Saiba os motivos que deixam Gerson fora da seleção brasileira principal




A agenda do Flamengo para as próximas duas semanas está pesada. Nesta quarta-feira (19) entra em campo no Maracanã, contra a LDU-EQU, para confirmar a classificação às 8ªs de final da Conmebol Libertadores. Na sequência decide o Campeonato Carioca no sábado (22), diante do Fluminense, e depois fecha a participação na fase de grupos do torneio sul-americano contra o Vélez Sarsfield-ARG. Sem descanso, estreia no Campeonato Brasileiro contra o Palmeiras dia 30.



Por conta dessa maratona, o clube entrou em acordo com a CBF para adiar os jogos pela Copa do Brasil e pelo Brasileirão durante a próxima data Fifa, entre os dias 31 de maio e 8 de junho. Quatro jogadores rubro-negros, no entanto, seguirão atuando. Éverton Ribeiro e Gabriel Barbosa foram convocados por Tite para a seleção brasileira que enfrenta Equador e Paraguai pelas eliminatórias para a Copa do Mundo. O terceiro chamado não estará no grupo principal. Gerson, em meio à negociação de transferência para o Olympique de Marselha, foi lembrado por André Jardine para a seleção olímpica, o que gerou enorme repercussão - o atacante Pedro é o quarto, também chamado por Jardine.

O meio-campista de 23 anos é um dos destaques do futebol brasileiro desde quando retornou da Itália, onde atuou por Roma e Fiorentina entre 2016 e 2019, após ser negociado pelo Fluminense. Foi peça determinante no histórico time comandado por Jorge Jesus e segue como um dos mais influentes atletas com Rogério Ceni. Gerson possui histórico de negativas a convocações para seleções de base. Pré-olímpico de 2019, após jogar o Mundial de Clubes pelo Flamengo, e pedido de dispensa do Mundial sub-17 em 2013 estão na lista. Mesmo assim, apesar da polêmica surgida há dois anos, o jogador jamais esteve "vetado" pela seleção principal. Os motivos para sua ausência são, acima de tudo, táticos e técnicos, ou seja, opção da comissão técnica.



Tite trabalha com cinco atletas por posição, em média.  Lista elaborada pelo treinador com seus auxiliares e analistas de desempenho, Cléber Xavier, Matheus Bachi, César Sampaio, Thomaz Araújo e Bruno Baquete. O responsável pela avaliação física e constante troca de informações com os clubes brasileiros e estrangeiros é Fabio Mahseredjian. Não são todas posições, atualmente, que contam com cinco opções reais para convocações. No caso do segundo meio-campista, sim.

Os 'rivais' de Gerson

Gerson disputa com Douglas Luiz (Aston Villa), Fred (Manchester United), Arthur (Juventus) e Bruno Guimarães (Lyon) duas vagas entre 23 convocados. A cada lista preparada, características da própria equipe e do adversário são levadas em conta para a elaboração final, que sempre acontece na manhã das sextas-feiras, dia tradicional de convocação da seleção brasileira. Cada um desses cinco jogadores possui qualidades e defeitos na visão da comissão técnica.



Douglas é o titular atualmente e responsável pela variação tática na fase defensiva do Brasil. Começou jogando nos quatro jogos da seleção pelas eliminatórias e nos últimos três desempenhou função determinante no meio-campo. O jogador do Aston Villa trabalha por dentro, na faixa central, quando o time tem a posse de bola a partir de um 2-3-5 ou 2-2-6, dependendo da função de um dos laterais (construção por dentro ou apoio e amplitude). Quando a equipe faz a recomposição defensiva, variando do 4-4-1-1 para o 4-4-2, é Douglas quem se desloca do centro para a esquerda. A movimentação que foge do padrão tático tradicional nessas variações e será mantida para os confrontos com Equador e Paraguai ocorre por um principal motivo: Neymar.

O que Neymar tem a ver com isto?

O atacante do PSG já atuou em diferentes posições e teve variadas funções com Tite e outros treinadores. Nos últimos meses, no entanto, está muito claro para a comissão técnica a necessidade de ter Neymar com pouca responsabilidade na recomposição defensiva. "Arco e flecha", como descreve Tite, o atacante no atual esquema tem liberdade para atacar da esquerda para dentro, com movimentação total. Sem a bola, ajuda na pressão imediata no campo adversário, mas não baixa com as linhas. Já na recuperação da posse, está menos desgastado para fazer a transição e buscar as jogadas de um-contra-um. Essa é a ideia trabalhada, na teoria e na prática, pela comissão técnica nos treinos e nos jogos - mesmo nos dois últimos das eliminatórias, quando Neymar não esteve em campo.



