Extra:
Nos últimos quatro anos, o Flamengo tem sido uma verdadeira maratona na vida
de Bruno Spindel. Triatleta até os 22 anos, quando parou por conta de uma
hérnia de disco severa, o executivo usa a expertise que adquiriu no mercado
financeiro para manter a reputação alcançada pelo rubro-negro no mercado. Com
a abertura da janela de transferências hoje e a busca contínua por reforços,
cresce a expectativa sobre a atuação do carioca nascido no Leme:
— Tem que conseguir fazer o Flamengo ser campeão sempre, não adianta um ano
só. Existem metas para não colocar o clube em risco, mas o objetivo é ser
eficiente, agressivo, para ganhar títulos — afirma.
O jeito tímido revela um incansável negociador. Na mesa, o diretor de 46 anos,
que tem no Flamengo a primeira experiência no futebol, é de perfil arisco com
os números, e costuma fazer com que o outro clube e o atleta cedam, dando a
certeza de que o rubro-negro honrará o combinado.
— A gente prefere ter mais desgaste nas discussões do que assumir compromissos
que não podemos cumprir, com empresário e jogador. Ir até o fim, negociar,
para chegar num termo que o clube possa honrar, em vez de prometer e não saber
como pagar — conta. — Essa reputação deu um trabalho do cacete para construir,
e a gente sabe o valor que tem. Isso virou um patrimônio.
Cobranças em casa
Foi assim que o Flamengo chegou ao acerto com Everton Cebolinha, e será também
com Wendel e Walace, os alvos do momento.
A dedicação a si próprio é rada em época de janela de transferências.
Recentemente, Bruno recorreu a medicamentos para emagrecer. O histórico de
atleta e a rotina estressante o levam a comer, segundo o próprio, até quatro
pratos em uma refeição. Nos últimos exames médicos, porém, tudo estava em
ordem. Mais do que a cobrança dos torcedores do Flamengo, o diretor também
ouve em casa. A mulher, que é jornalista, foi atleta de nado sincronizado.
Apesar de entender a necessidade, se incomoda um pouco quando o
vice-presidente de futebol Marcos Braz liga de madrugada. A relação entre os
dois se tornou chave para o sucesso das operações.
— Eu e Braz estamos o tempo todo se falando, o dia inteiro, 50 vezes por dia,
3h, 4h da manhã. Liga a hora que for, muito aberto, direto, sem frescura. Fala
um para o outro o que tem que falar. A gente se completa — conta Spindel, que
na divisão de tarefas fica mais focado nos detalhes dos contratos.
— Tudo que está ligado à gestão é o que eu tenho mais qualificação para fazer,
fora o comprometimento. Não tem hora, não tem dia. Tem que abrir mão de muita
coisa. As pessoas não tem noção de quão duro é em termos de disponibilidade de
tempo. Minha família sofre, mas me dá apoio, é até surpreendente, me emociona.
Engenheiro de formação, Bruno trabalhou de 1998 a 2012 no mercado financeiro,
e foi sócio de um fundo de investimento antes de ser chamado para o marketing
do Flamengo. Cresceu dentro do clube, virou CEO e, na atual gestão, surgiu o
convite para o futebol, no dia do seu aniversário, em janeiro de 2019.
Inspiração em Nadal
Desde então, passou a ser o guardião do orçamento. Antes disso, o envolvimento
com o esporte existia, mas nada de futebol. Spindel jogava vôlei e tênis, além
de correr e pedalar. Tanto que sua maior inspiração é um atleta das quadras
obcecado por vencer.
— Nadal é um exemplo de tudo que você pode buscar de excelência. Acho muito
bacana esse lado dele de resiliência, profissionalismo, comprometimento, força
mental. Aquilo para mim é inspirador — revela.
No escasso tempo vago, Bruno não recorre ao tênis. Tenta correr, por vezes bem
cedo, no Ninho do Urubu, quando os atletas ainda não chegaram. Uma das
preocupações do executivo no cargo é respeitar o espaço de seus comandados.
— Não misturo. Se é um momento que não tem treino lá, chego 6h30, não tem
ninguém no CT, só o Deni (massagista). Esse é um cara especial, trabalha muito
— diz o diretor, atento a cada ligação durante a conversa que precede a
abertura da janela de transferências:
— É o momento de mais incerteza na agenda. Já são 24h, sete dias por semana
disponível. Posso estar aqui, tocar o telefone, sair, pegar minha mala, ir
para o Galeão e ir embora.
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Imagem: Divulgação
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