'Quero ser conhecido como o meia que ganhou títulos pelo Flamengo', conta Gerson



Gerson não pensou duas vezes quando teve a chance de jogar pelo Flamengo. Mesmo tendo sido revelado pelo Fluminense, foi o coração rubro-negro do meia de 22 anos quem falou mais alto. A Marcão, seu pai e escudeiro, confidenciou que “era a hora de ser feliz” e arrumou as malas de volta para casa.


Ao vestir cores rubro-negras, sabia que precisava superar a desconfiança geral para atingir seu objetivo de chegar à seleção brasileira; algo que está cada vez mais próximo. Enquanto esse sonho não se torna realidade, é possível pensar alto: ser campeão brasileiro e da Libertadores o fará entrar para a história do clube.

São apenas quatro meses de Flamengo, mas suficientes para cair nas graças da torcida — principalmente a mirim. Tudo pelo ‘vapo’, sua famosa comemoração que está sendo imitada por crianças e até pelo presidente Rodolfo Landim. Nem ele esperava tanto sucesso.

Meninos da escolinha de futebol do Flamengo imitam a comemoração do Gerson
Meninos da escolinha de futebol do Flamengo imitam a comemoração do Gerson Foto: Guito Moreto / Agência O Globo


Como se sente sabendo que o ‘vapo’ virou uma febre?

Quando fiz foi algo tão espontâneo que não esperava que fosse ter essa repercussão toda. É bom demais ver a criançada fazendo. Me param sempre para tirar foto e pedem para fazer o sinal do vapo. Mas não são só as crianças não, hein?! O Mister, o presidente... Tá todo mundo entrando na onda do Vapo. Acho que o Vapo hoje significa Gerson e Flamengo. Falam “Vapo” e já ligam ao “Gerson do Flamengo”.


Já conseguiu responder a desconfiança sobre você?

Sempre soube que desconfiança se vence com trabalho. Aqui no Flamengo não seria diferente. Muita gente acompanha o futebol europeu mas só veem os jogos de Barcelona, Real Madrid, Liverpool... Eu cheguei na Europa com 18 anos. Na minha primeira temporada fiz 11 jogos, na segunda 31 e na terceira 40. Era um planejamento para mim. Primeira temporada de adaptação, segunda ter alguns jogos e na terceira jogar com maior frequência. Sabia e sei do meu potencial. Cresci muito taticamente, psicologicamente e de entendimento de jogo. Além disso, entrei em uma equipe fantástica. Os objetivos são os títulos. Voltei ao Brasil em busca deles.


Muitos acharam que você não comemoraria contra o Flu...

Sou grato pelo período que lá estive. Por todos os ensinamentos. A gratidão eu sempre terei. Mas hoje defendo outra equipe. Equipe que torcia quando criança e time da maioria dos meus amigos e familiares. Vivo um momento fantástico na minha vida, jogo no meu time do coração, perto dos meus familiares e com a minha filha podendo viver isso tudo. Quando soube do interesse do Flamengo meus olhos brilharam. Fui muito bem recebido e já me sinto em casa. Não existiam motivos para não comemorar.

Quando voce olha o que está jogando, lembra de que jogador que admira ou admirava?

Eu costumo dizer que tive dois mestres nessa minha curta carreira: Ronaldinho Gaucho, com quem joguei no Fluminense, e Totti, que dividi vestiário na Roma. São dois exemplos para mim. Eu sempre procuro dizer que temos que fazer a nossa própria história. Tenho ídolos? Claro que sim. Mas não me comparo com ninguém. Minha principal meta é ser conhecido como Gerson, meia que conquistou títulos no Flamengo.


Quando notou que precisaria mudar a sua forma de jogar?

No meu período na Itália. Eu sempre costumo falar com meu pai que quero ser conhecido como um atleta que ganhou títulos nos clubes que passar. Título coletivos e individuais. Na Europa ficava muito sozinho e isso me dava a possibilidade de pensar, analisar e buscar evolução. Ficava no campo depois do horário buscando ensinamentos. Entendi que para ser o jogador que eu quero ser precisava evoluir. A partir disso cresci muito. Aprendi a fazer outras funções, meu jogo ficou mais intenso.... Nós só mudamos quando o nosso interior quer. E eu quis. Espero seguir evoluindo. Tenho muito para aprender

Quem te abriu os olhos para a necessidade de mudança?

Meu pai sempre conversou muito comigo. Mas, como falei, acredito que qualquer mudança tem que vir de dentro da gente. E eu entendi que precisava mudar, amadurecer e evoluir. Esse foi o ponto de partida. Não adianta as pessoas ao seu redor quererem se você não quer.


Quando você estava a caminho do Flamengo, se deu conta de que o clube montava uma equipe forte e que não facilitaria a liberação de seus jogadores para a seleção brasileira? Isso pesou de alguma forma? Como vê essa realidade para novas aquisições do clube? O jogador precisa priorizar o Flamengo a seleção?

