Diogo Dantas | O Globo:
O encontro de Renato Gaúcho com Rogério Ceni hoje, no jogo contra o São Paulo,
às 16h, pelo Brasileiro, opõe não somente o atual e o último técnico do
Flamengo. É o retrato dos diferentes estilos de treinadores nos quais o
rubro-negro apostou nos últimos anos, sem conseguir manter um perfil. Foram
cinco em três anos, entre Abel Braga até Domènec Torrent, mas só Jorge Jesus
fez sucesso.
Assim como Ceni, campeão do Brasileiro de 2020, Renato pode sair contestado
mesmo se conquistar a Libertadores, mas os pontos em comum não vão muito além.
Os ex-jogadores, que reconhecidamente carregam certa soberba, ilustram perfis
distintos de profissionais que passaram pelo Ninho do Urubu, segundo relatos
obtidos pelo GLOBO nos bastidores do clube.
Ao analisar o conteúdo dos trabalhos apresentados, Ceni se assemelha mais a
Jorge Jesus e deixa os outros treinadores em outro grupo. O hoje técnico do
São Paulo tem como legado no Rio a imagem de estudioso, com variações de
treinamentos — até porque teve mais tempo para tal. Mister e Ceni, cada um no
seu estilo, eram ranzinzas, mas atentos a detalhes.
Centralizador como Jesus, Ceni só não teve autoridade nem habilidade para
lidar com um grupo de estrelas. No início, chamou os jogadores para próximo de
si, mas depois de um tempo não conseguiu mais contrariá-los e perdeu o
vestiário. O técnico se aproximava de quem ele queria, mas não dava muita
abertura, tinha pouca paciência e não era nada político. As entrevistas
coletivas costumavam revelar estes traços.
Língua da bola
Renato, por sua vez, fala a língua do mundo da bola. Ainda que esse idioma
seja hoje mais rebuscado com a parte tática pouco explorada nas conversas e
vídeos que o técnico apresenta, ele nunca está isolado. Após a vitória sobre o
Bahia, destacou o bom ambiente no dia a dia. A relação com os atletas é boa, a
“resenha” está sempre em dia, mas às vezes o técnico passa um ar de estar
perdido nas ideias — sobretudo para membros do departamento de futebol.
Com Dome ocorreu algo parecido, mas com contornos diferentes. O catalão não
teve capacidade de colocar em prática ideias muito boas. Ficou com muita
teoria e acabou confundindo os jogadores. Foi bem visto ao delegar funções e
defender a comissão do clube no momento de troca de profissionais. Só que
acabou exaltado internamente apenas por ser gente boa. Legado semelhante ao de
Abel Braga no começo da atual gestão, mas o brasileiro ficou mal visto pelas
entrevistas.
A postura nos microfones e no dia a dia fez Ceni ser questionado pela comissão
técnica do clube e pela direção por seu comportamento. Enquanto Renato Gaúcho,
mesmo tendo cobrado recentemente o departamento médico, conseguiu agregar um
pouco mais e blinda a todos nas entrevistas. Chamou o grupo para trabalhar por
um objetivo em comum.
A missão de Renato passou mais por obter resultados em meio a um calendário
apertado e de muitas lesões. E o técnico demonstra mais habilidade para se
segurar até o fim da temporada do que os últimos antecessores. No entanto, já
há uma sensação unânime no Flamengo de que o treinador não é o melhor que o
clube pode ter — seja olhando para o futuro ou para um passado recente de
glórias.
Time mais forte
O Flamengo começará a entrosar de vez, contra o São Paulo, a sua zaga titular
para a final da Copa Libertadores contra o Palmeiras, no dia 27, em
Montevidéu. O zagueiro Rodrigo Caio volta ao time e fará dupla com David Luiz,
que segue entre os principais e terá sequência após boa atuação na vitória
sobre o Bahia.
O técnico Renato Gaúcho também terá o retorno de Everton Ribeiro, que cumpriu
suspensão. Por outro lado, Filipe Luís não viajou e, com isso, Ramon será
mantido na esquerda.
Do lado direito, Matheuzinho volta ao time no lugar de Rodinei, uma vez que
Isla está com a seleção do Chile nas Eliminatórias. O treinador também
promoverá o retorno de Willian Arão e Michael entre os titulares.
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Imagem: Arte O Globo
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