Por Alexandre Araújo e Leo Burlá | Uol: Francisco Moraes, 81, já rodou o mundo, mas passou longe dos roteiros
turísticos mais tradicionais. As viagens sempre tiveram um objetivo muito
claro: acompanhar os jogos do Flamengo . Porém, por pouco, neste diário de
bordo com incontáveis quilômetros percorridos não ficou faltando um importante
capítulo. Famoso rubro-negro de arquibancada, ele não conseguiu ingresso para
a final da Libertadores , em Montevidéu, mas contou com a mobilização de
alguns torcedores em redes sociais e vai para a terceira decisão continental.
E avisa: quer buscar o tri.
Entre tantas caminhadas, a capital do Uruguai não chega a ser um destino novo.
Muito menos quando se trata de final do torneio continental. Moraes foi
testemunha ocular do primeiro título do Fla na competição, em 1981, contra o
Cobreloa, do Chile. À época, o regulamento do torneio era outro e, depois dos
duelos no Maracanã e Estádio Nacional, com uma vitória para cada lado, houve
um jogo desempate em campo neutro e o duelo calhou de ser no Centenário, palco
do confronto com o Palmeiras .
"Acompanho o Flamengo desde 1967. Tenho 80%, 90% dos jogos do Flamengo. Na
Libertadores, acho que perdi quatro jogos de 81 até agora. Em 1981 era muito
mais fácil, não tinha essa tecnologia que tem hoje. Para ir a Montevidéu foi
um parto. Houve uma mobilização nas redes sociais para eu conseguir comprar o
ingresso. Comprar, pois não aceito coisa alguma de graça do Flamengo e nem de
ninguém. Houve essa movimentação e conseguiram que eu comprasse esse bendito
ingresso, e estarei em minha terceira final de Libertadores", disse ao UOL
Esporte .
A lamentação por não ter tido sucesso na busca por entrada foi feita no site
em que conta suas aventuras atrás do Rubro-Negro, e logo repercutiu. Moraes
cita que a movimentação dos companheiros foi também um gesto de gratidão.
"Eu tenho uma vida de Flamengo. Eu tenho um site, por onde o pessoal que viaja
me acompanha. Publiquei lá que não tinha conseguido ingresso. A mobilização
foi por quê? Eu sempre corri atrás de ingresso para o pessoal ir. Quando vai
para Oruro [Bolívia], vão 10, 12 pessoas, quem carrega sou eu. Quando vai para
a Cidade do México [México], Potosi [Bolívia], sou eu quem mobilizo. Eles,
agora, viram que eu estava sem, se mobilizaram e conseguiram que eu
comprasse", aponta.
Um dos idealizados da movimentação por ingresso por Moraes foi Luis Eduardo
Aragão, que ressalta o valor do torcedor símbolo para diversos rubro-negros.
A importância do Moraes neste cenário de ingresso para quem vai viajar é muito
importante. É, sem dúvida alguma, quem mais viajou para ver jogo do Flamengo.
E antigamente não existia essa facilidade, que começou com ele enchendo muito
o saco, de os visitantes poderem comprar antes. Tinha de ir ao local, para a
porta do estádio, e comprar na bilheteria. Era o Moraes que sempre ia à
bilheteria. É um cara que sempre lutou pela torcida do Flamengo sem nada em
troca."
"E quando esse cara está sem ingresso, frustra um pouco porque ele sempre deu
a cara à tapa. É aquela famosa frase, se a torcida é o maior patrimônio do
Flamengo, o Moraes é o maior patrimônio do maior patrimônio do Flamengo",
salientou.
Alcançar o topo do pódio na competição sul-americana é o grande objetivo do
Flamengo. Moraes se mostra otimista pelo título, mas admite que o sentimento
será diferente do de dois anos atrás, em Lima, no Peru.
"Você não tem ideia do que é uma final de Libertadores. Em 81, quando
ganhamos, achava que ganharíamos três, quatro anos seguidos e não aconteceu.
Virou obsessão e essa obsessão morreu em 2019. Ganhamos em Lima. Agora, é uma
final de Libertadores? É, mas não é aquela obsessão que eu tinha como tinha em
2019. Vamos lá e vamos ganhar. O Palmeiras hoje é o favorito, mas vamos lá.
Decisão não se joga, decisão se ganha. Nós vamos lá e vamos ganhar", afirmou.
Toda esta caminhada ao lado do clube de coração também teve um custo e Moraes
garante ter sido superior a 1 milhão de dólares. Com anos de arquibancada
mundo afora, ele critica a final única e os valores cobrados.
A Conmebol quer imitar o sistema europeu, mas esqueceu que a Europa cabe no
Estado de São Paulo, de Minas. Lá tem estrutura, tem estrada, tem o trem.
Vocês estão vendo o sufoco que está sendo para entrar em Montevidéu, viram o
sufoco que foi em Lima? Estava dando tão certo com uma partida lá e outra
aqui. Qual o problema disso? Querem copiar a Europa, mas é outro mundo. A
Conmebol está errada."
"Ninguém vai gastar menos de 10 [mil] 'conto'. Pessoal que vai de ônibus, nas
caravanas, talvez vá gastar R$ 2 mil, que é dinheiro para burro, são dois
salários mínimos e meio. A maioria desse pessoal que vai de ônibus vai gastar
cerca de R$ 2.500 e vai demorar dez anos para pagar isso. Mas é paixão,
emoção. Quando se fala em paixão, não se pensa, é o coração que manda".
Celebridade na torcida
Moraes é figura carimbada nos jogos do Flamengo e recebe o carinho dos
torcedores do Rubro-Negro. Ele admite que é um reconhecimento pela dedicação
às cores do clube da Gávea, mas avisa: enquanto a bola estiver rolando, a
atenção está no campo.
"Na hora do jogo do Flamengo é meu momento. Chega meia hora antes, tiro 300
fotos. Após o jogo, mil fotos, mas na hora do jogo, não fala comigo. É um
reconhecimento que sei que eles têm por mim, agradeço muito. São 50 anos de
Flamengo. Mas no momento do jogo, estou com atenção no Flamengo".
Zico de Norte a Sul
Zico é o maior ídolo do Flamengo e Moraes acompanhou a carreira do Galinho de
perto. Ele assegura que ele e Kleber Leite, ex-presidente do Rubro-Negro,
foram os que mais viram os jogos do camisa 10, entre atuações pelo time da
Gávea e pela seleção brasileira.
"Tenho 12 Copas do Mundo seguidas, Eliminatórias de 1967 até 2006. Ninguém
atravessou tantos oceanos para ver jogo como eu, ninguém acompanhou tantos
jogos do Flamengo como eu. Nunca perdi um jogo oficial do Zico em lugar nenhum
do mundo, isso é provado. Só tem um cara que viu mais jogo do Zico que eu: o
Kleber Leite, que foi presidente e era repórter de rádio. Oficial, não perdi
nenhum e ele sabe disso, mas ele pode ter visto o Zico jogar um amistoso que
não valia nada e eu não fui. Mas jogo oficial do Zico na seleção e no
Flamengo, somos eu e Kleber Leite."
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Imagem: Alexandre Araújo / UOL Esporte