Sinceramente essa conversa não aconteceu. Os motivos que me fizeram vir ao Flamengo foram a minha paixão pelo clube e a possibilidade de conquistar grandes títulos. Eu não vejo essa divisão de “Flamengo e Seleção”. As duas coisas caminham juntas. O sucesso no clube te leva à seleção. Todos nós temos o sonho de defender nosso país. Todo atleta pensa nisso. Temos um problema de calendário que as pessoas envolvidas estão procurando resolver. Priorizando o Flamengo você chega à Seleção. Não tem um e outro. Os dois caminham juntos. Tanto é que Bruno Henrique, Gabigol e Rodrigo Caio defenderam a seleção esse ano.


Que jogador ou jogadores do Flamengo te surpreenderam mais quando você entrou no time? Fale um pouco sobre quem você mais admira ou tem um olhar especial para a forma de jogar ao seu lado.

São muitos jogadores de qualidade. E não é bobeira não. Olha para o lado tem Rafinha, Rodrigo Caio, Pablo Marí, Diego Alves, Arão, Everton Ribeiro, Bruno Henrique, Gabigol, Diego, Vitinho, Filipe Luís, garotos da base com um talento incrível como Reinier, Thuller, Vinicius... Sinceramente, não consigo falar apenas de um. É um time muito forte e com jogadores de seleção brasileira. Espetacular dividir vestiário e o dia a dia com esses jogadores.

Como foi chegar e ocupar o lugar do Diego, capitão do time e respeitado por todos no elenco?

Uma responsabilidade imensa. Diego vinha desde 2016 como um dos grandes nomes da equipe, como líder em campo e no vestiário, e referência técnica da equipe. Era um dos nossos pilares. Uma fatalidade o ocorrido com ele. Felizmente se recuperou rápido e já está conosco nos jogos. É sempre uma responsabilidade grande “substituir” um ídolo do torcedor. Mas o grupo me recebeu bem e o Mister conversou muito comigo. Temos características diferentes e o Mister sabe explorar muito bem isso.


Seu pai me confidenciou que você entraria no time do Flamengo e arrumaria o meio-campo. Isso foi antes da sua estreia. Você de fato teve esse tipo de pensamento, de que encaixaria perfeitamente na equipe?

Eu tinha a confiança de que poderia somar muito com meu futebol e o meu aprendizado na Europa. Sabia que chegaria pronto para ajudar. Tive a facilidade de encontrar uma equipe com um talento acima da média, uma estrutura incrível e um técnico que sabe formar um conjunto. Esses fatores pesaram muito na minha rápida adaptação.

Sua contratação era um desejo desde o ano passado. Por que você acha que não chegou no começo do ano ao Flamengo?

Existiam outros clubes envolvidos como Roma e Fiorentina. Era, na época, uma negociação muito complicada. Atlético-MG chegou a tentar também mas acabou não acontecendo. Situações normais do futebol. A história estava escrita que teria que ser no meio do ano.


A volta para a Europa hoje é tratada de que forma por você, aos 22 anos?

Sinceramente ainda não pensei nisso. A felicidade em defender meu clube de coração é tão grande que quero desfrutar cada segundo. Quero deixar meu nome marcado na história do clube. Quero levar minha filha ao clube e mostrar a ela que venci jogando no Flamengo. Que marquei meu nome na história do clube. Se um dia acontecer de voltar a Europa, voltarei um atleta muito mais maduro.

Jorge Jesus disse que a forma como você joga hoje tem um pouco do dedo dele. Você concorda? O que ele fez que outros técnicos na Europa não fizeram ao te orientar?

Não tenho dúvida disso. O Mister sabe tirar o máximo de cada jogador. Ele exige muito de nós nos treinamentos. É detalhista ao extremo. Ligado aos pequenos detalhes. É um treinador com um conhecimento fantástico de futebol e que se dedica 24h ao trabalho.


Como foi sua relação com Ronaldinho no Fluminense? E como era vê-lo em ação no Flamengo em 2011, já que você sempre se disse torcedor do time? Ele de alguma forma te incentivou a jogar no futebol da Italia? Deu algum conselho sobre la?

Relação era a melhor possível. Para mim foi um sonho realizado poder jogar ao lado de um grande ídolo e um dos maiores jogadores de futebol do mundo. Ele procurava sempre conversar comigo e os outros garotos da base. Um cara com uma humildade incrível. Acompanhei bem a trajetória dele. Lembro bem daquele jogo contra o Santos e a partida fantástica que fez.


Fonte: https://extra.globo.com/esporte/flamengo/quero-ser-conhecido-como-meia-que-ganhou-titulos-pelo-flamengo-conta-gerson-24070582.html | Foto: Guito Moreto

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