No Flamengo, Jesus experimenta o que Sampaoli já viveu no Santos



Para as pretensões do Flamengo de conquistar o Brasileiro, a distância de oito pontos para o líder Santos parece assustadora. É reversível, porque o rubro-negro tem algo que falta à equipe do argentino Jorge Sampaoli: fartura de talentos no elenco. Mas sobra aos santistas justamente o que o português Jorge Jesus ainda não tem: conhecimento total de elenco, do ambiente competitivo do país e tempo para implantar todas as suas ideias.



Mais do que os resultados do domingo, a forma como foram obtidos mostra o quanto Flamengo e Santos vivem momentos distintos, embora as caminhadas dos dois times tenham traços familiares.

Em futebol não há milagre, e parte do que Jesus vive no Flamengo já foi vivido por Sampaoli no Santos. A implantação de um trabalho autoral, com mudanças de comportamentos habituais no Brasil — em especial a linha defensiva — e exigência de intensidade máxima em meio a três competições, tudo isso já cobrou um preço no Santos. Houve oscilações, eliminações em duas copas e jogos em que o sistema não funcionou, como na goleada de 4 a 0 aplicada pelo Palmeiras.

Neste domingo, foi o Flamengo que flertou com o constrangimento em Salvador. Há similaridades, embora o contexto em que Jorge Jesus inicia o trabalho seja ainda mais hostil. Tenta se adaptar ao Brasil não num Estadual, mas em meio a Campeonato Brasileiro e mata-matas de Libertadores e Copa do Brasil.



Não é simples estabelecer uma relação de causa e efeito, mas enquanto mudava métodos de treino e adotava um modelo de jogo fisicamente exigente, viu lesões se sucederem. Jesus vive uma realidade nova num campeonato em que são raros os jogos que se pode vencer dosando forças. Comedido ao poupar jogadores, tem dado muitos minutos em jogos seguidos até aos recém-chegados da Europa, como Gerson, Rafinha e agora Pablo Marí. Ontem, Filipe Luís estreou ainda fora de sua melhor condição num jogo em que o Flamengo pareceu sem vigor.

Parecem traços de um processo de conhecimento de elenco e do país. Porque, em campo, o Flamengo teve jogos de padrão tático alto com Jesus. Mas aí entra outra questão: após preparar um time durante o recesso da Copa América, o português praticamente teve que abandonar o campo de treino, tantos são os jogos. Torna-se difícil corrigir erros de execução do modelo. Ontem, a linha defensiva adiantada, somada à falta de pressão no meio-campo e à falta de iniciativa do goleiro Diego Alves para jogar mais adiantado, foram fatais no primeiro gol. Num trabalho recente, padrões podem ser perdidos rapidamente.



Agora, haverá duas semanas livres. Tempo para tentar crescer, enquanto o líder do campeonato é um time em pleno funcionamento. O notável é que o Santos está longe de ter um elenco no padrão de Flamengo e Palmeiras, por exemplo. O que valoriza ainda mais o trabalho de Sampaoli, um dos grandes nomes deste Brasileiro, seja ou não campeão.

Seu time tem compromisso inegociável com o ataque e esbanja variação e ousadia. Os laterais, por exemplo, são multiuso. Na direita, Victor Ferraz costuma se juntar ao volante, ajudando na armação pelo meio. Jorge auxilia na saída de bola, mas pode ser mais um armador ou até um meia ofensivo. Há jogos em que Sampaoli usa um zagueiro como lateral e mantém três homens atrás ao atacar. Em outros, ataca num 2-3-5. É comum ver o time ter cinco homens atacando a área rival. Já o uruguaio Sánchez pode atacar pelo centro ou pela ponta, alternando com Derlis González. As opções são múltiplas, e o coletivo ajuda individualidades a crescerem de nível. Sampaoli não tem sequer um ano de clube, mas usa o tempo a seu favor, com ótimo trabalho. O Santos é agradável de ver, é eficaz e é líder. Sampaoli faz bem ao Brasileirão.


Fonte: https://oglobo.globo.com/esportes/no-flamengo-jesus-experimenta-que-sampaoli-ja-viveu-no-santos-23854697

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