Por Rodrigo Ravache | Uol: Quem viu o Amazon Prime na camisa do
Flamengo no último final de semana no jogo do rubro-negro contra o Palmeiras,
na Supercopa, pode ter se surpreendido. Mas a ação é parte da ambiciosa
estratégia da gigante de e-commerce para dominar o streaming de esportes no
mundo e acelerar seu crescimento em diversas frentes de negócios.
Transmissões de esportes são uma maneira de atrair novos assinantes para o
Prime, mas a ambição vai além. A empresa também é a maior compradora de mídia
do mundo, na frente de gigantes de consumo como Unilever e P&G. Então, a
Amazon pode usar os intervalos comerciais para vender seus próprios produtos,
como a Alexa.
Mas vender espaços publicitários para outras empresas é um caminho ainda mais
rentável e a Amazon tem crescido rapidamente nesse segmento. Muito se fala
sobre o domínio de Google e Facebook no mercado de publicidade digital, mas
quem cresceu mais rapidamente nesse setor nos últimos anos foi a Amazon. A
empresa já é a terceira maior vendedora de publicidade do mundo, e segundo
relatório da eMarketer, continuará ganhando mercado dos líderes Google e
Facebook, um sinal de que as marcas estão cada vez mais se voltando para o
gigante do comércio eletrônico para ajudá-los a alcançar o crescente número de
compradores online.
No ano passado, a receita de anúncios da Amazon nos EUA cresceu para US$ 15,73
bilhões, um aumento de 52,5% em relação a 2019, estima a eMarketer. A Amazon
também oferece a venda de publicidade dentro de sua plataforma IMDB TV, onde
aumentou investimentos em programação exclusiva. Já anunciou o spinoff da
série "Bosch" e avalia outras extensões na TV IMDB dos programas da
Prime.
A loja virtual do seu time
Uma peça central no quebra-cabeça da Amazon para dominar os esportes no
streaming foi a compra por US$ 1 bilhão (por ano) do "Thursday Night Football"
e seu cobiçado horário comercial, substituindo a Fox Corp. a partir de 2023. A
compra faz parte do novo acordo de direitos de mídia da NFL fechado no início
deste ano. É de longe o maior negócio já realizado pela Amazon no streaming. O
Prime já transmite esportes em outras partes do mundo, mas a NFL é o esporte
mais popular no maior mercado publicitário do mundo, é o intervalo comercial
mais caro do planeta.
A Amazon também tem expandido a programação de partidas de futebol europeu que
oferece a seus assinantes do Prime, incluindo partidas selecionadas da Premier
League do Reino Unido, a liga mais popular do mundo. No início deste ano a
empresa negociou uma oferta pelos direitos da Série A do campeonato italiano,
mas a Amazon buscava um pacote limitado, com apenas alguns jogos na semana,
semelhante aos acordos com a Premier League e NFL. A liga italiana não aceitou
por preferir que todas as transmissões ficassem concentradas em uma
plataforma.
O esporte, apesar da queda de audiência que enfrenta nas TVs, ainda é
imbatível para reunir pessoas e sua atenção. As transmissões esportivas
representam mais de 85% das maiores audiências nos Estados Unidos. No Brasil,
segundo o YouTube, em 2020 a final da Taça Rio, disputada entre Fluminense e
Flamengo, em julho, liderou o ranking dos Vídeos em Alta de 2020, com um pico
de 3,6 milhões de acessos simultâneos na Flu TV, canal do clube carioca no
YouTube, que exibiu a partida. A live foi a maior audiência em transmissão
simultânea do YouTube no mundo. Na sequência dos vídeos mais assistidos em
2020 vem outro jogo do Flamengo na Taça Rio. Esses recordes de audiência
ajudam a explicar a escolha do Flamengo pela Amazon.
Outra linha de negócio é a venda de produtos dos times. A NFL anunciou no
final de março uma parceria com a Amazon para trazer milhares de produtos
oficialmente licenciados para a gigante do varejo, um movimento que pode
transformar o bilionário mercado de equipamentos para fãs.
