Primeiro jogo no Brasil com venda de ingressos desde o início da pandemia de
coronavírus, o duelo entre Flamengo e Defensa y Justicia desta quarta-feira,
em Brasília, pela Libertadores, é encarado como um grande laboratório para a
retomada gradual de público nos estádios.
Não à toa, a CBF e outros seis clubes da Série A do Campeonato Brasileiro
enviaram representantes a Brasília para acompanharem a operação da partida. Há
a expectativa de que a entidade libere público nas quartas de final da Copa do
Brasil, por exemplo.
Para Luiz Eduardo Baptista, o Bap, vice-presidente de Relações Externas do
Flamengo, o jogo contra o Defensa passou bem em sua primeira avaliação, a
operação de pré-jogo. À frente do processo, o dirigente explicou ao ge, nesta
entrevista, as principais lições neste primeiro teste e também os próximos
passos no que deve ser um processo paulatino de evolução até que os torcedores
estejam completamente de volta aos estádios.
- A gente sabia que a barreira econômica era enorme. O jogo é mais um
laboratório para o retorno do que iniciativa para ganhar dinheiro. Pelo
contrário, vai perder (dinheiro). O ganho de estar voltando compensa. Qualquer
centena de milhar que a gente perder não é despesa, é investimento - afirmou
Bap.
Para o Flamengo x Defensa desta quarta-feira, a estimativa é de um público de
cerca de 7 mil pessoas. Um número considerado bom por Bap, em meio a
dificuldades logísticas e a uma nova camada de dificuldade imposta por
questões de segurança, o que resultou numa experiência menos cômoda para os
torcedores. Algo que deve continuar, pelo menos nos próximos meses.
Confira a entrevista na íntegra:
Teste para o futebol brasileiro
- Seis clubes da Série A enviaram gerentes operacionais para acompanhar o
jogo. Veio gente da CBF para acompanhar, ver junto que dá errado, o que pode
melhorar. É assim que a gente vai pavimentar o caminho para a volta do
público. A CBF está acenando com possibilidade de público a partir das quartas
de final da Copa do Brasil.
Situação do Flamengo para jogar no Maracanã
- O prefeito não tem demonstrado boa vontade que a gente entendia que devia
ter com o assunto. Não é por outra razão que viemos para Brasília. É provável
que a CBF libere para a Copa do Brasil, assim com a Conmebol liberou público
nos jogos da Libertadores nas cidades que assim permitissem. Vamos seguir com
as tratativas.
- No Rio se pode ir à igreja, ao shopping, que são espaços menores, mas não ao
estádio. O nosso ponto é: por que não pode público no Maracanã? Não faz
sentido. A vida está voltando ao normal com uma série de cuidados. A única
coisa que não pode é público em estádio.
Possibilidade de outras praças
- Até ontem (terça-feira), 12h, nenhuma cidade havia nos procurado. Depois,
pelo menos quatro cidades nos procuraram dizendo que têm interesse em receber
jogos do Flamengo se a CBF permitir que tenha público.
- Se a CBF permitir público no Brasileiro, e o Flamengo não puder ter público
no Brasileiro, vai jogar fora do Rio. Hoje, há um cenário diferente, porque há
seis meses só Brasília que procurava a gente permitindo público. A gente
entendia que tinha compromisso moral que a primeira praça fosse Brasília, foi
a primeira que se disponibilizou.
Balanço da operação de pré-jogo
- Está sendo surpreendentemente melhor do que a gente imaginava. Não quero
comemorar antes da hora, mas eu acho que estávamos tão preocupados, e
colocamos tanto tempo e energia para que nada desse errado, e as coisas
aparentaram ser mais simples do que imaginávamos. A surpresa até agora no lado
da organização está sendo positiva. Vamos ver como vai ser o jogo logo mais,
pra ver se será um sucesso.
Dificuldades logísticas
- No pré-jogo, o maior problema foi ser fora do Rio de Janeiro, ter que
esperar 48h para saber o resultado do exame de Covid. Isso traz um peso.
- A passagem aérea (do Rio para Brasília) estava custando R$ 1,2 mil. Na hora
que anunciamos o jogo, ela ficou R$ 960 mais cara. O exame de Covid devia ser
o rápido, de antígeno, mas houve um erro no decreto, e foi exigido o de PCR.
