ESPN:
Atualmente, Thiago Scuro faz parte da gestão de sucesso do Red Bull
Bragantino, clube que vem surpreendendo no futebol brasileiro. Mas, antes,
teve passagem pelo Cruzeiro e lamentou não ter conseguido mudar a forma do
clube mineiro de ser gerido, o que culminou na situação atual.
Em entrevista ao programa Dividida, do Canal UOL, o dirigente elogiou o modo
como o Flamengo se sustenta, afirmando ser exemplo no Brasil, e criticou os
clubes dependentes de 'mecenas'.
"O Flamengo tomou um caminho autossustentável. O Flamengo tende a ser saudável
por muitos e muitos anos. O grande risco do mecenato no modelo nosso é a
continuidade. É um comportamento padrão que os clubes que estão sob este tipo
de gestão, eles competem em alto nível aumentando o endividamento e o
endividamento fica para a instituição. Então é diferente, por exemplo, da
curva do Flamengo nos últimos anos, onde o Flamengo vem reduzindo o
endividamento e aumentando a competitividade", diz Scuro.
"Quando você tem a participação de uma injeção de dinheiro externo numa
proporção significativa —como é em alguns casos—, você gera um desequilíbrio,
inclusive contábil. Vamos voltar para o balanço ali, será que todos os números
estão lançados em balanço? Será que o balanço dos clubes que têm mecenas é
100% fiel ou será que existe aporte de dinheiro paralelo ao clube? Todo
recurso passa dentro do clube ou não? Quem controla isso? Que tipo de
fiscalização tem? Então, em linhas gerais, eu acredito muito mais nesse
modelo, se for estabelecido uma S/A e esse investidor passe a ser dono de
fato".
E Scuro viveu um caso de perto, o do Cruzeiro. O dirigente afirmou que, de
imediato, há uma comemoração por parte do torcedor pelos resultados
conquistados no campo. No entanto, a conta que se paga a longo prazo é alta.
"Em um curto prazo, o torcedor desfruta e comemora, mas no médio prazo, para
os clubes brasileiros, para as instituições, pode ser perigoso, dependendo do
comportamento das pessoas lá na frente. Se, por qualquer razão, a gente usou o
termo mecenas, mas, se por qualquer razão, as empresas que estão hoje
aportando dinheiro no Atlético-MG decidem sair, a tendência é que o
Atlético-MG tenha anos e anos de dificuldade para conseguir se equilibrar
financeiramente".
"Talvez o Cruzeiro seja o exemplo mais palpável hoje, que é um clube que
utilizou muito de dinheiro de terceiros em 2014 e 2015, venceu dois
Brasileiros, foi criando uma operação altamente deficitária, acumulando, e aí,
com o tempo, o clube acabou atingindo a condição atual, o que é ruim para a
indústria, para o futebol brasileiro, uma grande marca nessa situação",
completou.
Em 2015, Scuro chegou a um Cruzeiro que acabara de ser bicampeão brasileiro,
no entanto, que já apresentava problemas financeiros. O dirigente lamentou não
ter conseguido modificar a mentalidade da gestão.
"Em 2013 e 2014, o Cruzeiro havia sido bicampeão e já na temporada seguinte
brigava para não cair, e aí era possível já visualizar que o caminho era de
muita dificuldade financeira para os próximos anos. Uma das frustrações
profissionais que eu tenho é não ter conseguido convencer mais pessoas ali, no
dia a dia, que o caminho tinha que ser outro, era reduzir investimentos,
trabalhar mais a base para poder equilibrar as contas ali", contou.
"Infelizmente, logo na sequência, o Cruzeiro tem uma nova gestão, ainda mais
nociva, que continua, enfim, gastando mais do que arrecada, se endividando,
apostando só no sucesso, jogando para a frente. Então, até a decisão de sair
do Cruzeiro foi muito por isso, porque não era possível desenvolver um
trabalho consistente do ponto de vista de gestão naquela cultura que estava
estabelecida ali, e eu espero que o Cruzeiro consiga se reorganizar porque é
uma torcida espetacular, uma das maiores marcas do futebol brasileiro, em uma
grande cidade, mas o caminho tende a ser muito longo pelo tamanho das
dívidas", finalizou.
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Imagem: Marcelo D'Sants/ESPN
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Finanças