A chegada de Renato Gaúcho ao Flamengo traz de volta um perfil de trabalho
visto pela última vez no clube com Abel Braga, primeiro treinador da atual
gestão, em 2019, e curiosamente plano B da diretoria, que priorizava Renato na
ocasião. Desde então, o Flamengo se acostumou com a importação não só de
treinadores, como de comissões técnicas inteiras.
Com Rogério Ceni, técnico mais jovem e com inspiração europeia, só que barato,
seguiu-se o mesmo estilo: além do treinador principal e um auxiliar, vieram
preparador físico e um analista de desempenho. Nada que se compare aos oito
portugueses trazidos por Jorge Jesus.
Renato e o seu fiel escudeiro Alexandre Mendes concentram, na dupla, todas as
funções distribuídas no futebol atual. O comandante é o chefe em si, mas tem
uma forma de lidar que parece igualá-lo aos próprios jogadores.
A "boleiragem" ajuda a motivar e a conquistar rapidamente a confiança do
elenco. Com Alexandre Mendes fica a responsabilidade por pensar de forma mais
detalhada os treinamentos e as questões táticas.
No primeiro dia de Flamengo, isso se provou. Alexandre não saiu do lado de
Renato. E falou bastante durante a atividade de campo. Renato conversou com os
atletas e com os profissionais do clube - preparadores, massagistas, etc - com
quem ficaram os demais trabalhos de campo. Fora das quatro linhas, as
informações foram buscas pelo técnico junto a dirigentes e ao ex-zagueiro
Juan, uma espécie de gerente de futebol muito ligado aos atletas.
A dupla Renato e Alexandre, que iniciou o trabalho no Fluminense, seguiu junta
no Grêmio, onde teve o maior sucesso com a mesma receita. Depois Renato
convidou Vitor Hugo para ser um segundo auxiliar. O profissional, que desta
vez foi vetado pelo Flamengo, foi preparador de goleiros do clube antes de
trabalhar com o técnico, e ficou marcado pela má fase de Alex Muralha.
No Sul, Renato indicou ainda um preparador de goleiros auxiliar, que ficou no
Grêmio depois de sua saída. Por lá, a dupla Renato e Alexandre funcionava da
mesma forma. Os coletivos eram comandados pelos dois ao mesmo tempo.
A circunstância financeira do Flamengo encaixou com esse tipo de trabalho do
novo técnico. Já que paga mais do que pagava a Ceni, o corte veio na comissão
técnica. Por isso Maurício Souza foi promovido do sub-20 e Marcelo Sales
retornou. Ambos baratos.
A chegada de Renato atende também a uma marca desse Flamengo. De ter uma
diretoria que não interfere no trabalho dos treinadores diretamente. Não
acompanha de perto as decisões técnicas e não interfere nas mesmas. Desde Abel
Braga, não há espaço para que os dirigentes criem relação e intimidade para
pedir explicações dos técnicos sobre o que será trabalhado dentro das quatro
linhas. O que abre espaço para uma gestão no início muito próxima, mas que com
o passar do tempo deixar o treinador por conta de si mesmo. Renato lida muito
bem com isso e tem perfil centralizador. Atua no contato com departamento
médico, nas negociações, e tem pulso para agir no vestiário.
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Fonte: https://oglobo.globo.com/esportes/com-renato-gaucho-flamengo-muda-perfil-da-comissao-tecnica-25105584
Imagem: Alexandre Vidal