Por Fred Gomes | GE: Paulo Sousa voltou a pedir publicamente "mais fome" ao Flamengo no último
domingo após o empate com o Resende por 2 a 2. A entrevista coletiva sem
rodeios - tônica de sua passagem pela Gávea até então - para apontar ajustes a
serem feitos foi interpretada por muitos como "recado ao grupo", porém quem
está no dia a dia rubro-negra rechaça isso. O português diz aos microfones
praticamente o mesmo que falou com os jogadores minutos antes e dificilmente
os surpreende.
A sinceridade o fez ganhar o respeito do grupo. E o mesmo sentimento teve eco
na torcida, que entre domingo e segunda-feira de Carnaval fez a hashtag
#FechadocomPauloSousa tornar-se o assunto mais comentado no Brasil por algumas
horas.
O jeito direto, reto e sem curvas para mostrar como os processos devem ser
feitos, algo muito características dos portugueses, até causou estranhamento
num primeiro momento dentro do Ninho. Mas o fato de não mandar recado e nem
falar pelas costas, conforme pessoa que vive o dia a dia dele no CT relatou, o
permitiu deixar bem claro ao grupo sua metodologia de trabalho.
Uma marca de Paulo tem sido a visão macro de grupo em detrimento das
individualidades. Por isso não se priva de mexer tantas peças a cada partida e
de citar possíveis correções que gostaria de ver em determinados atletas.
Na primeira coletiva, pós-vitória sobre o Boavista, afirmou que Marinho
precisava acelerar menos o jogo. Cobrou mais eficácia dos atacantes, algo que
se repetiu na maioria das entrevistas. No jogo seguinte, derrota para o
Fluminense, bateu na mesma tecla de ser mais objetivo diante do gol adversário
e citou que atletas não haviam entendido o que pedira após o intervalo.
Já falou da necessidade de Pedro ter mais mobilidade e citou gols perdidos por
Gabi, como aconteceu no Fla-Flu. Enfim, por não fazer média e nem enrolar para
fazer cobrança aos seus comandados, tem ganhado a confiança deles.
Um conceito que trabalha desde a primeira reunião com o grupo, ocorrida em 10
de janeiro, é o seguinte: “Precisamos pensar no 'nós' antes do 'eu'.
Coletividade à frente da individualidade. Flamengo maior do que todos nós.”
Coerência agrada elenco
É evidente que Paulo já desagradou jogadores com substituições e opções
durante os jogos, mas algo que tem preservado é a coerência com o discurso
praticado no início do trabalho. Desde o primeiro dia afirma que os que
entenderem melhor seus conceitos estarão em campo.
E, embora clichê no futebol, reforça à exaustão que não trabalha com apenas 11
jogadores. Por isso, a troca de peças continuará constante ao longo do
trabalho.
Como repetiu em coletivas, pretende deixar o grupo equilibrado em relação à
minutagem para não ter perdas significativas quando vierem as convocações,
lesões e suspensões.
Conteúdo dos treinos e palestras também pesam a favor de PS
Atleta de alto nível entre os anos 90 e 2000 e bicampeão da Champions League,
Paulo Sousa não baseia seu discurso na carreira que teve como jogador.
Apresenta conteúdo novo corriqueiramente, algo que as lideranças do grupo
demandavam ao comando do futebol. Queriam novos conceitos para poderem voltar
a sobressair técnico e taticamente no continente.
Um dos primeiros impactos causados no grupo foi o pedido de um telão para
fazer correções táticas à beira do campo 1 do Ninho do Urubu. Em entrevista à
FLA TV concedida um dia após a vitória por 2 a 1 sobre o Audax, em que Paulo
Sousa foi chamado de "burro" pela primeira vez pelos rubro-negros, Gabigol
destacou o quanto estava surpreendido com os métodos apresentados pelo novo
treinador àquela altura.
- Estou muito feliz, fazia tempo que eu não aprendia tanta coisa assim em tão
pouco tempo. Creio eu que ele tem mais coisas para ensinar e mais coisas para
passar de novo. Tenho certeza absoluta que vai ser um ano especial para o
Flamengo. Estamos muito felizes com ele e espero que ele fique muito tempo no
Flamengo porque realmente tem sido um início maravilhoso. Eu acho que tem que
ter um pouco de paciência sim, a gente tem que entender que é um momento de
reformulação, momento que chegou um treinador muito, muito bom mesmo - afirmou
o camisa 9.
Se a torcida se manifestou via redes sociais que, em grande parte, está
"fechada com Paulo Sousa", o mesmo se repete no Ninho do Urubu. Marcos Braz e
Bruno Spindel estão muito satisfeitos com o trabalho até então. Ambos têm a
consciência de os resultados ainda não são os melhores, mas observam sinais de
maior comprometimento de todos em torno do mesmo ideal.
A postura de Arrascaeta é citada como exemplo de que os jogadores compraram a
ideia de Paulo Sousa. Jogador criativo e homem do último passe, o camisa 14
tem voltado para dar combate constantemente.
Sem medo de falar o que pensa tanto para dentro quanto para fora, Paulo Sousa
tem conseguido o respeito de comandados e torcedores. O Flamengo evoluiu, é
mais organizado e agride os adversários durante os 90 minutos.
Para ter seu nome gravado nas páginas rubro-negras, Paulo está ciente de que o
caminho é tão reto quanto o papo que leva com os jogadores: o das vitórias. Só
com elas que transformará o convincente e sincero discurso em faixas de
campeão.
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Imagem: Divulgação