Doping social? Entenda o caso de Guerrero e veja outros episódios no futebol brasileiro



O atacante peruano Paolo Guerrero foi flagrado pelo uso de "doping social" no último 5 de outubro, dia em que Peru e Argentina empataram sem gols, pela eliminatória sul-americana para a Copa do Mundo de 2018. Mas o que é "doping social". Quais os riscos que o atacante corre?

De acordo com o advogado Américo Espallargas, especializado em doping e também direito desportivo, "doping social" é apenas "força de expressão".

"Não existe no conceito jurídico doping social. É uma nomenclatura usual, mas tecnicamente não existe. As pessoas se referem a isso porque está relacionado a substâncias de uso recreativo. Mas a lista da Wada [Agência Mundial Antidoping] não trata nenhuma substância como uso recreativo", disse para o ESPN.com.br.

Substâncias de "uso recreativo" podem ser estimulantes, mas também maconha, crack, cocaína etc.

Mas, mesmo que o exame aponte o uso de uma das substâncias citadas acima, a pena não será mais dura para Guerrero.

"Pelo código da Fifa, a pena padrão é quatro anos de suspensão. Ela pode sofrer redução e litigações. Como foi um teste de doping em uma competição da Fifa, a jurisdição deste caso é totalmente da Fifa. Então, o que se aplica é o código antidopagem da própria Fifa", disse Espallargas.

Guerrero já foi punido com suspensão preventiva de 30 dias até o julgamento. Não poderá atuar pelo Flamengo nem pela seleção peruana. Ou seja, perderá os dois jogos contra a Nova Zelândia pela repescagem para a Copa de 2018, em 11 e 16 de novembro.

Caso seja mesmo confirmado o uso de substância proibida pela Wada, a pena final pode ser amenizada por dois fatores.

"O efeito da substância significou melhora ao desempenho do atleta? Beneficiou o atleta na hora de competir? Isso é levado em conta na hora de fazer a avaliação da pena", disse Espallargas. "No caso do Guerrero podemos considerar que ele é um jogador que tem experiência internacional, já jogou em vários clubes do Brasil e do exterior, é um jogador de seleção e, me parece, nunca teve um problema dessa magnitude na carreira. É um fato que pode contar em beneficio dele".

Por fim, o especialista acrescentou que a seleção peruana não corre risco algum de punição. "O sujeito da aplicação das regras do doping é o atleta. Clube ou seleção não ficam envolvidos. Não correm qualquer risco".

Após conversar com Fernando Solera, autoridade antidoping, Gabi Moreira traz informações sobre o caso

Casos de "doping social", com supostamente é o de Guerrero hoje, não são inéditos no futebol brasileiro. Eles começaram a ser descobertos nos anos 1990. Possivelmente o atacante Dinei foi o primeiro com teor mais pesado: cocaína.

Mas até casos de uso de maconha, como o do lateral direito Jura, da Inter de Limeira, em 1999, vieram a tona. O ESPN.com.br separou cinco episódios ocorridos no país. Confira abaixo alguns dos selecionados:

Dinei (Coritiba), em 1996

Único jogador a ter conquistado três títulos de Campeonato Brasileiro pelo Corinthians, o atacante Dinei, então com 25 anos, foi o primeiro jogador no Brasil a ser flagrado por uso de cocaína. Isso ocorreu quando defendia o Coritiba, em 1996. Foi em jogo contra o Juventude, em 11 de agosto.

O jogador nem sequer contestou o exame. Admitiu ser usuário e foi suspenso com pena máxima: 240 dias. Na época o caso repercutiu de forma bem negativa, deixou o atacante bem abalado e parecia que as portas no futebol se fechariam. Mas ele relembrou para o ESPN.com.br como se recuperou.

O médico Marco Aurélio Cunha, que hoje é coordenador da seleção brasileira feminina, mas na época trabalhava no Coritiba, o ajudou a combater a dependência química. Ao mesmo tempo, José Macia, o Pepe, ex-ponta direita do Santos de Pelé, o convidou para recomeçar a carreira na Inter de Limeira.

"Eu fiquei uns dois meses numa clínica porque a CBF disse que a minha pena cairia pela metade, para quatro meses. Lá tinha um psicólogo, que fazia terapia e perguntou: ‘Você está no fundo do poço, onde você quer chegar na sua vida, Dinei?' Eu respondi: 'Quero voltar ao ‘Corinthians'. Ele mandou eu colocar um objetivo na minha cabeça e foi o que eu fiz, então posso dizer que o Corinthians me salvou também", declarou Dinei.

De fato, Dinei renasceu. Voltou a jogar em 1997 e em 1998 já estava no Guarani. Ao terminar o Campeonato Paulista daquele ano, tinha marcado sete gols pelo time campineiro. Foi aí que a "Gaviões da Fiel", principal organizada do Corinthians, o ajudou a voltar ao clube, mesmo não sendo o favorito do treinador.

"O Vanderlei Luxemburgo disse que queria um centroavante, mas que as opções eram primeiro o Muller e depois o Evair. Se não desse certo, ‘pode ser o Dinei'. Foi isso que ele respondeu. Os caras da 'Gaviões' falaram para o Vanderlei que a torcida não queria nem Muller, nem Evair, que queria o Dinei", recordou.

Ele voltou ao Corinthians, clube onde tinha iniciado a carreira, em 1998. E foi importante para a conquista do Campeonato Brasileiro. Repetiu a dose em 1999 e eternizou seu nome na galeria de ídolos do clube do Parque São Jorge.

