Em meio a uma disputa acalorada sobre a maior torcida do Brasil, o jornalista
Mauro Cezar destaca que o argumento dos paulistas sobre a presença do Flamengo
fora do Rio de Janeiro não se sustenta. "O estado de São Paulo pode liderar o
PIB do país, mas quando se trata de futebol, não é um time paulista que
conquista mais corações e isso causa ciúmes", iniciou o jornalista.
Recentemente, o presidente do São Paulo, Julio Casares, entrou nessa
discussão, afirmando que é impossível para um paulista torcer para mais de um
clube, ao contrário do que aconteceria com torcedores de outros estados (querendo jogar indireta para o Fla).
Casares menciona a influência da Rádio Nacional, que espalhou o futebol
carioca pelo Brasil durante o Estado Novo. No entanto, Mauro Cezar rebate esse
argumento, lembrando que a maioria dos ouvintes da época já faleceu. Além
disso, o jornalista questiona, por qual motivo esses ouvintes se tornariam
torcedores do Flamengo e não de outros times cariocas como Vasco, Fluminense,
Botafogo ou outras equipes que figuravam no Carioca naquela época?
"Casares cita, ainda, a influência da Rádio Nacional, que de fato
expandiu o futebol do Rio de Janeiro pelo país por intermédio de suas
ondas. Mas isso aconteceu durante o Estado Novo, entre 1930 e 1945, e a
maioria daqueles ouvintes já morreu. E por que teriam virado rubro-negros
e não vascaínos, tricolores, botafoguenses? Ou torcedores do São
Cristóvão, Olaria, Bonsucesso... Esses times também figuravam nas
transmissões e o Flamengo sequer era dominante na época, com um só título
na década de 1930" - Disse Mauro.
Outra explicação comum para a popularidade do Flamengo é atribuída à TV Globo,
mas Mauro Cezar ressalta que a emissora surgiu apenas em 1965, quando o
Flamengo já tinha uma grande base de torcedores. Ele cita o histórico Fla-Flu
final do Campeonato Carioca de 1963, com um público de mais de 194 mil
pessoas, como prova da paixão pelo clube antes mesmo da existência da
televisão como a conhecemos.
"Outros atribuem pura e simplesmente à TV Globo a popularidade do
Flamengo. Uma distorção de quem ignora o fato de a rede de televisão ter
surgido em 1965, quando há tempos os rubro-negros já batiam recordes. Como
no Fla-Flu final do campeonato carioca de 1963, quando 194.603 (177.656
pagantes) estiveram no Maracanã. É o maior público da história do futebol
em partidas entre clubes".
Mauro Cezar também questiona a visão de Casares sobre o torcedor são-paulino
que vive fora do estado. Se a lógica do presidente tricolor fosse seguida,
seria necessário perguntar se um são-paulino no Nordeste ou no interior do
Paraná é São Paulo, Maringá ou Londrina. Afinal, há muitos apaixonados pelo
clube que vivem longe da sede.
"Uma pesquisa realizada pelo jornal O Globo em parceria com o Ipec revelou
que 5,5% dos nordestinos torcem para o São Paulo, enquanto no Centro-Oeste e
Norte esse número chega a 5,9%. E quanto aos torcedores do São Paulo no
interior de São Paulo? Eles torcem apenas para o clube da capital ou também
têm paixão pelos clubes de suas cidades? Essa diferença é relevante em
relação aos flamenguistas nordestinos?"
- Questionou o jornalista.
Curiosamente, a pesquisa de 2022 aponta que o Palmeiras foi o clube mais
citado como segundo time, com 1,6%, enquanto o Flamengo registrou 1,4%, o
Corinthians 1,2% e o São Paulo 1,0%. Ou seja, o trio de ferro da capital
paulista detém 4,0% nesse quesito, contra 1,4% do clube carioca.
"Uma curiosidade sobre a pesquisa de 2022. Sabe quem foi mais citado como
segundo time? O Palmeiras! Sim, o campeão brasileiro registrou 1,6%,
contra 1,4% do Flamengo, 1,2% do Corinthians e 1,0% do São Paulo. Em suma,
o trio de ferro da capital paulista detém 4,0% nesse quesito contra 1,4%
do clube carioca. Interessante não?"
Mauro Cezar conclui que ao defender essa tese equivocada, o presidente do São
Paulo coloca em dúvida a paixão dos tricolores que vivem longe da sede do
clube. Assim como os rubro-negros, muitos são-paulinos nasceram a quilômetros
de distância e ainda assim são fervorosos torcedores do SPFC.
O jornalista recorda uma declaração de Casares, quando era diretor de
marketing em 2006, em que ele afirmava que o São Paulo se tornaria a maior
torcida do Brasil em uma década. Já se passaram mais de 16 anos, e essa
previsão não se concretizou, o que indica que a presença do Flamengo além das
fronteiras cariocas é uma realidade inegável e quebrar esse argumento paulista
se torna cada vez mais difícil.
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