Por Diogo Dantas | Extra:
O Flamengo inicia hoje uma sequência difícil pelo Campeonato Brasileiro, que
tem o São Paulo de Rogério Ceni como primeiro adversário, às 16h, no Maracanã.
E ao rever o técnico que deu ao clube seu último título relevante, justamente
o torneio nacional de 2020, volta à tona um parâmetro que deixa o atual
treinador rubro-negro, Paulo Sousa, em desvantagem.
Internamente, um dos motivos para que a implementação de um novo sistema de
jogo tenha sofrido resistência do elenco do Flamengo foi a falta de habilidade
do português ao lidar com as estrelas da equipe. Ex-jogador e acostumado à
cultura do futebol brasileiro, Ceni teve essa preocupação logo de início.
Aproximou-se das lideranças, entendeu os relacionamentos do grupo e, a partir
de então, implementou suas ideias.
Já Paulo Sousa até tentou dar mais leveza ao dia a dia diante de novas
exigências disciplinares. Só que, entre jogadores, funcionários e direção,
ficou claro o choque cultural, que o levou a impor as ideias e a exercer seu
comando de forma muito vertical, sem tanto espaço para trocas com os atletas.
Até para se firmar no futebol brasileiro, o português tem se preocupado em ser
didático nas explicações à imprensa. Ao grupo, às vezes não é tão detalhista.
Um dos exemplos é a forma como promoveu mudanças e escolheu seus jogadores
titulares. Sempre com um discurso que priorizava o grupo, fez testes, observou
comportamentos com atletas diferentes e em funções distintas. Quando foi dizer
quem jogava, porém, não deu muita explicação.
O caso mais emblemático foi o dos goleiros. Hugo caiu nas graças de Paulo
Sousa e do preparador Paulo Grilo. E, desde que o time principal começou a
jogar, foi o preferido. Diego Alves, que fez história no Flamengo nos últimos
anos, não ouviu satisfações por ter sido barrado.
A leitura mais ruidosa do ambiente levou alguns jogadores a questionarem não
as ideias, mas a metodologia do novo treinador. Andreas Pereira foi um que não
entendeu bem a falta de sequência e o apelo do técnico para o torcedor
poupá-lo de críticas, quando durante os jogos era retirado na primeira falha.
Com Ceni, havia também uma espécie de resistência a cumprir certas
determinações táticas. Houve episódios de questionamentos vindos de Gabigol e
até Pedro. Mas em uma etapa de trabalho com os conceitos mais consolidados
para todos.
O entendimento é o de que, com Paulo Sousa, esse confronto ocorreu cedo
demais, justamente pela comunicação mais truncada. E pelo desconhecimento da
cultura do futebol brasileiro. Mesmo assim, há relatos de que, em outros
trabalhos, na seleção da Polônia e na Europa, o português tenha enfrentado
dificuldade semelhante com outros elencos mais estrelados.
No Flamengo, foi necessário que a direção indicasse respaldo ao técnico depois
do fim do Campeonato Estadual. O vice de futebol, Marcos Braz, admitiu
internamente ao Conselho Diretor que houve dificuldades de adaptação. O clube
pensou em três meses de prazo para os primeiros resultados e desempenhos
convincentes. E o tempo se esgotou. Mesmo assim, houve percepção de melhora na
equipe. Na sexta-feira, Braz voltou a dar declarações públicas de apoio a
Sousa.
— O Flamengo tem técnico. Falei que, se tivesse um paraquedas, eu me jogava
junto com o Ceni. A gente, quando está com um técnico, tem total respaldo. E
não é de agora — disse o dirigente, citando o ex-treinador.
Novas lideranças, como David Luiz e o próprio Gabigol, também fizeram gestos
de apoio dentro e fora do campo. Não era raro observar gols comemorados apenas
entre os atletas, sem irem até o treinador. Recentemente, Gabi teve essa
preocupação. E o próprio Paulo Sousa buscou mais a aproximação. Chamou
jogadores para explicar especificamente o que deseja e evitar rusgas durante
as partidas.
Dois atletas que subiram de produção quando se entenderam melhor com as ideias
do treinador foram Bruno Henrique e Éverton Ribeiro. O primeiro, fora do
clássico hoje por conta de uma inflamação no joelho, passou a atuar mais
aberto do lado esquerdo, só que melhorou nas obrigações defensivas. Já Ribeiro
cresceu muito quando mudou de lado e, como meia direita, teve liberdade de
criar e até voltar a marcar gols.
AUSÊNCIAS EM SÉRIE
O camisa 7 deve ter sequência hoje. Para o lugar de Bruno Henrique, Sousa tem
como opções Pedro, Marinho e Lázaro, que é o favorito. Na defesa, ainda há
ausências. Pablo já se recuperou de lesão e tem treinado com o grupo, mas
ainda não está 100% fisicamente. Já Rodrigo Caio iniciou transição e pode
voltar em maio. Fabrício Bruno e Gustavo Henrique, os últimos lesionados,
ainda não retornam, assim como Matheuzinho. Arão deve ser mantido na defesa
com David Luiz e Filipe Luis. Na lateral direita, Rodinei inicia o jogo.
Após o São Paulo, o Flamengo encara o Palmeiras e o Athletico, testes para
avaliar a evolução de Paulo Sousa e de sua gestão de elenco.
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Imagem: Gilvan de Souza