Por Leonardo Miranda | GE:
  Uma equipe que controla, ataca e faz gols, mas ainda sofre com contra-ataques.
  Essa pode ser uma boa definição para o Flamengo de Paulo Sousa, que completa
  19 jogos contra o Palmeiras, nesta quarta-feira, pela 3º rodada do
  Brasileirão.
  O reencontro com o adversário da final da Libertadores de 2021 servirá como um
  teste de fogo para um sistema defensivo que ainda é muito vazado. Em 18 jogos
  com o português, o Flamengo foi vazado em 12 oportunidades. A boa notícia é
  que a defesa mostrou nítida evolução contra o São Paulo e Talleres, em
  comparação com a reta final de Cariocão.
  Antes de mais nada, é preciso entender o que o treinador propõe como ideia
  para o time e o que está sendo executado de maneira eficiente ou não.
  Desde o início do trabalho, Paulo Sousa tem alguns conceitos bem claros:
- Quando o time ataca e acontece de perder a bola, a primeira reação é marcar alto, pressionar e tentar roubar a bola lá na frente.
- Se há um contra-ataque, ao menos três jogadores devem ficar atrás para cobrir e anular o ataque
- Se não dá certo, então todo mundo volta para o campo de defesa e forma duas linhas de quatro.
Pressão alta funcionou pela rapidez e insistência dos volantes
  A primeira ideia, a pressão alta, chamou a atenção contra o São Paulo. O
  Flamengo sufocou e não deixou o adversário sair. Vale ressaltar que essa ideia
  está no time desde o primeiro treinamento, desde o jogo contra o Boavista. Ela
  só não era "vista", mas estava lá.
  O que melhorou foi a sincronia dos movimentos e principalmente a insistência
  dos volantes em fechar as linhas de passe dos rivais. Quando marca lá em cima,
  a referência é a bola. Então todo mundo - não importa posição ou função - tem
  que fechar o setor da bola e marcar as opções de passe ao redor dela. É o que
  Gabigol e Thiago Maia fazem aqui, fechando um possível passe para Léo e Igor
  Gomes.
Flamengo pressiona: todo mundo gruda e marca uma linha de passe — Foto:
  Reprodução
  Para jogar, o adversário se movimenta. Tá aí o segredo: a pressão alta tem que
  acompanhar a movimentação. É o que Thiago Maia faz: fecha até o fim e impede
  que Igor consiga passar para a frente. É fundamental que uma pressão alta
  impeça um passe para a defesa e force o adversário a tocar perto do gol. Por
  isso, todos precisam acompanhar. Se um falha, já dá a oportunidade ao rival.
Thiago Maia e Arrascaeta acompanham a movimentação — Foto: Reprodução
  "A ideia da pressão alta sempre existiu, algumas vezes bem interpretada,
    boa intensidade e capacidade de roubo, já tivemos opções em quase todos os
    jogos de fazer a pressão alta, roubarmos e termos situações de finalização,
    como tivemos várias hoje. Temos que melhorar bastante sempre que nosso bloco
    defensivo é um pouco mais baixo em várias situações, distâncias,
    entrelinhas, ou seja, ser um bloco único"
  — Paulo Sousa, após o jogo contra o São Paulo
Linha de defesa: sincronia entre quando subir e quando baixar
  As imagens da TV não permitem ver, mas quando um time executa uma pressão
  alta, os defensores têm um papel fundamental: precisam subir. Isso torna o
  time mais compacto e diminuiu o espaço de jogo do adversário. A sincronia da
  linha de defesa com a pressão alta finalmente apareceu domingo.
  Veja o exemplo: o Flamengo ainda marca alto, mas o São Paulo conseguiu
  escapar. Então David Luiz e cia estão no meio-campo, não dando espaço para os
  atacantes. O nome técnico disso é "controle de profundidade".
Linha de defesa subia junto com a pressão alta — Foto: Reprodução
  Outro exemplo aqui: a marcação alta acontece, mas o São Paulo conseguiu sair.
  A linha de defesa baixou um pouco, mas mesmo assim continua alta. Só que há
  espaço (veja a distância do juiz para Willian Arão). É preciso diminuir o
  espaço, então alguém da linha defensiva sai e pressiona a bola. David Luiz foi
  fundamental nesse momento. Se não há pressão, o adversário consegue dominar e
  sai jogando.
Linha mais alta e cobertura na bola: Flamengo se defende contra o São Paulo —
  Foto: Reprodução
O momento de sair da linha e pressionar a bola
  O Flamengo não se defende com três zagueiros. Quando o time perde a bola e a
  marcação alta não dá certo, a defesa se fecha com duas linhas de quatro. É
  impreciso dizer que Paulo Sousa usa três zagueiros, porque Filipe Luís, tal
  como Marcos Rocha no Palmeiras, têm dupla função: faz a saída de três, mas
  defende como lateral.
  É justamente essa linha que ainda precisa de ajustes. Contra o Vasco nas
  semifinais e contra o Fluminense, o Flamengo defendeu mal. Muito porque a
  linha ficava sempre exposta, ora quebrada (com três ou dois jogadores), ora
  sem cobertura. Se a marcação alta dá errado, é preciso que os volantes cubram
  essa linha.
  Se os volantes ainda não conseguiram chegar, então um zagueiro está autorizado
  a sair de trás e pressionar a bola, como Arão faz aqui.
Flamengo pressiona e cobre a linha de defesa — Foto: Reprodução
  Mas se os volantes já conseguiram retornar, então os quatro defensores
  precisam estar alinhados e cobertos por ao menos um meia. É o que falta nesse
  lance. Perceba que a defesa está alinhada e corre para trás, mas o dono da
  bola tem muito tempo e espaço para jogar. Thiago Maia foi eleito como
  fundamental porque tem a característica de pressionar mais, algo que Andreas e
  Diego não possuem tanto e João Gomes desenvolve jogo após jogo.
Erro de cobertura contra Talleres gerou chances — Foto: Reprodução
  O teste contra o Palmeiras terá o mesmo nível do jogo contra o Atlético-MG, na
  Supercopa: confronto entre as melhores equipes do país. Rony, Dudu e cia
  colocarão o sistema defensivo do Flamengo para trabalhar e provar que a
  evolução vista contra o São Paulo pode ter vindo para ficar.
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Imagem: André Durão






