O Globo:
A renovação em curso no Flamengo e a presença cada vez mais constante de
jovens como Hugo, João Gomes, Lázaro e até Matheus França na equipe fazem
parte de um trabalho invisível promovido por Paulo Sousa, que promete um
legado que nem Jorge Jesus deixou. Após os treinos é comum ver o português
conversando a sós com alguns desses garotos. Muitas vezes faz trabalhos
técnicos específicos. Em outros, mostra como quer que o atleta se posicione no
sistema de jogo. Há atenção especial e preocupação com o desenvolvimento
coletivo e individual.
Embora a reformulação do estilo de jogo e a busca pelas melhores peças para o
time titular sejam os principais desafios da comissão técnica em quase três
meses, longe do campo de jogo os profissionais dialogam com os do clube para
investir na formação de talentos. E ajudar a diretoria a manter alta a média
de receita obtida com venda de joias para a Europa — fator determinante para o
poder de investimento em reforços.
Multicampeão no Flamengo, Jesus deixou esta lacuna. Não promoveu a base nem
investiu em formação de jogadores e profissionais para lidar com um novo tipo
de jogo, cada vez mais intenso, que também requer tecnologia avançada para
auxiliar na obtenção de resultados. Deixou o Flamengo e levou o conhecimento
aplicado por aqui.
Desde as primeiras conversas com o Fla, Sousa deixou claro que gosta de
conhecer e trabalhar com jovens. O técnico é amigo de analistas de mercado e
observadores de clubes europeus que o ajudam a se manter informado sobre as
novidades no universo das categorias de base.
Assim que chegou, a comissão técnica estrangeira solicitou novas tecnologias.
Algumas já foram incorporadas aos treinamentos e jogos, outras ainda estão a
caminho. O diferencial, no entanto, não está na apenas aplicação delas na
rotina. Tanto técnico quanto auxiliares e preparadores preocupam-se em trocar
informação para que o conhecimento sobre os equipamentos fique no clube.
Os preparadores físicos Lluis Sala e Antônio Gomes fizeram reuniões com
preparadores e fisioterapeutas da base para ensiná-los a operar os
equipamentos e falar sobre metodologias de trabalho, aplicação de ciência e
sua importância para prevenção de lesão e performance. O mesmo foi feito pelo
preparador de goleiros Paulo Grilo.
Lado mental preocupa
Assim que chegou ao clube, Paulo Sousa chamou os auxiliares Manuel Cordeiro e
Victor Sánchez e promoveu reunião com o gerente de futebol Fabinho Soldado, o
gerente técnico Juan, o gerente de transição Carlos Noval e o gerente da base
Luís Carlos. O objetivo era saber mais a respeito da estrutura da base,
metodologias, processos e modelos de treinamento. E, claro, o que poderia ser
aprimorado, como introduzir mais exercícios nos treinos que refletissem nos
jogos.
Nesse contexto, chamou muito a atenção a preocupação com o lado mental. Para o
português, os atletas da base precisam trabalhar forte este quesito desde
cedo, para aguentarem a pressão psicológica dentro e fora de campo. Sousa não
pediu a contratação de um psicólogo e tem feito às vezes deste profissional,
com um mapeamento do material humano à disposição.
Aposta em João Gomes
Ainda na Europa, Paulo Sousa pegou dados sobre atletas do clube. Nos treinos
da pré-temporada, pôde ver muitos deles de perto, quando estavam sob comando
de Fábio Matias. Acompanhou os jogos-treino no CT e as duas primeiras partidas
do Estadual <em>in loco</em>. As observações renderam a promoção
de Matheus França, Cleiton e Noga. Entre idas e vindas do sub-20, Lázaro
também foi efetivado no elenco principal.
Dentre os que já treinavam com Sousa, quem mais o encantou foi João Gomes, que
estava decidido a sair. Com a alegação de que seria importante para o esquema
de jogo, convenceu o volante a ficar. Hoje, Gomes ganha espaço e foi preterido
em relação a Andreas Pereira, que ainda não tem a compra assinada.
Todos os jovens são tratados com a mesma atenção. Recentemente, em decisão
conjunta com as gerências técnica e de transição, Ramon e Matheus França
desceram para um amistoso contra o Olaria, no sub-20. Após o jogo, Paulo Sousa
procurou saber como foi o desempenho de ambos — técnica, física, tática e
mentalmente. Não à toa voltaram a ser relacionados na equipe principal.
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Imagem: Divulgação