Por Diogo Dantas | Extra:
A última reformulação na comissão técnica permanente do Flamengo e no
departamento médico aconteceu há um ano, em outubro de 2020. Desde então, a
diretoria e o chefe do setor, o médico Márcio Tannure, têm elaborado um
diagnóstico de problemas relacionados aos processos e à condução dos trabalhos
no dia a dia. Mesmo assim, após a chegada de novos nomes de agrado dos atletas
e de dirigentes, as cobranças da cúpula do clube só vieram agora, com o
estouro do caso Pedro e o excesso de lesões no meio da disputa de títulos
importantes em 2021, que minaram os resultados.
Na reapresentação após a eliminação da Copa do Brasil, o clima no Ninho do
Urubu não era bom. A desconfiança entre os funcionários da comissão técnica e
Renato Gaúcho aumentou ainda mais após declarações do treinador sobre a
dificuldade em recuperar jogadores. Não houve qualquer debate interno entre os
setores nem com a diretoria, segundo uma fonte indicou à reportagem.
"Não aconteceu nada, os problemas eles já sabem onde está, mas não querem
fazer nada para mudar", relatou.
A decisão de não tomar medidas drásticas a um mês da final da Libertadores não
impede que o assunto ferva do CT à Gávea. A defasagem de profissionais de alto
gabarito e a indicação de nomes baseado em amizade com jogadores e dirigentes,
tema outra vez de reportagem do GLOBO na terça-feira, é mais uma vez
contestada na diretoria. Mas o presidente Rodolfo Landim, ciente de tudo,
ainda não tomou nenhuma medida além de cancelar uma entrevista coletiva que
abordaria novamente o tema com o vice de futebol Marcos Braz. No entanto,
outras figuras políticas do clube subiram o tom.
"Onde estão os melhores profisionais de futebol do país? Não estão no
Flamengo? Por que? Se o Flamengo tem dinheiro para pagar os melhores salários?
Ninguém quer trabalhar em um clube com uma cultura que não tem meritocracia.
Tem que ser da panela... beijar a mão de A, B ou C. Temos um grupo de amigos",
lamentou uma figura influente na diretoria.
Métodos questionados
O alvo principal é Marcos Braz, mas as críticas na prática recaem da análise
de desempenho do clube e os preparadores físicos Alexandre Sanz e Rafael
Winicki, indicados por Braz e por alguns atletas, respectivamente. Sanz é tido
como "gente boa", mas a missão no clube é acima dele, de acordo com relatos
internos. O Flamengo tem desde 2016 uma plataforma de dados médicos, que
precisa ser atualizada, e o profissional tem dificuldade para se inteirar da
tecnologia para alimentar o banco de dados.
No caso de Winicki, há outras questões. Os métodos de treinamento físico
trazidos de uma realidade de academia e cross fit não encontram respaldo nos
trabalhos de futebol de elite. Há relatos de que os jogadores fazem muitos
exercícios de salto, que sobrecarregam joelhos, panturrilhas e tendões.
Sobretudo em jogadores mais velhos, como Diego, Filipe Luís e Diego Alves,
todos com histórico recente. O jogador, segundo fontes médicas, não precisa
treinar salto para os jogos de futebol, pois nas partidas passa a maior parte
do tempo correndo como um atleta do atletismo. De forma moderada como na rua,
com intervalos de sprint de um velocista.
Alguns jogadores começaram a se incomodar com os trabalhos físicos. Assim como
Renato Gaúcho. O técnico fez cobranças internas e entende que a comissão
técnica precisa ser reformulada ao fim da temporada, até para que ele renove
contrato. Renato tem boa relação com Márcio Tannure, mas é amigo pessoal de
José Luis Runco, que foi médico do clube e da seleção quando o técnico ainda
jogava. A volta de Runco e de seu filho, Guilherme, ao Flamengo, foi cogitada
no começo da gestão de Rodolfo Landim, mas os métodos já sofriam resistência
no clube. No ano passado, veio então Marcelo Soares, médico com passagem pelo
Flamengo, que chegou a processar o clube, mas é próximo a Runco e foi bem
indicado. Com visões diferentes de Tannure, conduz os trabalhos de dia a dia e
as avaliações de lesão.
A reportagem tentou contato com os profissionais e com o Flamengo, mas não
obteve retorno.
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Imagem: Divulgação
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