Mauro Cezar: "VAR, quando acerta, não beneficia time, só evita que outro seja beneficiado"



Por Mauro Cezar | Uol: A utilização de vídeo pelas arbitragens de futebol no Brasil criou uma nova fábrica de divergências. Mas há lances nos quais não sobra espaço para discussões depois de revistos pelo VAR, mesmo com a insuportável demora brasileira. Mesmo assim, há quem "fabrique" polêmica onde não há. Entre torcedores é compreensível, embora em muitos casos beire o ridículo, mas não faz sentido que reclamar de acertos ou debater se é certo corrigir erros.


No fim de semana passado dois jogos em especial tiveram intervenções eletrônicas que geraram debates. Sábado, o segundo gol anulado do Botafogo contra o Internacional foi dado por Thiago Duarte Peixoto, o árbitro de campo, que voltou atrás após ser chamado pelo de vídeo, José Cláudio Rocha Filho. Era um lance de interpretação, para alguns Babi não fez falta em Patrick na origem da jogada, para outros o botafoguense cometeu a infração.



Nadine Bastos, a comentarista de arbitragem da transmissão, disse que validaria o gol, por não ter visto intensidade no contato entre os jogadores. Ela não marcaria falta. Lance interpretativo, certo? Se o apitador estava bem colocado (e estava, até a CBF avaliou que sim), por que não prevaleceu o que achou da disputa? Por que o homem do vídeo o chamou para, digamos, convencê-lo do contrário? Qual a explicação para uma intervenção em lance de interpretação acompanhado de perto pelo que estava lá, no gramado?

Domingo, o segundo tento anulado do Santos diante do Flamengo teve o cruzamento de Marinho indo direto para o gol. Contudo, na trajetória da bola houve uma espécie de corta-luz de Jóbson, que tentou, sem sucesso, cabecear a pelota. Na (demorada) checagem do VAR, o árbitro de campo (Wilton Pereira Sampaio) foi acionado pelo homem do VAR (André Luiz de Freitas Castro), correu até o monitor e concluiu que o santista, impedido, tentou participar da jogada e atrapalhou Diego Alves.



Na hora, esse que vos escreve discordou da anulação, por entender que há uma diferença entre o que vimos e aquela jogada na qual o atacante, em impedimento e na trajetória da bola, obstrui a visão do goleiro. Mas minha tese não combina com as recomendações vigentes dadas aos árbitros. Sálvio Spínola, na TV Globo, inicialmente disse que o gol deveria ser validado, pois estava observando se Jóbson tocara o braço na pelota, e depois concordou com a decisão. Motivo: a ação do santista, que, em impedimento, tentou a cabeçada. No Pay-Per-View, Sandro Meira Ricci teve a mesma opinião.

Conclusão: tecnicamente a arbitragem acertou, o que independe do que eu ou você achamos dessa regra. Ela vale, está em vigor. É semelhante à atual recomendação para que seja marcado pênalti se o jogador abrir o braço dentro da área, ampliando a área de ação, e a bola bater nessa região do corpo. Há quem goste, concorde, e os que detestam tal critério. Mas ele vale.


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Óbvio que é muito frustrante ter um, dois gols anulados assim. Evidentemente as reclamações iradas de torcedores são compreensíveis, mas reações inconformadas com a correção de erros não fazem sentido entre os profissionais que trabalham com o futebol. É absurdo discutir se é certo corrigir um erro. Quem levanta um tema desses deveria ser mais direto, objetivo, honesto, e se assumir contra o VAR.

Quando a arbitragem de vídeo entra em ação e acerta, mesmo que leve muito tempo, ela não beneficia time algum, mas, sim, evita que um deles seja beneficiado por um erro que seria levado adiante se não houvesse o vídeo no futebol. Tratar como "ajuda" uma correção é o mesmo que zombar da inteligência alheia, forçar a barra numa discussão sem nexo, fazer barulho por nada. Fica mais feio e constrangedor do que a demora do VAR.


Fonte: https://www.uol.com.br/esporte/futebol/colunas/mauro-cezar-pereira/2020/09/02/var-quando-acerta-nao-beneficia-time-so-evita-que-outro-seja-beneficiado.htm

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