Por Rodrigo Capelo | GE: Talvez sem a mesma surpresa do ano anterior por ter acabado de ser campeão, o Flamengo começou 2020 com três aquisições de respeito: Léo Pereira, Michael e principalmente Gabigol. Todos valorizados e promissores. Consequentemente, caros. E aí começou a pandemia...
No decorrer desta semana, o ge analisa em textos individuais as finanças dos principais clubes que publicaram balancetes – documento feito pelos departamentos financeiros com a visão parcial das finanças até 30 de junho. Ouça também o podcast Dinheiro em Jogo sobre o assunto.
Dívidas
Começar lembrando as contratações feitas no início da temporada, quando ninguém imaginava que o planeta pararia por causa da pandemia do coronavírus, é a chave para entender o motivo e a gravidade da situação financeira rubro-negra.
No primeiro semestre, o Flamengo elevou consideravelmente o seu endividamento. Os R$ 540 milhões que havia terminado na temporada anterior viraram R$ 703 milhões. Antes de ter uma síncope, no entanto, recomendamos calma para entender esses números.
O primeiro recorte necessário para compreender o caso é o do prazo para pagamento. Deste monte de dinheiro, "apenas" R$ 263 milhões têm vencimento em período inferior a um ano – portanto até junho de 2021.
Não que faça muito diferença para a análise individual, mas para ter a dimensão, pelo menos três adversários têm dívidas de curto prazo acima dos R$ 400 milhões: Internacional, Cruzeiro e Corinthians.
E por que a dívida rubro-negra aumentou no primeiro semestre? O segundo recorte, por natureza do compromisso, facilita o entendimento.
A vencer no curto prazo:
- R$ 63 milhões a mais por direitos de atletas comprados
- R$ 33 milhões a mais em empréstimos e financiamentos
- R$ 7 milhões a mais em fornecedores
- R$ 23 milhões a menos em impostos
- R$ 5 milhões a menos em obrigações trabalhistas
- R$ 70 milhões a mais por direitos de atletas comprados
- R$ 11 milhões a mais em contingências
- R$ 2 milhões a mais em impostos parcelados
- R$ 13 milhões a menos em empréstimos e financiamentos
Em português claro, duas decisões impactam o endividamento. A primeira é comprar direitos de jogadores para reforçar o elenco. Não há torcedor que desgoste de investimento. Uma vez que o fluxo de receitas foi interrompido temporariamente pela pandemia do coronavírus, veio a segunda decisão: pegar dinheiro emprestado para resolver urgências.
Não são dívidas com o sentido popular da palavra – não se trata de calote ou salário atrasado. Mas são compromissos a honrar. Fora que parte relevante deste monte também é "corrente", usando o linguajar do financeiro: como o balancete fecha em 30 de junho, despesas correntes a pagar em julho também são pendências que aparecem no passivo.
Eis um terceiro e último recorte, antes de seguir em frente. Entre jogadores comprados recentemente, esses eram os valores devidos pelo Flamengo especificamente em 30 de junho de 2020:
- R$ 83 milhões pelos direitos do Gabigol
- R$ 6 milhões pela intermediação do Gabigol
- R$ 27 milhões pelos direitos do Léo Pereira
- R$ 31 milhões pelos direitos do Michael
- R$ 4 milhões pela intermediação do Michael
Divididos entre curto e longo prazo. Comprar jogador em alta custa caro.
Dá para pagar?
A resposta para a pergunta mais importante de toda esta conversa depende de duas coisas: recebíveis e resultado operacional. Neste trecho daremos atenção ao primeiro termo empolado.
Assim como comprou jogadores, o Flamengo vendeu. O caso mais famoso neste semestre foi o de Reinier, vendido para o Real Madrid. Mas não foi o único. A transferência de Jean Lucas para o Lyon também aconteceu antes de fechar o balancete deste período.
Valores a receber por jogadores
- R$ 98 milhões no curto prazo
- R$ 41 milhões no longo prazo
O clube tinha em 30 de junho quase R$ 12 milhões a receber de patrocinadores e sócios-torcedores no curto prazo. Este crédito talvez seja um pouco mais problemático, em decorrência da pandemia.
Como o Flamengo também tinha R$ 71 milhões em caixa e equivalentes na data de fechamento do balancete, você soma com créditos de patrocinadores e sócios, créditos por jogadores vendidos para a Europa – onde o risco de calote é menor, aliás –, e a dívida de curto prazo que abriu este texto já não parece tão difícil assim de lidar.
Receitas e despesas
Para fecha esta conta, o Flamengo ainda precisa de um resultado operacional positivo. Ou seja, que na diferença entre arrecadação e gastos do cotidiano sobre alguma coisa para pagar as dívidas.
Ao verificar as receitas, a primeira conclusão é que elas foram derrubadas pela pandemia. Mas, de novo, tenha calma. Na televisão, o Flamengo recebeu da Globo pelos seus direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro. Mas a competição ainda não tinha começado, então não os contabilizou como receitas. Coisa de contador.
O departamento comercial gerou mais dinheiro do que no primeiro semestre do ano passado, apesar da crise. Bom sinal. As associações – soma de sócios-torcedores com filiados que frequentam a Gávea – também aumentaram na mesma comparação.
Na linha de transferências de atletas, o valor menor não chega a ser um problema. Primeiro porque foi o maior do futebol brasileiro no período. Segundo porque, na verdade, a temporada retrasada é que havia sido excepcional. Havia Lucas Paquetá nele. Não há muito o que criticar.
O ponto de interrogação está nas bilheterias. Campeonato Carioca, Libertadores e Recopa até largaram bem, mas a pandemia interrompeu competições e afastou o público das arquibancadas. No segundo semestre, a perda deve ser ainda maior. É por essas e outras que o Flamengo liderará o lobby pela volta do público ao estádio.
Nas despesas, ocorreram dois movimentos. Nas despesas administrativas e nos custos do futebol – hospedagem, transporte etc –, houve redução em relação ao primeiro semestre de 2019.
Na folha salarial (salários, direitos de imagem e de arena etc) houve um aumento. O clube passou de R$ 119 milhões nos seis meses iniciais da temporada anterior para R$ 145 milhões nos seis meses de 2020. Aqui constam salários de espores olímpicos e atividades sociais porque o Flamengo deixou de detalhar separado o custo do futebol profissional.
A pandemia impõe desafios e imprevistos. Remanejamento de custos e dívidas, tomada de empréstimos, talvez revisão de investimentos que a diretoria de Rodolfo Landim por ventura ainda faria. Enquanto a conta estiver fechando no azul – e tudo indica que ela continua a fechar –, o torcedor pode curtir o futebol em campo sem desespero com o entorno.
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Fonte: https://globoesporte.globo.com/blogs/blog-do-rodrigo-capelo/post/2020/09/16/desafiado-a-se-manter-no-eixo-em-tempos-de-pandemia-flamengo-mostra-no-primeiro-semestre-que-continua-equilibrado-nas-financas.ghtml
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