Por Marcus Alves | Yahoo:
Andrei Girotto tem um pedido.
“Põe na matéria assim, por favor: ‘Andrei Girotto, zagueiro’”, sugere, entre
risos, o jogador do Nantes ao Yahoo Esportes.
“Me considero zagueiro agora. Até jogo ainda no meio quando o professor pede,
mas, se for perguntar a minha posição, hoje sou zagueiro. Acho que tenho mais
as qualidades para ser um defensor do que propriamente um meio-campo”,
acrescenta.
Portanto, aquele Andrei Girotto que surgiu muito bem no América-MG como
volante e chegou ainda novo ao Palmeiras para viver aquela que foi, em suas
palavras, “a pior fase de sua carreira” ficou no passado. Desde 2017 no
futebol francês, ele é hoje o brasileiro com mais minutos jogados na Ligue 1,
e o quarto atleta em todo o campeonato. Destaque absoluto do Nantes, teve
papel importante em vitória recente de 3 a 1 sobre o Paris Saint-Germain,
dentro de casa, e é um dos responsáveis pelo time estar na briga por vagas
europeias.
A sua grande temporada o colocou no radar de diversas equipes, entre elas, do
Flamengo de Paulo Sousa, que o conhece de sua passagem como técnico pelo
Bordeaux e pediu a sua contratação à diretoria rubro-negra. O time carioca
chegou a abrir conversas em viagem pela Europa, mas não conseguiu avançar
neste momento.
Não está descartada a retomada do diálogo mais adiante.
“A gente teve algumas conversas, fico feliz com o interesse, todo mundo sabe
do tamanho do Flamengo. Só que no meio da temporada aqui é difícil o clube
liberar, né, porque estamos disputando outros objetivos. Mas vamos ver, quem
sabe no futuro eles entram em acordo. Até pela situação que nos encontramos,
foi meio difícil agora”, explica.
É muito mais do que Andrei sonhava quando chegou à França após amistoso da
Chapecoense contra o Barcelona, no Camp Nou, em 2017. Na época, carregava
apenas uma mochila com material esportivo dos catarinenses e praticamente mais
nada.
“Vou ser sincero: no começo, não esperava me adaptar tão bem, não. Foi muito
difícil a adaptação, cheguei aqui sem falar francês, sem conhecer muita coisa.
Essa questão da língua e da diferença do futebol brasileiro para o europeu me
pegaram bastante”, conta.
“A oportunidade surgiu em meio a uma viagem, quando a gente veio para a Europa
para jogar contra o Barcelona. No dia seguinte ao jogo, já viajei para cá para
assinar. Foi bem rápido e fechamos tudo. Nem voltei para o Brasil. Cheguei
aqui sem mala, apenas com a roupa da Chape. Eu tive que comprar algumas outras
peças até minha mulher vir e trazer mais uma mala”, prossegue.
Com o apoio dos compatriotas Diego Carlos e Lucas Lima, hoje no Sevilla e no
Istanbul Basaksehir, respectivamente, Andrei conseguiu superar os obstáculos
iniciais no Nantes e, com seis meses, já estava se virando bem no francês.
Pouco depois, viria a transformação que o estabeleceria aos 30 anos como um
dos melhores zagueiros hoje em atividade na Ligue 1.
“Eu sempre tive essa vontade de jogar na posição, mas acho que, nos tempos de
América-MG, era muito novo para jogar como zagueiro, corria muito, ia para
todo lá, entende? Acredito que, agora com mais experiência, me encaixei na
posição. Eu joguei algumas vezes antes com o Vahid Halilhodzic, mas quem me
efetivou nesta posição foi o Christian Gourcuff. Logo no primeiro treino dele,
ele chegou para mim e perguntou se poderia jogar de zagueiro para ele, dizendo
que contava com a minha saída de bola e qualidade de meio-campo para zagueiro.
Então, aí foi a minha oportunidade de se firmar. Ali dei um salto na minha
carreira e agradeço pela oportunidade que ele me deu”, relembra.
No confronto contra o PSG, no último dia 19, Andrei teve pela frente Neymar,
Lionel Messi e Kylian Mbappé, mas não se intimidou. Foi tão bem na vitória
sobre os parisienses que recebeu nota 8 do jornal L’Equipe e acabou entrando
para a seleção da rodada.
“Era um jogo diferente. Não é todo dia que você enfrenta jogadores desse
nível. Então, a gente tem aquela motivação a mais, uma magia de jogar uma
partida dessas, é algo que vai ficar marcado”, afirma.
“Teve gente que escreveu que anulei o Neymar, mas não teve isso, não. Ele
jogou bem e até acabou fazendo o gol. Eu procurei ajudar mais no meio-campo,
tive uma marcação mais sobre o (Marco) Verratti. No fim do jogo, até estive
com o Neymar, tirei uma foto com ele e conversamos. É um cara que parece ser
do bem”, completa.
Com a valorização que tem conseguido na Europa, é natural que muitos se
perguntem por que Andrei não se sobressaiu da mesma forma durante a passagem
pelo Palmeiras em 2015. Ele responde sem pestanejar.
“No Palmeiras, acho que foi a pior fase que vivi na minha carreira de jogador
porque eu vinha muito bem no América-MG. Joguei praticamente duas temporadas
inteiras lá, fazendo gols, tendo boas atuações. E aí chego no Palmeiras e fico
três, quatro meses sem jogar. Depois fiquei muito mal fisicamente, tive
problema alérgico por causa também da poluição do ar em São Paulo e, em termos
de forma, acho que estava muito mal, acabou afetando muito no campo. Sinto que
poderia ter dado um pouco mais certo no Palmeiras. Acho que hoje, com tudo
alinhado, bem fisicamente, com a experiência que tenho, é mais clara a
evolução que tive”, diz.
“Lá, fiquei só treinando por meses com o Oswaldo de Oliveira e todo jogador
sabe a diferença entre treinar e jogar. Depois veio essa alergia, problema
respiratório, sempre com o nariz incomodando, que me afetou bastante
fisicamente. Quando solicitado, tentava dar o meu máximo, mas via que era
insuficiente fisicamente. Quando fui para o Japão, já melhorou e, na Chape,
retomei meu futebol. Tanto é que despertou interesses aqui”, conclui.
Com contrato com o Nantes até junho de 2024, plenamente adaptado a Nantes e
cinco gols marcados na Ligue 1, Andrei quer apenas que o time seja mais
regular e repita mais vezes o empenho mostrado contra o PSG para alcançar o
sonho europeu. Depois, como ele prega, vê o que acontece no mercado.
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Imagem: Divulgação
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