Lopes (Palmeiras), em 2000

O meia Lopes, do Palmeiras, sempre negou ter feito uso da substância, mas ele foi flagrado no jogo contra o Atlético-MG, em 22 de novembro de 2000, em partida válida pela Copa João Havelange, pelo uso de cocaína.

E não teve colher de chá: acabou suspenso por 120 dias, a pena mínima na época.

Aos 21, Lopes cumpriu a pena contrariado. Como dito acima, ele sempre negou ter consumido cocaína. O Palmeiras deu todo o suporte necessário ao jogador e chegou até a renovar o contrato com ele. Problemas extracampo, quando ele já havia cumprido a pena, contudo, dificultaram sua vida no futebol.

Ele permaneceu no Palmeiras até 2002, quando fez parte da campanha que rebaixou o time pela primeira vez. Depois passou por Flamengo, Fluminense, Santos, Cruzeiro e Atlético-MG, para citar apenas os grandes clubes em que jogou.

No ano passado, aos 38 anos, ele estava no Volta Redonda.

Dodô (Botafogo), em 2007

O atacante defendia o Botafogo quando o exame antidoping acusou o uso da substância fenproporex (anfetamnina) na urina dele. O controle antidopagem foi feito em 14 de junho de 2007, após o time alvinegro vencer o Vasco por 4 a 0, pelo Campeonato Brasileiro.

Inicialmente foi punido pelo STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva) com uma suspensão preventiva de 30 dias. Depois, no primeiro julgamento, foi unânime ao aplicar pena de 120 dias de suspensão. No entanto, acabou absolvendo Dodô após recurso do Botafogo.

Mas o atacante não se livrou tão facilmente. A pedido da Fifa/Wada, a CAS (Corte Arbitral do Esporte) julgou o caso e, em 11 de setembro de 2008, suspendeu Dodô por dois anos, o liberando para retornar aos gramados apenas em 7 de novembro de 2009 (levou-se em conta parte do tempo do processo).

Vale lembrar que, quando a suspensão foi anunciada, Dodô estava sem clube. Após cumprir a pena teve dificuldade para conseguir outra equipe, o que ocorreu somente em dezembro de 2009, quando assinou com o Vasco; Jogou apenas a temporada de 2010 pelo Cruzmaltino. Depois passou por Portuguesa, Americana, Grêmio Osasco e Barra da Tijuca, já em 2014, quando pendurou de vez as chuteiras.

A substância encontrada na urina de Dodô foi fruto de uma capsula de café desenvolvida pela nutricionista do Botafogo e dada aos jogadores. Apesar de ter tido "culpa" no caso, o Botafogo não recebeu punição alguma.

Jobson (Botafogo), em 2009

Aos 21 anos, o atacante Jobson, responsável por manter o Botafogo na Série A do Brasileiro em 2009, deu positivo no exame antidoping para cocaína. Ele foi flagrado em duas partidas: em 8 de novembro (Coritiba) e em 6 de dezembro (Palmeiras). No julgamento, ele confirmou o doping, mas disse que consumiu outra droga.

"Eu fumei crack, e não foi a primeira vez. Eu uso desde aquela época [que defendia o Brasiliense, em 2008], mas nunca nunca caí no doping", disse Jobson durante o julgamento no STJD, em 19 de janeiro de 2010, sem confirmar dependência. "Utilizei mais de uma vez, por isso não posso dizer se sou ou não".

Inicialmente foi suspenso por dois anos, mas teve a pena aliviada ainda no decorrer de 2010. Ela foi reduzida para seis meses. Retornou aos campos em 20 de julho de 2010. Novamente com a camisa do Botafogo.

Sem repetir o bom desempenho de antes e com muitos casos de indisciplina, iniciou uma peregrinação pelos clubes de futebol do Brasil. Foi emprestado ao Atlético-MG, ao Bahia, ao Grêmio Barueri e ao São Caetano. Teve até uma experiência internacional, jogando pelo Al-Ittihad, da Arábia Saudita.

Foi no país árabe que recebeu a segunda punição por doping na carreira, em 24 de abril de 2015. Dessa vez por ter se negado a fazer o exame: quatro anos de suspensão. A vida de Jobson se converteu a partir de então em um verdadeiro drama.

Em 23 junho do ano passado, foi acusado de estuprar quatro adolescentes na cidade de Araguai, interior do Pará. Ficou detido até 2 de setembro de 2016, quando teve a fiança paga e ganhou o direito de responder a acusação em liberdade. Voltou a ser preso em 5 de junho deste ano e até hoje está detido.

Mike (Fluminense), em 2013

O atacante Mike, de apenas 20 anos, foi flagrado no exame antidoping pelo uso de cocaína em 6 de abril de 2013, dia da vitória do Fluminense (seu clube) sobre o Resende por 2 a 0. O jogador até fez o primeiro gol do confronto.

Ao jornal Extra, o Fluminense confirmou na época que o jogador assumiu ter usado cocaína e até dispensou o exame de contraprova.

Ele foi julgado em 5 de setembro de 2013 e suspenso por 16 meses - ele já havia cumprido 110 dias de suspensão preventiva até o anúncio da sentença.

Posteriormente, a pena foi reduzida para cinco meses e 18 dias. Mas a vida de Mike não foi mais a mesma...

Foi emprestado para outros clubes (este ano estava no Boavista) e chegou a sofrer um acidente de carro, batendo a cabeça e tendo um traumatismo craniano.

Fonte: http://espn.uol.com.br/noticia/740392_doping-social-entenda-o-caso-de-guerrero-e-veja-outros-episodios-no-futebol-brasileiro





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