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Esquecer 2021 e suas marcas foi o que pensou o Flamengo para a atual
temporada. Troca de conceitos, nova comissão técnica e até mudanças diárias,
como retorno do ponto para jornada de trabalho e novos horários de
treinamentos, aconteceriam.
E Paulo Sousa foi o escolhido por ter exatamente o que era necessário para
isso: personalidade forte para um eventual choque em meio ao processo de
reconstrução.
Veteranos sem prestígio e choque em público
E esse momento chegou publicamente. A declaração do treinador após a vitória
por 3 a 0 sobre a Universidad Católica pela Conmebol Libertadores escancarou
todo o ambiente tenso que circula no Ninho do Urubu nas últimas semanas, em
especial com Diego Alves. E reforçou a tese do técnico no primeiro papo com o
elenco do Flamengo: processos e meritocracia seriam primordiais para decidir
quem fosse jogar. O 'crachá' passaria a ter peso zero na briga por vaga no
time. E assim foi feito.
Quando chegou, Paulo Sousa viu a diretoria deixar acertada a renovação dos
contratos de Diego Alves, Diego Ribas e Filipe Luís, peças que não preenchiam
os requisitos que o treinador pensava para o novo Flamengo. Destes, apenas o
último foi titular com o português.
E com uma ressalva: atuando na zaga com o esquema formado por três defensores
e não mais como lateral. Um baque e tanto para o grupo, que viu o trio que
atuava com frequência com Jesus, Doménec Torrent, Rogério Ceni e Renato Gaúcho
estar cada vez mais distante de ser absoluto no clube.
Em contrapartida, Paulo Sousa seguia sua convicção, implementando a
metodologia de trabalho que acredita ser a correta para o objetivo que foi
colocado à sua mesa: reconstruir o Flamengo. E assim foi feito logos nos
primeiros momentos no Rio de Janeiro. Sacou Diego Alves e apostou em Hugo.
Nos últimos dias, mesmo com o goleiro sendo alvo da torcida, bancou o camisa
45 quando Diego Alves acreditou que seria titular em virtude da lesão de
Santos. Dias depois, o goleiro acabou se queixando de um incômodo no púbis.
Questionado sobre a situação de Diego Alves, Paulo Sousa deu uma declaração
firme e afirmou que ouviu de Bruno Spindel que o goleiro estaria apto para
ajudar o clube. Foi aí que o treinador vetou qualquer chance de participação
justificando que respeita seus processos de que se um atleta não treina dias
antes de um jogo, o mesmo não tem condição para atuar.
Jovens que cresceram com Paulo Sousa
Outra questão que Paulo Sousa decidiu renovar foi inverter o cenário em
diversas posições, priorizando os mais novos. Na lateral-direita, Matheuzinho
se tornou o titular da posição, com Isla, preferido de Renato Gaúcho, chegando
a ser terceira opção durante a temporada.
O mesmo para a lateral-esquerda, que viu Filipe Luís ser deslocado para a
zaga, Renê ser negociado e Lázaro ser adaptado no lugar que conquistou a
confiança do comandante. O camisa 13 saiu do ostracismo com os últimos
treinadores para virar peça muito importante no Flamengo de 2022. Além disso,
Ayrton Lucas chegou com aprovação do português para a função.
No meio campo, João Gomes inverteu todo o cenário da posição. Último da fila e
muitas vezes fora do banco com Renato Gaúcho, o garoto se tornou titular
absoluto do meio-campo. Com boas atuações, principalmente pela força que tem
na hora de combater e na qualidade com a bola no pé, João Gomes é
constantemente elogiado por Paulo Sousa. Arão, Thiago Maia e Andreas,
prioridades de Renato Gaúcho, se alternam e brigam pela outra vaga no setor na
cabeça do comandante.
O último da lista foi Victor Hugo. O jovem de 18 anos, que tem uma multa de
100 milhões de euros (cerca R$ 521 milhões) encantou o treinador nos treinos,
deixou seu gol contra o Altos e vem cada vez mais ganhando espaço com Paulo
Sousa, que enxerga um futuro promissor para a cria do Ninho.
Única vez que Paulo Sousa cedeu
Na frente, apenas Everton Ribeiro sofreu com a chacoalhada que Paulo Sousa deu
no Ninho. Foi deslocado para a ala-esquerda no início do ano, enquanto o trio
Arrascaeta, Bruno Henrique e Gabigol continuavam sendo o terror das defesas
adversárias.
No entanto, a situação do camisa 7 foi a única que o comandante decidiu rever
seus conceitos e internamente constatou que Everton não rendia bem pela ala
esquerda. Depois de uma conversa com o atleta, decidiu retornar com o capitão
para a ponta direita. Everton voltou a jogar bem, como na última partida
diante dos chilenos.
Próximos passos
Todas essas mudanças de Paulo Sousa na cultura do Ninho aconteceram em meio ao
turbilhão de emoções do torcedor, ansioso por um futebol bonito como em 2019,
preso na memória do rubro-negra, e que ganhou peso com todo o imbróglio
envolvendo um possível retorno de Jorge Jesus.
Ao jornalista Renato Maurício Prado, o Mister afirmou que daria um prazo até o
dia 20 de maio ao Flamengo para retornar. Publicamente, a diretoria do
Flamengo não se manifestou para demonstrar que estava ao Paulo Sousa.
Internamente, deram prestígio ao comandante. No entanto, prestígio no futebol
é algo que acaba em questão de segundos. O que não vai mudar é que Paulo Sousa
vai até o fim com o propósito que decidiu seguir em seu primeiro dia no Ninho:
que era reconstruir o Flamengo.
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Imagem: Divulgação
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