Por Diogo Dantas | Extra:
Quarenta dias depois da última decisão, contra o Atlético-MG, pela Supercopa
do Brasil, o Flamengo entrou em campo na final do Carioca, contra o
Fluminense, desorientado, e saiu ainda mais.
As escolhas questionáveis de Paulo Sousa se acumulam em dois meses de
trabalho. E a consistência pedida pelo técnico aos jogadores é ignorada por
ele mesmo em muitas de suas decisões. O que tem gerado a tal "falta de
química" citada por Filipe Luís.
Há confiança da diretoria em um processo de reformulação que tem boas ideias,
mas que na prática ainda não vingou, e gera os primeiros questionamentos
justamente num contexto de maior rivalidade.
O cenário após a derrota no Maracanã era de um ambiente ruim para o português.
Mesmo assim, não houve cobrança da cúpula do futebol no vestiário, nem aos
jogadores, nem à comissão técnica.
— A questão não é cobrança. Ainda tem outro jogo. Não é o resultado que se
imaginava, mas ainda tem 90 minutos. Tem que ter calma e tranquilidade dentro
do possível, sem ficar na inércia, pra poder chegar e reverter esse quadro.
Vamos esperar sábado para ver o que faz —, declarou o vice de futebol Marcos
Braz.
A impressão interna é que a relação do dirigente com os atletas já não lhe
permite se indispor. No caso do diretor Bruno Spindel e dos gerentes Fabinho e
Juan, há apenas o acompanhamento dos processos, nenhuma postura que coloque em
xeque o que é feito.
No jantar da delegação estádio, semblantes fechados e silêncio. Os atletas
saíram quietos ao lado de familiares. Internamente, Paulo Sousa atribuiu o
desempenho ruim a uma arbitragem que deixou o Fluminense picotar o jogo.
No vestiário, o lateral-esquerdo Filipe Luís disse que o esquema não tem
apresentado a química necessária e concordou que a defesa fica exposta em
muitos momentos por erros individuais.
— Nosso time ele consegue chegar, criar chances, talvez não esteja sendo
avassalador como a torcida espera, aquela chuva de ocasiões, de chances.
Talvez ainda falte um pouco de química nesse sistema, que a gente está
encaixando. Mas só o tempo, mais jogos e mais finais pra poder reverter.
O técnico respondeu, e novamente apontou a necessidade de haver a entrega dos
atletas ao que é proposto.
— Primeiro dar confiança e ser consistente nos processos. Não é pelos maus
resultados que temos de mudar tudo. Para ter química precisamos ser
consistentes naquilo que fazemos. Precisamos manter para termos mais
convicções individuais e coletivas para atingirmos o auge da qualidade — disse
Paulo Sousa, que seguidamente atribuiu as dificuldades de os atleta
assimiliarem as ideias com razão para o encaixe ainda longe do ideal.
O foco agora é no trabalho nos treinos nesta quinta e sexta para recuperar a
confiança até sábado, na tentativa de reverter um placar de 2 a 0 fruto da
crescente desorganização do Flamengo.
Sem uma 'cara'
São nove vitórias, dois empates e duas derrotas em 13 jogos em 2022 sob o
comando de Paulo Sousa. O aproveitamento não esconde uma equipe que oscila, e
um técnico que ainda não se mostra convicto em suas escolhas. Na prática, elas
têm confundido alguns jogadores e lhes tirado a confiança.
A "cara" de time que se anunciava ao longo da fase de classificação do
Estadual ficou desfigurada a partir dos clássicos com o Vasco na semifinal.
Foram duas vitórias magras e atuações apagadas. No empate diante do Resende a
situação já se anunciava.
Classificado para a decisão, o Flamengo teve 10 dias de treinamento sem jogos
no meio do caminho para, enfim, aprimorar os conceitos e encaixar melhor as
peças. Sem Arrascaeta, na seleção uruguaia, e com Bruno Henrique em
recuperação, surgiram as "surpresas".
Marinho, que apareceu para o futebol nacional atuando pelo lado direito,
ganhou nos treinos a vaga de ala pela esquerda, com obrigações táticas que até
agora não conseguiu entregar. Sobrou disposição, faltou conexão com as ideias
da equipe.
Já Vitinho, que quando entra em campo no decorrer dos jogos às vezes
surpreende, voltou ao modo padrão. Era toda hora chamado por Paulo Sousa para
orientações e não se encontrou por dentro, ao lado de Gabigol.
Houve outras decisões sem muita explicação que tiraram os jogadores da zona de
maior conforto. Além de não iniciar com Bruno Henrique, já recuperado, Paulo
Sousa barrou Lázaro, jovem que vinha sendo utilizado com frequência na ala
esquerda. Quando o lançou, foi do outro lado, no lugar de Matheuzinho.
Éverton Ribeiro, que começou o ano na função, atualmente voltou para a ponte
direita, mas não rende e tem sido substituído com frequência.
Algoz da derrota, o canhoto Léo Pereira entrou do lado direito, e se viu
sozinho em lance no qual David Luiz abandonou o setor para ir ao ataque. A
falha foi fatal e decisiva para o resultado final. No segundo gol, o erro
começa com Willian Arão, que mesmo questionado não reveza com outros volantes
como em outras posições.
Todas essas modificações táticas acontecem com uma dose de improviso. Os
jogadores não sabem ao certo quem vai jogar em que jogo, em qual posição, e
acabam surpreendidos como a torcida.
O técnico tem a "chave" do Ninho do Urubu no que se refere ao processo de
reformulação. É dada a ele a liberdade de fazer as escolhas na expectativa por
uma evolução em até três meses de trabalho. O que ainda não aconteceu. Das
contratações até agora, pediu a compra de Thiago Maia, que joga pouco, um
ponta esquerda, o zagueiro Pablo e um goleiro. O Flamengo anunciou Ayrton
Lucas para jogar de ala-esquerdo e na ponta. Marinho e Fabrício Bruno foram
oportunidades que o clube identificou no futebol brasileiro.
Com um elenco em reforma gradual, Paulo Sousa implementou sua filosofia dentro
e fora de campo, e o diagnóstico é que ela funcionará com tempo para que o
trabalho mostre seus frutos. Até aqui, eles não apareceram. E a temporada com
calendário apertado não permitirá mais oportunidades para que se lapide as
ideias em busca de uma equipe consistente e que encante. Duas caracaterísticas
que estão longe de marcar este Flamengo comandado pelo português até agora.
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Imagem: Divulgação
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