Por Rodrigo Mattos | Uol:
A Liga de Clubes do Brasil teve seu estatuto aprovado e assinado por oito
times, dos 40 times das Séries A e B. A discordância de equipes sobre a
divisão de dinheiro de TV e da Segundona impediu uma adesão plena: outros 14
times da Série A divulgaram carta (veja no final) explicando porque não
entraram no grupo. Mas por que que os times decidiram iniciar mesmo com um
grupo menor à espera de adesões? Como fica o cenário se persistir a
divergência?
O grupo de seis clubes - Flamengo, Corinthians, Palmeiras, Santos, São Paulo,
Red Bull Bragantino - entende que não dav mais para ficarem parados. Assinaram
com a empresa Codajás que desenvolveu a estrutura da Liga, juntamente com
advogados indicados pelos times.
Com o modelo pronto, enviaram o documento para os 20 clubes da Série A.
Juntamente com Cruzeiro e Ponte Preta, assinaram o estatuto para ter um ponto
de partida mesmo que, posteriormente, atraiam os outros times. É um princípio
do que ocorreu em outras ligas como a Premier Legue, que começou com um grupo
de Big 6, formado pelos seis maiores clubes da época. A ideia é atrair os
outros.
Houve discordância por parte do grupo Forte Futebol, que reúne 10 clubes da
Série A, por conta da divisão do dinheiro da TV. A proposta dos grandes clubes
é de 40% igual, 30% por premiação e 30% de engajamento de torcida. Está no
anexo ao estatuto, mas não é obrigatório. É uma premissa que os clubes ainda
têm que aprovar.
A aposta dos seis clubes é de que os outros times entrem no grupo e topem
discutir as cotas dentro da própria Liga. Mas, entre os grandes clubes, há uma
premissa de que terá de haver algum critério por audiência e torcida, não dá
para ser totalmente igual.
Inicialmente, clubes como Atlético-MG e Vasco deram sinalizações de que podem
aderir. Grêmio e Inter também seriam possibilidades de entrar no grupo.
Mas, no final do dia, houve a carta dos14 clubes, incluindo o Atlético-MG,
Inter, Fluminense e Botafogo e mais o grupo Forte Futebol - com Fortaleza,
Ceará, Athletico, Atlético-GO, Juventude, Goiás, Cuiabá. Deixaram claro que as
concessões feitas pelos outros clubes não foram suficientes: consideraram como
aquém.
Há críticas a três pontos: 1) percentual da divisão igualitária, querem que
seja 50% 2) critério de premiação, querem uma diferença menor entre o primeiro
e os últimos 3) critério de engajamento por torcida, querem entender como
funcionará. A posição é de que, sem mudanças, não assinarão a Liga. O caso
terá de ser resolvido até o dia 12 de maio quando está prevista uma reunião da
Liga na CBF.
Caso esses clubes não aceitem aderir à Liga, o grupo de seis clubes paulistas
e Flamengo formará um bloco econômico para negociar seus direitos em conjunto.
Esses times, juntos, terão 24 jogos do Flamengo, 24 jogos do Palmeiras, 24 do
Corinthians, do São Paulo.
Do outro lado, o movimento Forte Futebol teria, neste momento, metade dos
jogos da Série A. Entre eles, estariam 10 jogos do Flamengo, 10 do
Corinthians, 10 do São Paulo, etc. Seria as partidas em que os times do Forte
Futebol têm mando de campo. Esse grupo pode se ampliar caso Atlético-MG,
Fluminense, Botafogo e Inter decidam negociar com os outros. Seria também um
pacote valioso.
O cenário ainda não está claro. Ou o Brasil terá uma Liga de fato para
organizar o Brasileiro, ou terá dois grupos econômicos negociando contratos em
separado pelos direitos da competição. Seria a substituição da fragmentação de
negociações individuais.
Carta de 14 clubes da Série A:
"Os clubes signatários receberam, na última sexta-feira, a convocação para
a reunião realizada nesta terça-feira (03/05/2022) em São Paulo, com o
objetivo de discutir os termos da criação da Liga de futebol profissional
brasileira.
Os clubes prontamente se dispuseram a comparecer ao encontro, a despeito da
convocação emergencial, demonstrando, com isso, que estão absolutamente
cientes e engajados na formalização da entidade, com ampla adesão das Séries
A e B.
Entre as muitas razões para a formação da liga está a premente necessidade
de se elevar o nível de qualidade do futebol brasileiro, resgatando seu
protagonismo no cenário mundial. O caminho para alcançar este objetivo é,
sim, a construção de um campeonato forte, com clubes revitalizados e um
padrão de equanimidade nas condições de disputa.
A ideia da liga tem o mérito de prever maiores receitas para os clubes, que
poderiam conviver em um ambiente mais equilibrado financeiramente. Porém, as
condições apresentadas para a incorporação das agremiações à Liga ainda não
permitem exatamente o cumprimento do objetivo principal, que é a busca de
uma equanimidade entre os clubes.
O documento apresentado e por ora assinado apenas por alguns Clubes
apresenta regras de distribuição de receitas que pouco reduzem a atual
disparidade de divisão de receitas. Há sim ali uma redução da diferença, mas
ainda aquém do ideal, o que pode ser facilmente atingido por meio do
diálogo.
Entre as várias questões a serem discutidas, os aspectos principais são o
percentual previamente definido para a distribuição de receita igualitária,
o limite a ser estabelecido como diferença de receita entre o primeiro e o
último clube da competição. Há, ainda, outros pontos a serem debatidos,
sobretudo no que tange ao critério de engajamento, mas que podem ser objeto
de aprofundamento após o efetivo ingresso dos Clubes signatários na Liga.
Os clubes signatários desta carta se dispõem a assinar a formação da Liga
tão logo seja possível uma análise aprofundada sobre os critérios
mencionados, além de outros, de menor impacto e que podem ser analisados no
momento oportuno, mas igualmente importantes, razão pela qual confiam que,
até a próxima reunião, com possíveis avanços no entendimento de solucionar
tais pontos será possível chegarmos a uma adesão de Clubes em maior número e
com isso a formalização da Liga com muita força e unidade."
América-MG, Atlético-MG, Athletico-PR, Atletico-GO, Avai, Botafogo, Ceará,
Coritiba, Cuiabá, Fluminense, Fortaleza, Goiás, Internacional, Juventude
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Imagem: Divulgação
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