Por André rocha | Uol:
Para entender o buraco em que o Flamengo está enfiado no início de junho de
2022 é preciso retornar a dezembro do ano passado.
Marcos Braz e Bruno Spindel foram a Portugal para convencer Jorge Jesus a
voltar. Motivados pelos lenços brancos da torcida do Benfica, em sinal de
adeus, para o treinador no Estádio da Luz durante a derrota para o Sporting
por 3 a 1. A crise em Lisboa parecia mesmo incontornável.
A dupla de dirigentes poderia ter conversado remota e discretamente com o
profissional, demonstrando o interesse, porém com a devida cautela.
Aproveitariam e fariam também reuniões virtuais com possíveis "planos B". Para
só viajarem com algo muito bem encaminhado, apenas para fechar o negócio com
as impressões do contato pessoal.
Mas preferiram criar um circo, com entrevistas enigmáticas e a infeliz ideia
de aparecer no Estádio do Dragão para ver o time encarnado levar uma sova do
Porto. O presidente do Benfica, Rui Costa, só demitiu Jesus pelo "motim" dos
jogadores em defesa de Pizzi, mas também pela certeza de que a dupla de
fanfarrões brasileiros já tinha fechado com outro treinador.
Paulo Sousa, que se comprometeu a pagar a multa da rescisão com a seleção
polonesa e usou um suposto interesse do Internacional para apressar a decisão
do Flamengo. Acelerada também pela pressão de dirigentes no Brasil,
especialmente do presidente Rodolfo Landim, que queriam uma solução
rápida.
Tudo em nome de um suposto planejamento que visava a pré-temporada. Não podiam
esperar até mais próximo da reapresentação dos jogadores, em 10 de janeiro.
Pois o Flamengo fechou com Sousa no dia 27 e o Benfica demitiu Jorge Jesus no
dia 29, dia da confirmação oficial do novo treinador rubro-negro.
Dois dias que custaram cinco meses de um trabalho que fracassou. Morreu na
primeira partida da final do Carioca contra o Fluminense, após dez dias de
preparação. Todas as ideias de rodízio, controle de minutagem, versatilidade
dos atletas, sistema tático variando do 3-4-2-1 com bola e 4-4-2 na fase
defensiva, as triangulações, a busca do homem livre, a ocupação dos
espaços...tudo ruiu ali. Também por culpa do desinteresse e das limitações de
um elenco mimado e acomodado.
Depois houve uma trégua, já que a direção garantiu a permanência da comissão
técnica - até porque demitir mais um treinador seria atestado de
incompetência. Sousa foi abrindo mão de suas convicções, uma a uma, em nome da
gestão de grupo. Mas a guerra entre o preparador de goleiros Paulo Grillo e
Diego Alves, com Sousa comprando a briga do membro de sua comissão técnica,
voltou a minar a relação com os jogadores.
O provável ato final de um trabalho que já fedia a podre foi uma derrota para
o Red Bull Bragantino, que não vencia há nove jogos. Com gol de Luan Cândido
em cobrança de falta lateral que desviou em Andreas Pereira, Hugo hesitou e o
lateral do "Massa Bruta" conferiu na segunda trave.
Para depois vir a sequência de erros técnicos e táticos de quase sempre, com
time espaçado, pouco criativo sem Arrascaeta, vivendo dos lampejos de lucidez
de Everton Ribeiro e sofrendo com Gabigol longe da área adversária. No final,
com um homem a mais depois da expulsão de Cândido por tapa no rosto de
Matheuzinho, o desespero com Pedro e Leo Pereira, zagueiro que virou um
segundo centroavante, na área adversária para receber cruzamentos a esmo.
Um desempenho lamentável e o resultado que coloca um dos elencos mais valiosos
do país a um ponto da zona de rebaixamento do Brasileiro. Sem grandes
perspectivas e entregue ao acaso mais uma vez. Porque é bem provável que os
mesmos que escolheram Sousa serão os que vão buscar um novo nome.
Na emergência, o melhor é contratar um treinador que conheça o futebol
brasileiro. Trazer um estrangeiro para se surpreender ao ficar sabendo que o
jogo da copa nacional, contra o Atlético Mineiro pelas oitavas, é tão ou mais
importante que o confronto com o Tolima na Libertadores, não parece uma
solução inteligente.
Este que escreve procuraria Juan Pablo Vojvoda, do Fortaleza. Mas,
honestamente, no lugar do técnico argentino, continuaria no clube cearense.
Porque o Flamengo é uma máquina de moer treinadores. Justamente pela
incompetência no momento da escolha.
Será a sexta mudança em três anos. Só uma deu certo. A exceção. Aquele que
Braz e Spindel não puderam esperar dois dias. 48 horas. Que evitariam,
inclusive, a postura lamentável e antiética de Jesus em sua "tour
carnavalesca" pelo Rio de Janeiro no final de abril.
Agora os dirigentes rubro-negros carregam nas costas mais um caminhão de tempo
perdido.
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Imagem: Divulgação