Quando decidiu participar de uma seleção de jogadores para categorias de base do Flamengo, Matheus ouviu do pai um pedido: que ele encarasse o processo sem que as pessoas no clube soubessem que é filho de Bebeto, tetracampeão mundial com a seleção brasileira e dono de vasta história com a camisa rubro-negra. O meia de 22 anos ainda tenta se livrar do aposto, mas deu um importante passo nesse sentido: após ter feito boa campanha com o Estoril no futebol português, assinou nesta semana um contrato de cinco anos com o Sporting Lisboa. Menos de um ano depois de ter saído de graça da equipe rubro-negra, Mattheus, o filho de Bebeto, agora tem multa rescisória de 60 milhões de euros (R$ 225 milhões).
No ano seguinte, Mattheus foi alçado aos profissionais do Flamengo. Estreou no Estadual do Rio de Janeiro e escolheu vestir a camisa 43, número que havia ficado marcado no clube em 2009, quando o sérvio Petkovic o elegeu para homenagear o gol de falta que tinha anotado em 2001, contra o Vasco, na decisão regional (aquela cobrança aconteceu aos 43min do segundo tempo). No caso do meia egresso da base, a justificativa era outra: a soma dos algarismos era 7, número que Bebeto carregou em grande parte da carreira (na Copa do Mundo de 1994, inclusive).
A trajetória de Mattheus no Flamengo, contudo, não repetiu os sucessos de Petkovic ou Bebeto. O meia chegou a emplacar alguns jogos como titular, mas teve desempenho extremamente irregular até 2013, quando o clube carioca chegou a dar como certa uma negociação dele com a Juventus. Em maio daquele ano, depois de as conversas com os italianos terem naufragado, o armador renovou contrato por mais três temporadas, com valorização salarial de 900%.
Depois da ampliação do vínculo, Mattheus chegou a evoluir individualmente e foi titular do Flamengo no início da temporada 2014. Aí apareceram duas questões que minaram a expectativa em torno do armador: o rendimento claudicante e a dificuldade na finalização. O jogador começou a ser muito cobrado por gols perdidos e chegou a ser vaiado pela torcida no Campeonato Brasileiro, em um revés por 4 a 1 para o Atlético-MG.
Aquela partida praticamente selou a saída de Mattheus, que trocou o Flamengo pelo Estoril em 2015. O time português, ligado à agência de marketing esportivo Traffic, pagou pelo empréstimo – o valor nunca foi divulgado, mas girou em torno de 1 milhão de euros (R$ 3,65 milhões) por uma cessão até junho de 2016, data do término do vínculo com os brasileiros.
Mattheus acumulou 20 jogos no Flamengo. A despeito de ter feito boas jogadas e mostrado qualidade técnica, deixou o clube sem ter balançado as redes.
No Estoril, o filho de Bebeto repetiu o início errático de trajetória. Sofreu para se consolidar na primeira temporada, mas deslanchou na campanha 2016/2017. Foram 26 partidas no Campeonato Português (titular em 25), com dois gols e quatro assistências. Mattheus seguiu como um armador que finaliza pouco, mas adicionou ao repertório um bom aproveitamento em bolas paradas. Além disso, notabilizou-se pelo comprometimento defensivo e pela versatilidade (atuou em pelo menos quatro funções diferentes do meio-campo, como segundo volante, armador pelo centro, aberto pela direita ou aberto pela esquerda).
O perfil que havia feito de Mattheus um jogador raro na base brasileira chamou atenção também em Portugal. O jogador passou a ser assediado por alguns dos grandes clubes do país e acertou contrato de cinco anos com o Sporting.
"Era esse o objetivo. Tínhamos outras propostas, mas o Sporting chegou na frente e acabou acertando. É um dos grandes da Europa", enalteceu Bebeto em entrevista ao site português "Sapo Desporto". Segundo o ex-jogador, a presença do técnico Jorge Jesus influenciou na decisão: "É um dos grandes treinadores da Europa. Não tenho dúvida de que o Mattheus vai render melhor com ele".
Em conversa com o jornal português "O Jogo", Bebeto foi ainda mais enfático. Segundo ele, a transferência de Mattheus para o Sporting é um estágio para que o meia volte a defender a seleção brasileira – ele acumula convocações apenas para as categorias de base: "As portas estão abertas. Só depende de ele encontrar seu espaço".
O fato é que a transferência foi uma prova de ascensão de Mattheus no futebol português. O jogador que há pouco mais de dois anos foi preterido pelo Flamengo voltou a ser tratado como um prospecto de potencial mundial.
Parte disso tem a ver com mudanças do próprio Mattheus. Além do processo natural de maturação, o armador tem a timidez como traço marcante de personalidade. De alguém que falava pouco na época do Flamengo, tornou-se um jogador mais solto na campanha mais recente com o Estoril. O cabelo mais longo e a barba por fazer são símbolos desse novo momento. Uol
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