Futebol ofensivo, jogo bonito, títulos e atletas valorizados. Há muito mais semelhanças entre os estilos e os trabalhos de Renato Gaúcho e Jorge Jesus, personagens principais antes do início da semifinal da Libertadores, hoje, entre Grêmio e Flamengo, às 21h30, em Porto Alegre.
Depois de duas passagem em que livrou o clube gaúcho do rebaixamento, a atual ficou marcada por dar fim a um jejum de 15 anos sem títulos relevantes, que começou em 2016, com a Copa do Brasil. Em 2018, Renato figurou na 28ª posição no ranking da revista Four Four Two de melhores técnicos do mundo.
Já o português Jorge Jesus, 65, completou três meses no comando do Flamengo. Com contrato somente até junho de 2020, tem a missão de repetir o feito de Renato no Grêmio: erguer taças de grandeza incontestável já no primeiro ano, especialmente o bicampeonato da Libertadores, que o rubro-negro não vence desde 1981.
Citado por Renato como ganhador apenas em seu país, Jesus chegou a duas decisões de Liga Europa com o Benfica, em 2013 e 2014, mas de fato ainda não ergueu taças internacionais em 30 anos de carreira. Mesmo assim, neste período foi considerado o 8° melhor do mundo, segundo a Federação Internacional de História e Estatísticas do Futebol ( IFFHS).
Com dez anos a menos de trabalho, o ídolo de Flamengo e Grêmio se revezou em clubes do Rio antes da primeira passagem no Sul, em 2010. Embora tenha conquistado a Copa do Brasil de 2007 com o Fluminense, foi no tricolor gaúcho que Renato alavancou a carreira e encontrou sua melhor versão, para buscar o sonho da seleção brasileira.
- Renato Portaluppi talvez não tenha a quantidade de estudo e teoria de Jorge Jesus, mas a força do combo de resultado e desempenho do seu trabalho no Grêmio o coloca no patamar dos melhores treinadores onde também está Jesus - afirma Mauricio Saraiva, comentarista do SporTV.
- Jesus reproduz no Flamengo sua ideia de jogo que desenvolveu no Benfica. Tenho dúvida se o Renato conseguiria levar para outro clube o que ele faz no Grêmio. Mas Jesus tem mais a provar. Renato é mais longevo e tem conquistas pelo caminho - compara Nicolas Wagner, da Rádio Grenal.
Em seu principal trabalho, Jorge Jesus trouxe títulos para o Benfica, mas também muito dinheiro, cerca de 200 milhões de euros - mais de R$ 1 bilhão. É quase o que Renato Gaúcho fez no Grêmio, em proporções menores, ajudando o clube a arrecadar na faixa de R$ 300 milhões com a revelação de talentos ao longo de três temporadas.
A principal negociação do clube gaúcho foi Arthur, que rumou para o Barcelona, por R$ 148 milhões. O Grêmio ainda vendeu Pedro Rocha, Walace, Jaílson, Marcelo Grohe e o jovem Tetê, que nem chegou ao time profissional. Everton Cebolinha foi a última grande grife de Renato, que já havia ajudado Luan a chegar à seleção. Mas a dupla permanece no Grêmio, dando retorno em campo.
4132 x 4231: Como jogam os times de Jesus e Renato
Não há dúvidas que Flamengo e Grêmio jogam o fuebol mais bonito do Brasil. Questionados, Jesus e Renato puxaram a brasa para suas sardinhas, mas novamente a principal diferença entre os trabalhos é o tempo. Ao ampliar a análise dos conceitos implementados em campo, no entanto, o técnico português tem mais bagagem.
- Estas proezas não são por acaso. Fez no Benfica e no Sporting, mas também nos clubes pequenos. Ele revolucionou o futebol português. Como admirador do Cruyf, tentou se basear nele, e conseguiu revolucionar - explica Rodrigo Cortez.
- As equipes dele dão mais espetáculo, jogam futebol mais ofensivo. Sempre tem uma nota artística - acrescenta o jornalista.
Hoje, o Grêmio de Renato Gaúcho faz algo parecido. Mas nem sempre foi assim. Segundo a imprensa gaúcha, Renato bebeu do trabalho de Roger Machado e deu alguns toques no início. Resolveu o problema na bola aérea e instaurou marcação individual. No início, tinha volantes menos construtores, como Walace e Jailson, até passar a jogar com Arthur e Maicon, e Michel e Matheus Henrique. O mérito do treinador foi se adaptar ao material humano que tinha. E aperfeiçoar o esquema 4231.
O fato de o técnico ter decidido morar em um hotel em Porto Alegre por três anos já pesa a seu favor, uma vez que ainda tem casa em Ipanema, no Rio.
- Renato mudou de patamar como treinador na atual passagem. Houve uma mudança de comportamento em relação às outras passagens. Isso se reflete na maneira como ele conduz o time no campo e nos resultados. Está há três anos em Porto Alegre levando a sério a carreira de técnico, com objetivo de treinar a seleção. Tomou gosto pela carreira - lembra Camila Nunes, da Rádio Gaúcha.
- Soube jogar mais fisicamente, na bola aérea, como contra o Godoy Cruz. Mais fechado como contra o River na última semifinal. Já abriu mão de centroavante. Entrou com três zagueiros. Soltou laterais. Mostra um repertório técnico e tático maior. Se ele é forçado a jogar de outra maneira, consegue, troca peças - explica Olivier.
Fora de campo, Renato Gaúcho e Jorge Jesus ostentam uma liderança incontestável. A disciplina e o controle do vestiário são pontos-chave dos dois trabalhos.
No Grêmio, Renato divide as atividades com o elogiado auxiliar Alexandre Mendes, mas o comando é seu. Já chegou a multar Everton e Geromel por levarem cartões desnecessários. Já entrou em atrito com o departamento médico para ter jogadores lesionados antes do prometido.
Os episódios de discussão com Rafinha se tornaram corriqueiros, e o lateral deixou claro que os jogadores mais experientes têm liberdade para contestar e opinar, mas seguirão a determinação em prol do Flamengo.
Fonte: https://extra.globo.com/esporte/flamengo/as-semelhancas-diferencas-entre-renato-jesus-personagens-da-semifinal-entre-gremio-flamengo-23988390.html | Imagem: UESLEI MARCELINO / Agência O Globo
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