Um exame custa R$ 90, o outro (PCR), R$ 200. O exame custa mais caro que o
ingresso.
Lições na operação
- O estresse é muito mais em relação à adaptação comportamental do convidado
do que por uma complexidade operacional. Não é complicado gerenciar 5 mil, 6
mil pessoas num estádio. É até mais simples. Você determina isolamentos. É
mais simples até que jogo convencional, o controle é diferente.
- Não é mais entregar um convite na mão do cara. Nesse aspecto, o cara que
está comprando ele está tendo experiência menos desagradável operacional do
que o convidado. O cara quer quase que entregue o ingresso.
- Para a gente é óbvio, mas para alguns convidados não era o óbvio. Uma pessoa
me perguntou: “Você fez o exame?”. Estou vacinado com as duas doses, e ainda
assim fiz o exame de PCR para estar perto dos meus filhos. Você convida pai e
filho, se um vier com atestado de vacina e outro de PCR, eles ficam separados
no estádio. É um detalhe que faz diferença.
Venda de ingressos
- Acho que fomos felizes na história da compra online e da retirada do
ingresso com comprovante nominal e do exame. Teve gente que esperou sair o
resultado do exame. O fluxo de venda muda, o ritmo muda.
- Não teve pico de venda na largada. Mas também não caiu. Vende direto, porque
toda hora sai resultado do exame. Enquanto estou falando contigo (na tarde
desta quarta-feira), segue vendendo. Acho que vai ter 7 mil, 7,5 mil pessoas
no estádio. Para o preço que é (o ingresso mais barato custa R$ 140)... O
exame de PCR é mais caro que o ingresso. A demanda por exame de PCR dobrou o
preço. O pacote mínimo, ingresso mais exame, é R$ 350.
- Se botar tudo isso no papel, um jogo na quarta-feira, em que se decidiu o
local do jogo na última sexta, não está ruim. Vamos ver como será a operação
logo mais. Não está espetacular, espetacular seria vender os 18 mil ingressos,
mas não tem problema algum. Não teve grandes confusões, não teve briga, não
teve exame falsificado. Isso é ótimo.
Mudanças de comportamento para os próximos meses
- Isso vai ser uma mudança de comportamento. Quem comprava online só
apresentava o ingresso no celular. Você vai andar cinco anos para trás. Dá
mais trabalho para ir ao estádio. Vai ter que ir no posto de troca, apresentar
o documento, levar identidade, não pode mandar alguém ir no seu lugar. Você
tem que pegar seu ingresso. O cara vai te identificar, botar uma pulseira em
você. Não é operação tradicional
O que muda com jogos no Rio?
- Eu acho que vai ter uma simplificação grande. Tem alguns elementos que vão
simplificar. Não vai ter que viajar, comprar passagem aérea, pagar exame de R$
200, isso tudo joga a favor da compra. Mas é um hábito diferente. Se você
quiser ir a um estádio, vai ter que sair de onde estiver. Essa comodidade,
essa conveniência, não vai existir, tranquilamente, até o fim do ano.
- É um processo de evolução. Acho que essa normalidade volta no ano que vem.
Acho que em outubro não precisará mais separar vacinado. Pela idade do cara,
talvez em outubro não precise retirar o ingresso. Talvez essa inconveniência
vá diminuindo para alguns grupos de torcedores.
Planejamento para sócios-torcedores
- Ele teve desconto especial e quase 36 horas de frente para comprar (no jogo
contra o Defensa). Isso vai permanecer. Na evolução dessa experiência, o
sócio-torcedor vai ser privilegiado com toda certeza. Só não tem diferença
nesse processo de identificação, porque é um processo de segurança. Não é
contra, é a favor da saúde. Não adianta fazer para 99%, e 1% não fazer. Esses
1% colocam em risco os 99%.
- Mas acho que o sócio-torcedor vai ter vantagem da possibilidade de comprar
antes e de ter um desconto. No caso da gente, o desconto tende a ser mais
generoso do que antes. A gente se comprometeu, tem que retribuir aqueles que
ficaram contribuindo com a gente durante um período em que não puderam
usufruir.
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Fonte: https://ge.globo.com/futebol/times/flamengo/noticia/bap-ve-flamengo-x-defensa-como-laboratorio-e-acredita-em-processo-de-evolucao-na-retomada-de-publico.ghtml
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