Entenda por que chegada de Torrent no Flamengo pode mudar o time, mas não deve causar revolução



Um mergulho na temporada 2019 do New York City na MLS — a liga de futebol dos EUA— ajuda a desvendar um pouco do ideário futebolístico do catalão Domènec Torrent, favorito a assumir o Flamengo. Mudanças de treinador impõem adaptações: do time ao técnico e do técnico ao novo ambiente. Torrent não é da “escola Jorge Jesus”, mas ainda assim sua chegada pode não causar a revolução que muitos rubro-negros temem após o sucesso do antecessor.


O Flamengo trocou um adepto da mobilidade no ataque por um espanhol da escola do “Jogo de Posição”. A grosso modo, a ideia é que jogadores ocupem determinada zona do campo ao atacar e “esperem a bola chegar a eles”. Tal forma de jogar tem Guardiola — a quem Torrent auxiliou por 10 anos, antes de ir dirigir o New York City — como ícone. No entanto, logo surgiram preocupações. Por exemplo, a imagem de que tal filosofia privilegia sistemas com três atacantes e pontas abertos, junto à linha lateral. O que decretaria o fim da dupla Gabigol e Bruno Henrique, e exigiria uma adaptação para Éverton Ribeiro e Arrascaeta.


Não necessariamente. É natural que Torrent, gradativamente, conduza o time ao tipo de futebol em que acredita e implante o Jogo de Posição. Mas o New York City exibiu um técnico flexível, em especial em relação a sistemas. Seu time nem sempre foi brilhante numa liga um tanto caótica — o que tem a ver com a qualidade dos jogadores. Ex-técnico do modesto Girona antes de auxiliar Guardiola, Torrent terá nas mãos no Flamengo o melhor elenco que já dirigiu como treinador principal.

DUPLA DE ATAQUE

Na reta final da temporada, o time jogou preferencialmente no 4-2-3-1. Mas os pontas, um deles meia de origem, jogavam com o chamado “pé invertido” — um destro na esquerda e um canhoto na direita. Nada tão distante de Éverton e Arrascaeta.


Nos dez jogos finais da temporada, ele usou cinco sistemas diferentes. A semifinal da Conferência Leste — a MLS divide os times em dois grupos, leste e oeste—, quando o time foi eliminado após fazer a segunda melhor campanha geral na primeira fase, é um exemplo. No intervalo, Torrent passou do 4-2-3-1 para um sistema com dois atacantes e um losango no meio-campo (4-3-1-2).

. Foto: Arte O Globo
Foto: Arte O Globo

Ao longo da campanha, alternou linhas de quatro ou de cinco defensores. E nem sempre fixou os pontas pelo lado, muito abertos. Por vezes, laterais abriam o campo e os pontas ficavam mais perto do centroavante, com liberdade nos últimos metros de campo. Neste modelo ou no 4-4-2 o time alternou melhor as jogadas pelo lado e pelo meio, como fazia o Flamengo de Jesus. Aliás, a torcida do Flamengo se habituou a uma chegada rápida ao gol. O NY City o fazia muito bem após sua saída de bola vencer a primeira linha de pressão adversária. A média de 56% de posse indica um time que queria a bola, mas sem depender de se instalar no campo rival com posses longas.


A boa saída de bola era crucial para o NY. Muitas vezes, pressionado atrás, recorreu a bolas longas para atacantes isolados. Mas o time teve o segundo melhor ataque da MLS em 2019. Nos “Gols Esperados”, métrica que avalia a qualidade das chances e a probabilidade de que virem gol, foi o oitavo na liga.

. Foto: Arte O Globo
Foto: Arte O Globo

O NY gostava de trocar passes na defesa, tentando atrair o adversário. Algo diferente do Flamengo de Jesus. Mas, como o rubro-negro, pressionava no campo de ataque, onde fez 31% da suas retomadas de posse.

A prioridade era por construir pelo chão. Em 2019, foi a sexta equipe da liga que menos cruzou: 13,1 por jogo. As partidas em que o time cruzou mais de 20 vezes coincidem com derrotas ou viradas obtidas no fim, revelando uma solução alternativa quando o modelo habitual não permitiu chegar ao gol.


Fonte: https://oglobo.globo.com/esportes/flamengo-entenda-por-que-chegada-de-torrent-pode-mudar-time-mas-nao-deve-causar-revolucao-24557785

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