A ideia de Domènec que explica a distância entre Gabigol e Bruno Henrique no Flamengo



Por Leonardo Miranda | GE:
Responsáveis por 60 gols no mágico ano de 2019, a dobradinha entre Bruno Henrique e Gabigol pode estar com os dias contados. Como deu para ver na suada vitória sobre o Santos na Vila Belmiro, os dois estão jogando em setores diferentes e não mais juntos, como uma verdadeira dupla de ataque.


Pode parecer invencionice quebrar algo que deu tão certo, mas calma! Dome tem uma ideia e um plano por trás dessa distância entre os dois.

Quem mais mudou de posição foi Bruno Henrique, que agora é um ponta-esquerda mais fixo no lado. Já Gabigol continua na referência do ataque, mas sozinho. Tudo começa na mudança do esquema tático: o Flamengo joga no 4-3-3 com Dome, e não mais no 4-1-3-2/4-4-2 de Jorge Jesus.


Na Vila, a mudança que mais chamou a atenção foi o meio-campo, com Gérson de primeiro volante, Thiago Maia mais à frente e Arrascaeta como um interior, nome espanhol para a função do volante que vai de área a área. Vai ser normal o Flamengo mudar seu time titular nas partidas. Éverton e Arão, por exemplo, não começaram jogando.

Meio-campo do Flamengo foi diferente do habitual — Foto: Reprodução/Léo Miranda
Meio-campo do Flamengo foi diferente do habitual — Foto: Reprodução/Léo Miranda

O rodízio de Dome tem o objetivo de condicionar melhor os jogadores. Já a ideia tática será a mesma em todos os jogos. O 4-3-3 do Flamengo se desmancha e forma uma espécie de 2-3-5 no ataque, com os laterais jogando mais por dentro e uma linha de cinco jogadores colados entre a defesa e o meio-campo do rival.


O nome desse conceito é ataque posicional

Nele, é importante que todo mundo assuma uma posição - daí o nome "posicional" com o objetivo de deformar a defesa do oponente. Um dos principais mecanismos para desorganizar o rival é ter dois jogadores bem abertos na mesma linha do campo. Eles têm a função de atrair o lateral do adversário e desproteger a defesa, abrindo espaço para que o meia do lado apareça livre.

É por isso que Bruno Henrique ficou longe de Gabigol: ele foi esse ponta que ficava aberto e chamava Pará para marcá-lo. A linha de defesa do Santos ficava com apenas três jogadores e deixava o espaço entre o zagueiro e lateral livres. Era onde Arrascaeta, Thiago Maia e até Gabigol apareciam, como na imagem.

Ataque posicional do Flamengo contra o Santos — Foto: Reprodução/Léo Miranda
Ataque posicional do Flamengo contra o Santos — Foto: Reprodução/Léo Miranda

Ter um ataque posicional não significa que os jogadores irão ficar estáticos no campo. É um jeito mais fixo de jogar do que com Jorge Jesus, cuja filosofia não tem exatamente um nome. Mas as movimentações acontecem normalmente.


Se a jogada acontece no lado esquerdo, então Michael - o ponta da direita - precisa ficar aberto só até o Flamengo superar a marcação. Depois ele pode correr para a frente e preencher a área, virando uma opção para finalizar a bola. Gabigol tem total autorização para inverter de posição com alguém e buscar a bola de Gérson como ele fazia. O importante é sempre manter a ideia de ter cinco jogadores para desorganizar a linha do rival.

Movimentação do Flamengo no ataque — Foto: Reprodução/Léo Miranda
Movimentação do Flamengo no ataque — Foto: Reprodução/Léo Miranda

O ataque posicional do Flamengo é uma ideia muito importante para Dome. Foi assim que o New York City FC jogou e assim que o Flamengo jogou seu primeiríssimo jogo com o novo técnico, contra o Atlético-MG. Lembra das substituições que deixaram "cinco atacantes" em campo? A ideia era justamente ter cinco jogadores para desorganizar o Atlético, que tinha três zagueiros e se defendia num 5-3-2. Era assim que o Bayern jogava, com Robben, Ribery ou Douglas Costa bem abertos e Lahm e Alaba por dentro.

Ataque posicional do Flamengo contra o Atlético-MG — Foto: Reprodução/Léo Miranda
Ataque posicional do Flamengo contra o Atlético-MG — Foto: Reprodução/Léo Miranda

Veja como era diferente com Jorge Jesus 👇

Flamengo não fazia ataque posicional com Jorge Jesus — Foto: Reprodução/Léo Miranda
Flamengo não fazia ataque posicional com Jorge Jesus — Foto: Reprodução/Léo Miranda

Com JJ, o Flamengo tinha uma outra referência. A ideia não era posicionar jogadores num determinado espaço para desorganizar o rival, mas sim concentrar jogadores perto da bola para criar várias triangulações e usar a velocidade como fator para romper linhas. É por isso que Gabigol e Bruno Henrique fizeram tantos gols juntos: eles eram rápidos, variavam entre o centro e o lado e conseguiam correr nas costas dos zagueiros. Era impossível parar.


O que Dome tenta colocar não é nem melhor, nem pior que JJ. É diferente. É uma outra ideia. Mas o que vemos no jogo não são as ideias, mas sim a execução delas

O nome ideia vem de "ideal": algo que existe só na imaginação, não na realidade. O jogo não é feito de ideias, mas sim da execução delas. Do quanto os jogadores conseguem compreender um conceito e aplicá-lo durante o jogo. Todo conceito tem um objetivo, que só é atingido quando o time consegue cumprir direitinho o que é treinado.

É provável que o Flamengo continue sendo um time em formação até ano que vem, quando Dome terá sua primeira pré-temporada. O que aconteceu com Jesus não vai se repetir. Dome reconhece que o Flamengo já tem a ideia de jogo na cabeça de todo mundo. O que falta é executá-la de maneira rápida, quase que automática, para ela chegar ao objetivo final - que é o mesmo com todos os treinadores no mundo: a vitória.


Jogamos 30% do que treinamos, é normal. Todos os jogadores estavam focados e temos todos que melhorar, o técnico também. Não é como ligar e desligar a luz. Todos os técnicos no mundo precisam de tempo, não só Dome. Acho que fisicamente estamos melhor, taticamente todos compreendem melhor, mas não é automático. Talvez em duas, três semanas será muito melhor. - Dome Torrent

Por enquanto, o Flamengo continua engatinhando. Ao menos uma certeza: a distância entre Bruno Henrique e Gabigol não é um erro ou uma invenção. Faz parte do novo Flamengo que Torrent está construindo.


Fonte: https://globoesporte.globo.com/blogs/painel-tatico/post/2020/08/31/a-ideia-de-domenec-que-explica-a-distancia-entre-gabigol-e-bruno-henrique-no-flamengo.ghtml

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