Rogério Ceni tem argumentos, mas não tem razão. Essa é uma maneira que ajuda a
analisar o que aconteceu na noite de quarta-feira no Maracanã. O empate por 2
a 2 com a LDU foi suficiente para garantir a classificação às oitavas de final
da Libertadores. A atuação da equipe esteve longe de ser suficiente para
satisfazer um torcedor que parece propenso a apontar o dedo para o treinador,
que, por sua vez, não se ajuda ao se expor para bancar suas convicções.
É preciso pontuar que a expulsão de Willian Arão aos 14 minutos condicionou
toda atuação do Flamengo, que até ali apresentava fluidez no jogo com Gabriel
e Pedro juntos. Entretanto, um período muito pequeno para qualquer tipo de
elogio. Uma partida com 10 x 11 por cerca de 85 minutos se torna complicada
para análises aprofundadas, mas é possível fazer recortes. O mais preocupante
deles é evidentemente a fragilidade do setor defensivo nas bolas aéreas.
Essa carência, inclusive, foi a justificativa de Ceni para uma escolha que
colocou uma lupa em seu trabalho uma hora antes de a bola rolar: Léo Pereira
entre titulares ao lado de Gustavo Henrique e Bruno Viana. A escalação por si
só não é nenhum absurdo. Imagine Renê na lateral esquerda e o Flamengo teria
um time bem bom para despachar a LDU, mas quando a escolha é por Léo Pereira o
treinador colocar um alvo bem grande no seu peito.
A dúvida se o esquema seria 3-5-2 ou não foi sanada de cara. Léo Pereira fez
função de Filipe Luís, postado na linha de quatro defensiva e auxiliando a
saída de bola a três. Por que não Ramon?, perguntam os torcedores. Porque o
jovem lateral está longe de convencer a comissão técnica, e a atuação ruim nos
45 minutos em que esteve em campo ajudam a explicar isso.
O problema maior é que Léo Pereira também nunca convenceu, e menos ainda
atuando improvisado. A expulsão de Willian Arão desmontou a estrutura
defensiva e, mesmo com um zagueiro por ali, o lado esquerdo acabou sendo
corredor para investidas dos equatorianos em um primeiro tempo aberto
protagonizado por dois times desestruturados.
Ceni disse em coletiva que o Flamengo dominou o jogo em todos os quesitos.
Realmente, nas estatísticas o time teve mais posse, finalizações, escanteios,
trocou mais passes. O problema é que nem de perto demonstrou a consistência e
organização que se espera mesmo com um jogador a menos.
O treinador deu como exemplos as exibições nestas circunstâncias diante de
Bahia e Racing. Pois bem, tendo como exemplo a si próprio, o Flamengo foi
muito melhor nas partidas citadas, deu muito mais indícios de que seria capaz
de buscar o resultado do que no empate com a LDU graças a mais um coelho que
Arrascaeta tirou da cartola.
Por fim, o maior problema em questão: as bolas aéreas. O Flamengo que foi
vazado assim contra o Volta Redonda e contra o Fluminense em partidas
decisivas no Carioca tem a péssima marca de ter sofrido gols em escanteios em
quatro dos cinco jogos da Libertadores. E não adianta colocar a culpa em erros
individuais.
Tal qual no Fla-Flu de sábado, faltou organização, faltou entrosamento, faltou
capacidade de reação para defesa sair e deixar os adversários em impedimento,
faltou tempo de bola, e, com razão, já está em falta a paciência do torcedor
com esse tipo de jogada.
Entre erros e acertos, um empate com um jogador a menos por 85 minutos e que
garantiu a classificação na Libertadores seria aceitável. Até comemorado dadas
as circunstâncias. Mas outras circunstâncias apontam para a parte mais vazia
desse copo e Rogério precisa ir além das reflexões que apresentou em
entrevista coletiva.
Sábado, às 21h05 (de Brasília), no Maracanã, contra o Fluminense, pela decisão
do Carioca, o Flamengo não tem mais direito ao erro. Rogério também não.
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Fonte: https://globoesporte.globo.com/futebol/times/flamengo/noticia/analise-argumentos-justificam-escolhas-mas-nao-dao-razao-a-ceni-em-vaga-dolorosa-do-flamengo.ghtml
Imagem: Alexandre Vidal