Zico descarta retornar ao Flamengo: "Só torcendo"



Mesmo aos 64 anos, Zico foge do ostracismo futebolístico. Não bastasse ter sido um dos maiores jogadores de todos os tempos, foi ainda treinador, dirigente e até secretário nacional de Esportes — durante a presidência de Fernando Collor, entre os anos de 1990 e 1991. Atualmente comentarista nos canais Esporte Interativo, o ídolo máximo da torcida do Flamengo tem dedicado boa parte de sua energia e de seu tempo ao trabalho. Mas não espere vê-lo na telinha em fins de semana. Estes são sagrados e reservados exclusivamente à família, uma forma de compensar o tempo perdido quando ainda era atleta.


Arthur Antunes Coimbra não é dos personagens mais afeitos a entrevistas. Pelo menos, não de concedê-las. Sobretudo quando está atrasado para palestrar para centenas de pessoas — a convite do Centro Universitário Estácio do Ceará, em Fortaleza, na última segunda-feira. Mas gosta de bater um bom papo, admite. E foi assim que o eterno camisa 10 da Gávea mostrou cortesia e não poupou palavras ao analisar o futebol brasileiro. Ao O POVO, o Galinho criticou veementemente a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e foi assertivo: as federações estaduais devem acabar.

O POVO - Depois dos momentos complicados que o futebol brasileiro passou, como você avalia o atual momento?

Zico - Depois que o Tite assumiu, as expectativas são as melhores possíveis. Espero que a seleção faça uma boa Copa do Mundo e consiga trazer o título. Ele (Tite) readquiriu novamente a confiança do torcedor brasileiro porque, além dos resultados, a seleção está jogando bem, isso que é importante. Mesmo sendo início de trabalho, já vemos a seleção com outro espírito, outro ambiente, e acredito que isso é muito importante para que o Brasil volte a ter uma conquista.

OP - Quais as principais diferenças que você aponta entre Tite e Dunga?

Zico - Eu não faço comparações, mas o Tite deveria ter assumido desde a Copa de 2014. Por méritos, pelas conquistas, pela competência. Por tudo. Já deveria ter sido ele ali.

OP - Como os estrangeiros ainda enxergam o Brasil com respeito?

Zico - Voltou a ter, né? O Brasil é sempre tido com muito respeito pela história. Não foi por causa de um mau resultado que isso acabou de vez. Foi motivo muito tempo de gozação, mas mesmo aquele pessoal que participou disso... Todos estão bem empregados lá fora. Não mudou muita coisa na carreira deles.

OP - E sobre o atual momento de gestão do futebol brasileiro, você acha que...

Zico - Não tem gestão. A CBF (Confederação Brasileira de Futebol) não pode ter gestão de um presidente (Marco Polo Del Nero) que não pode nem sair do País. É possível que muita gente esteja fazendo trabalhos bons. Tem gente boa. Mas enquanto não for decidida a situação do presidente, qual é a realidade, a verdade desse caso... O que não pode ter é, às escuras, uma votação, como a que teve lá, que teve uma mudança que as federações (estaduais) têm mais poderes que os clubes.

OP - O fim das federações e a busca de uma mudança para esse estilo de organização é o primeiro passo para resolver o problema?

Zico - Os clubes é que são os principais responsáveis pelo esporte. Como é que o clube vai ter menos poder que uma federação? Que, ao meu ver, não precisava nem existir mais. Acho que não tem necessidade. Federação não tem por que existir. Em lugar nenhum do mundo existe federação. As federações que existem são como as confederações daqui. Ou é uma ou outra. Seria um grande passo. Porque as federações são simples intermediárias. A federação não pode ser rica e os clubes, pobres, se os clubes são quem fornecem arrecadação. Por que a federação vai intermediar o contrato de um clube com a televisão ou a CBF, por exemplo? Pra ganhar mais dinheiro. Mas por que que tem que ter intermediário?

OP - Divisão de cotas por colocação no campeonato seria o modelo ideal?

Zico - Tudo na vida deve ser por mérito. Se você se esforçou mais, tem mérito maior, chegou primeiro, é porque você fez um bom trabalho, então tem que ganhar mais que quem chegou em último. Que o último trabalhe mais para chegar em primeiro.

OP - Por que isso é tão difícil no Brasil?

Zico - Porque a forma como foi feito isso, há anos, deu toda a condição de que as pessoas se perpetuassem nos cargos. Fiquem mais de 20, 30 anos nos comandos da federação. Tivemos um presidente brasileiro (João Havelange) que ficou 24 anos no comando da Fifa. Será que ele era o único bom pra dirigir a Fifa? (Joseph) Blatter ficou num sei quanto tempo. E esse aí (Gianni Infantino, atual presidente da Fifa), pela tendência, é que também se perpetue lá.

OP - Quais seus planos para voltar a trabalhar diretamente com o futebol?

Zico - Como treinador, fora do Brasil, se aparecer uma oportunidade, não descarto de maneira nenhuma.

OP - Pensa em voltar ao Flamengo? Como treinador ou dirigente?

Zico - Não, não, não. Nada, nada, nada. No Flamengo, só torcendo. Não penso de maneira nenhuma. Estou agora muito feliz fazendo o canal Zico 10, no YouTube, e a gente tá lá investindo muito. Tô muito feliz com isso. Fonte: O Povo




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