheus caiu, mas não por muito tempo. Poucos dias após o turbilhão, o ex-jogador Vampeta, presidente do Osasco Audax, estendeu a mão ao jovem e ofereceu um contrato de dois anos com o clube. Como o zagueiro não pode jogar competições oficiais, Vampeta o emprestou para o Esporte Clube Vai-Vai, time profissional mantido pela escola de samba Vai-Vai, que disputa a Taça Paulista, competição sem vínculo com a CBF. A ausência de laço com a entidade deixa o atleta apto a atuar. Hoje Heltton, que já completou 23 anos, é o capitão do time da Vai-Vai, tendo recebido a braçadeira como prêmio por seu comprometimento nos treinos. Aos poucos a tempestade vai passando, e o garoto aprendeu que ser verdadeiro é a chave do sucesso.

- Ainda existe o rótulo de "Gato da Copinha". É um fardo que vai demorar a apagar, mas está diminuindo. E está diminuindo por eu mostrar às pessoas que não fiz aquilo para prejudicar alguém, eu fiz pela oportunidade que queria ter no futebol. As pessoas antes estavam indo no problema, agora estão indo na raiz do problema. Agora perguntam: "Mas porque ele fez isso?". Antes era: "Ah, o menino que destruiu o futuro de vários outros meninos". Hoje em dia não, é "um cara que fez errado, mas querendo fazer o certo" - disse Heltton, dentro do campo da Portuguesa da Vila Mariana, onde treina o time da Vai-Vai.

A raiz do problema é uma ferida aberta. Os pais de Heltton vivem em condições financeiras complicadas, em uma região carente, o bairro Jardim Catarina, em São Gonçalo (RJ). A mãe está desempregada, o pai trabalha sem carteira assinada. O desejo de um futuro melhor fez Heltton, sozinho, planejar e executar sua mudança de identidade, que vinha ocorrendo desde 2015:

- Eu sonho um dia dar do bom e do melhor para minha família.

Outro sonho na cabeça de Heltton envolve o seu time de infância. O zagueiro não esconde a vontade de defender o Flamengo. E a imaginação voa alto:

- Eu sou flamenguista, vou confessar para vocês. Muitos jogadores não falam, mas eu tenho um carinho muito grande pelo Flamengo. É um clube que eu desejo jogar. Já me imaginei várias vezes, até me editar no videogame com a camisa do Flamengo. Se eu realizar esse sonho um dia, vou ficar muito feliz. Veja a entrevista completa aqui





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