Em nenhum dos Campeonatos Brasileiros de pontos corridos, o campeão esteve fora do pódio no quesito melhor defesa. O Flamengo de Jorge Jesus é apenas a sexta menos vazada deste ano, com 18 gols.
Estamos apenas na metade de um torneio que testa muitas das regras do Manual de Como Ganhar o Brasileirão , e talvez seja necessária uma atualização nesse livro nunca escrito. Talvez a regra da defesa não seja assim tão indispensável, caso você saiba atropelar adversários. Quando se chega na metade, o Flamengo propõe novas verdades e permite projetar outras.
A prioridade é fazer gols. São 42 até aqui, sendo 16 de Fla pode atualizar o ‘manual’ do campeão?, que já vê sua artilharia do ano passado, com 18, se tornar incrivelmente modesta. Tem gol do Gabigol todo dia, e há um cartaz profético de torcedor para cada câmera de TV posicionada no estádio.
Se Gabigol sobra na artilharia, o papel de garçons está disputado. Tanto Dudu quanto Arrascaeta somam sete assistências. A diferença é que o uruguaio alcançou essa marca com sete jogos a menos.
Tal agressividade leva a outra lógica, ainda mais incontornável: se você tem o maior número de vitórias da competição – e os rubro-negros, com 13, o têm – fica irrelevante, no cômputo geral, se você toma um gol ou outro, ou mesmo se tomba com muitos gols num jogo fora, como aconteceu no 3 a 0 para o Bahia na Fonte Nova. Aliás, esse resultado que, em retrospecto, parece cada vez mais exótico, mesmo nos jogos fora: estreia de um Filipe Luís que voltava das férias, e o goleiro Diego Alves num momento especialmente ruim e por enquanto bem, superado.
O que nos leva a uma nova regra: é importante ter uma casa e ser parte dela. Desde que se tornou administrador do Maracanã, o Flamengo — tanto o de Abel Braga quanto o de Jorge Jesus — goza de um aproveitamento impressionante no Mário Filho. No Brasileirão, o único empate “doméstico” ali foi num Fla-Flu em que o mando era tricolor e o técnico, Abel.
Verdades? Para os outros
Mas há uma outra regra, e essa é o foco. É traiçoeiro acreditar no elogio fácil, ainda mais se raras vezes há a sensação de real exigência na competição. Na semana passada, Thiago Galhardo, do Ceará, disse em entrevista que o Flamengo obtém suas vitórias “sem fazer força”. É ótimo quando os adversários começam a acreditar nisso. Mas não é bom que o time tome isso para si como verdade. O jogo diante do Santos foi no Maracanã e foi incômodo, com 51% de posse de bola para os paulistas – que, curiosamente, nunca acertaram o gol.
Em 19 rodadas, o Brasileirão teve outros quatro líderes: o precoce Ceará, o breve Atlético-MG, o Palmeiras que nunca voltou da Copa América e o aplicado Santos.
A torcida se empolga. Analistas de futebol se encantam. Mas a folga de três pontos à frente de quem lhe faz escolta se perde em uma rodada. Pergunte ao Palmeiras, que já esteve cinco à frente e tombou.
Fonte: https://oglobo.globo.com/esportes/ensaiada-lider-do-turno-flamengo-desdenha-de-regras-do-manual-do-campeao-23950454
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