Esse é um primeiro ponto negativo de Gerson na avaliação atual. A exigência defensiva dessa função no atual esquema não se encaixa no perfil do atleta. No Flamengo o jogador trabalha na faixa central com e sem a bola, sem a necessidade de fechar o lado do campo na segunda linha - algo necessário na seleção. Ele ainda precisa ser testado com a camisa do Brasil jogando assim, justamente para a comissão confirmar a impressão que possui decorrente de avaliações dele pelo rubro-negro.

Douglas, obviamente, não está na seleção apenas pela consistência defensiva. É titular do Aston Villa, faz boa temporada pela Premier League e possui ótima inversão de jogo na avalição da comissão técnica, além de ser capaz de atuar na função de primeiro meio-campista, como fez contra o Uruguai, na ausência de Casemiro e Fabinho. Ele, no entanto, não estará disponível para a partida contra o Equador, no próximo dia 4, em Porto Alegre. Suspenso, deve dar lugar a Fred, titular do Manchester United. Convocado para a Copa do Mundo, mas indisponível durante o torneio por lesão, o meio-campista está de volta à seleção pelo ótimo desempenho na temporada inglesa e pelas funções que consegue desempenhar.



A questão defensiva é preenchida por Fred, acostumado no próprio United a coberturas pelo lado na segunda linha de marcação. Além disso, possui outra característica superior a Gerson, considerando uma disputa direta: aceleração. Enquanto o jogador do Flamengo segura mais a bola, gera muito contato, Fred acelera bem mais o jogo com o pé direito ou esquerdo, sem a necessidade de ajustar tanto o corpo. Além disso, a comissão técnica já conhece muito bem Fred, cinco anos mais experiente que Gerson e atuando na melhor liga nacional do mundo.

Já Arthur e Bruno Guimarães, também ausentes nesta convocação da seleção principal, possuem estilos diferentes na disputa por um lugar entre os 23 convocados. O meio-campista da Juventus, titular na última Copa América, oferece a Tite um jogo apoiado forte, consegue circular bem a bola. Já o jogador do Lyon, na lista da seleção olímpica, tem maior qualidade no apoio ao ataque, com chegada na grande área. Ambos, assim como Gerson, possuem enorme qualidade técnica, mas devem na recomposição defensiva pelo lado esquerdo, já que pela direita o responsável tem sido Richarlison ou Gabriel Jesus, com Everton Ribeiro ou Philippe Coutinho - e agora Lucas Paquetá - por dentro ao lado de Casemiro.



Tite jamais pensou em punir Gerson. Mas há as declarações de Juninho Paulista e Jardine 

O coordenador de seleções, Juninho Paulista, alimentou as teorias de conspiração sobre Gerson na seleção principal com a declaração dada em 2019. "Tem que saber os momentos, né? Eu acho que tudo é levado em conta, não só o aspecto técnico. A gente olha todo o aspecto. O técnico é o principal, mas tem também o comprometimento, a disponibilidade e o foco. Tudo isso a gente leva em consideração". Tite e membros da comissão técnica jamais pensaram em punir Gerson. Posteriormente, Branco, coordenador de seleções de base, garantiu em entrevista ao SporTV que não houve punição em convocações futuras.

Jardine, no entanto, na coletiva de imprensa após a última chamada, deixou claro entender que o jogador do Flamengo errou. "A gente acredita que o erro faz parte. Nós erramos muito, os jogadores erram. A gente espera realmente que o Gerson tenha amadurecido. É um passado talvez até distante para ele. Vejo ele num momento maravilhoso, não só técnico, mas também comportamental, muito maduro no que faz. Fui em alguns jogos in loco observar, em alguns momentos até exclusivamente ele. Senti dele um jogador muito maduro, concentrado naquilo que faz, muito focado em conquistar títulos, em decolar na carreira. Já manifestou para nós o desejo de jogar em qualquer seleção."

Não há "acordos" de liberação de jogadores para a olímpica por parte da seleção principal, por mais que o trabalho seja alinhado e o convívio entre as equipes na CBF harmonioso - trabalham em salas lado a lado. Os 24 jogadores convocados por Tite são exatamente os 24 que ele queria levar, entre todos disponíveis. Jardine monta a sua equipe com os "outros", o que ainda lhe garante enorme qualidade. Será responsável por uma conversa com Gerson sobre a necessidade de acelerar mais o jogo. A comissão técnica de Tite avalia, inclusive, que o jogador do Flamengo foi muito bem nesse quesito na partida contra o Fluminense, pela ida das finais do estadual.

A chamada, agora, para a seleção olímpica surge como grande oportunidade para Gerson mostrar que merece uma vaga no time que jogará as Olimpíadas e que pode fazer, também, o papel que Tite espera dele na equipe principal. Qualidade para ser jogador da seleção brasileira já está evidente que Gerson tem.


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Fonte: http://www.espn.com.br/blogs/gustavohofman/786857_tatica-aceleracao-neymar-e-concorrencia-os-motivos-que-deixam-gerson-fora-da-selecao-principal
Imagem: Alexandre Vidal

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