Até agora, a variedade de produtos oficiais da NFL à venda na Amazon era
bastante limitada. Agora, NFL expandirá sua oferta de tudo, de réplicas de
camisas, bonés até produtos usados. Grande parte dos produtos na loja online
oficial da NFL também estará disponível na Amazon. As marcas incluem NFL Pro
Line, Fanatics, New Era e Outerstuff. A Nike, parceira da NFL, não foi
incluída no acordo e não vai vender seus produtos da NFL na Amazon, mas boa
parte dos demais parceiros, entrou.
À medida que traz mais usuários para sua plataforma, a Amazon também reúne
mais dados sobre seus clientes, o que torna sua capacidade de vender anúncios
segmentados e produtos cada vez maior.
Quanto mais venda de produtos e verba de anunciantes a Amazon atrai, maior sua
capacidade de reinvestir na compra de direitos esportivos. Uma das limitações
das transmissões esportivas são seus altos custos. O que sempre deu vantagem
aos grandes grupos de TV, agora se torna uma vantagem para as empresas de
tecnologia, que além de ter melhor capitalização, possuem alcance
global.
Videogame também é esporte
Um negócio gigantesco e menos visível da Amazon é o Twitch, sua plataforma de
streaming de jogos. Ele hospeda 91% de todo o streaming de videogame,
superando os concorrentes do YouTube e Facebook. Em menos de uma década, o
Twitch se tornou uma das plataformas mais populares da internet, atendendo a
mais de 2 milhões de telespectadores a qualquer hora do dia. Existem 7 milhões
de streamers que se transmitem jogando videogame todos os meses - quase o
dobro do que havia antes do início da pandemia. Unir a experiência de esportes
digitais e reais é outro potencial caminho para a Amazon.
A Amazon não está sozinha. Facebook, YouTube (do Google), Spotify e até o
TikTok não querem ficar para trás. O Facebook e o YouTube há tempos realizam
transmissões esportivas e o Spotify dias atrás comprou o Locker Room, app de
áudio focado em conversas com fãs de esportes. A ideia é expandir o Locker
Room para ir além dos esportes e concorrer com o app de salas de conversa
Clubhouse, mas a audiência esportiva já está lá.
O TikTok é o curinga nesse mercado. A rede social recentemente transmitiu uma
partida da Copa do Nordeste entre Ceará e CSA. Foi o primeiro jogo transmitido
pelo TikTok na história, como noticiou Danilo Lavieri, colunista do UOL. A
partida teve 634 mil espectadores no total e a conta oficial da Copa do
Nordeste na plataforma ganhou 65 mil seguidores no dia da transmissão. O vídeo
de maior visualização alcançou 3,2 milhões de acessos. Para o TikTok as
transmissões ao vivo são uma oportunidade de alavancar o live commerce, a
venda de produtos em transmissões ao vivo no online. A modalidade é uma febre
na China, país de origem do TikTok, e movimenta bilhões.
Roda do sucesso
Após ler o livro "Empresas Feitas para Vencer", de Jim Collins, Jeff Bezos,
fundador da Amazon, teria desenhado em um guardanapo uma roda para ilustrar
como seria o efeito Flywheel da Amazon. Sua ideia era reproduzir o modelo do
volante de inércia descrito na obra de Collins, como as grandes rodas usadas
em motores. No tuíte abaixo, a imagem que estaria no guardanapo de Bezos.
This @JeffBezos napkin sketch works too
— David Perell (@david_perell) January 25, 2017
(via @BenedictEvans) pic.twitter.com/Q0RaFs1VFd
A entrada do Prime nos esportes é uma extensão dessa roda da Amazon. Ter os
maiores campeonatos trará uma melhor experiência, o que atrai mais
consumidores, com mais consumidores, mais dados. Mais consumidores e dados,
mais possibilidades de ganhar com as vendas de assinaturas, produtos e
publicidade. E com mais dinheiro, mais caixa para comprar os direitos dos
melhores campeonatos. Assim, a roda gira e a Amazon cresce. No Brasil não será
diferente e o Flamengo é um ótimo candidato para entrar nessa roda da
Amazon.
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Fonte: https://www.uol.com.br/splash/colunas/guilherme-ravache/2021/04/14/o-plano-da-amazon-para-dominar-os-esportes-no-streaming.htm
Imagem: Mateus Bonomi/AGIF
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