O desejo dos clubes da Série A em formarem uma liga de futebol para organizar
o Campeonato Brasileiro rendeu forte expectativa nesta terça-feira. A
manifestação assinada em carta por 19 clubes e entregue à CBF em reunião no
Conselho de Clubes foi vista como um grande passo por especialistas
entrevistados pelo LANCE!.
O jornalista Eduardo Tironi destacou que é um grande e há muito tempo esperado
passo dos clubes. Porém, apontou que ainda há meandros a serem definidos com a
própria entidade.
- É uma boa iniciativa, aproveitou-se um vácuo, uma fragilidade da CBF, que
agora está sem presidente para tentar criar o que deveria ser feito há muito
tempo: uma liga de clubes. Mas é claro que tem muitos entraves ainda. É
necessário mudar o estatuto da CBF, pois sem isso vai inviabilizar a liga, a
não ser que a CBF permita. Será necessário um arranjo bem importante, mas
como iniciativa é bem importante - e frisou:
- Acho que temos de observar os próximos passos. É bom observarmos quem
está na liderança deste processo, quais presidentes de clubes estão na
liderança, pois na hora que for necessário vai ser decisivo. Quem se
mostrará disposto a abrir mão de ser protagonista desta história?
- completou.
Aos seus olhos, no entanto, o movimento já traz um bom presságio.
- Como primeiro passo é bem interessante, pois é uma coisa que não se via
na organização do futebol há muito tempo. O mais parecido foi a Primeira
Liga, que fracassou muito rapidamente, pois não teve apoio de todo mundo,
mas agora indica ser uma coisa bem mais sólida. Só que ainda é o primeiro
passo - completou
Consultor de marketing e gestão esportiva, Amir Somoggi traçou algumas
perspectivas.
- Com relação à notícia, eu acho boa, acho positiva, mostra que o futebol
brasileiro tem de parar de depender da CBF, das federações e decidir se o
campeonato vai começar em março ou em fevereiro, depois da pré-temporada,
depois dos times excursionarem... Ou se em julho vai ter uma parada para os
times brasileiros irem para a Europa ou para os Estados Unidos. Não é o
presidente da CBF que vai decidir, é a liga! Eu vejo com bons olhos, podem
vir novas receitas do meio digital - e ressaltou:
- É a vitória dos clubes frente a esse modelo arcaico, coronelista, no qual
você não pode crescer pois não é permitido isso. Essa falta de democracia,
na qual você não pode definir o que fazer com seu marketing ou fazer um jogo
amistoso com o Manchester é importante. A liga pode permitir não só o
crescimento doméstico, mas também o crescimento internacional dos clubes. O
mundo está conectado e os clubes estão fora
- completou.
O consultor de marketing e gestão esportiva vê como um desafio a busca por
organização interna entre os clubes.
- É sempre bom lembrar que até hoje os clubes nunca conseguiram montar uma
estrutura organizativa, um ambiente gerencial, pois não adianta o presidente
de um dos clubes ser o presidente da liga. Tem de ter executivos de
ponta, tem de ter um projeto de Brasil, não adianta pensar nos Top-20, nem
nos 20 da Série B, tem que pensar num projeto de Brasil, de fomento de
futebol como indústria
- disse.
Em seguida, Somoggi vê onde o passo pode ser diferente em relação a outras
tentativas frustradas de liga.
- Se esse caminho for traçado, se não for só para faturar mais com
televisão e patrocínio, se o foco for ampliar o impacto da indústria do
futebol, pode ser o passo que não foi dado em 1987, que não foi dado em 2000
e que agora pela crise profunda pela qual passa a CBF, e o grande momento.
Eu esperava isso em 2014, mas nós somos um pouco demorados
- declarou.
O jornalista Eduardo Tironi também acredita que a organização da liga não deva
ficar nas mãos de cartolas.
- O ideal é que quem estivesse à frente desta liga não tivesse relação
aberta com os clubes, como são as ligas americanas, por exemplo. Pode ser
gente ligada a esporte, mas não umbilicalmente ligada a clubes. A
presidência da liga não pode ficar nas mãos do presidente do Flamengo, do
São Paulo, do Corinthians... Essa é a sabedoria do negócio. O
profissionalismo tal que esta liga não seja marcada como a liga de um clube,
como aconteceu com a Primeira Liga. É preciso de alguém que não tenha
proximidade com clubes.
Amir Somoggi crê que, com o Brasileiro nas mãos de uma liga, os clubes têm um
gigantesco poder de decisão.
- Seria uma mudança de mentalidade. Se toma uma decisão como liga, todos os
clubes terão de seguir e arcar. Não dá para jogar fora colocando o poder nas
mãos de dirigentes de clubes, pois senão será fracasso anunciado. Mas montar
modelo empresarial, contratar executivos, ter empresas envolvidas e deixar
só o clube fundador participando das reuniões é o ideal - e, em seguida, ele se mostra cético:
- Não acredito no poder gerencial do futebol brasileiro. A não ser que
coloque dois ou três clubes que tenham esse poder. Mas na hora de soma eles
são bagunçados, não respeitam protocolo de gestão... Estou meio descrente em
relação a isso sair do papel da forma certa. De qualquer forma, tem tudo
para sair, pois precisam de dinheiro, não sabem da onde tirar e a criação da
liga é um caminho
- completou.
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Fonte: https://www.lance.com.br/brasileirao/bom-sinal-especialistas-avaliam-como-criacao-liga-pode-causar-impacto-futebol-nacional.html
Imagem: CBF
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