Após surgir como uma das maiores promessas da base do São Paulo, Harison se destacou na Ponte Preta antes de chegar badalado ao União de Leiria, em Portugal. O camisa 10, que gostava de chegar na área e fazer gols, foi surpreendido pelo técnico Jorge Jesus na temporada 2005/06.
O brasileiro conhecia um pouco da fama do Mister, que já era muito exigente desde seus primeiros trabalhos.
"No meu primeiro treino eu comecei a segurar demais a bola. Ele parou a atividade e falou: ‘Você não é o Pelé! Vai ter que tocar a bola’. Todo mundo começou a rir. Em Portugal, não dá para prender tanto porque a marcação é muito mais forte. Daí, ele me puxou para trás e me colocou de segundo volante", contou o ex-jogador ao ESPN.com.br.
Apesar da fala dura e irônica, Harison acatou as ordens do comandante.
"Eu poderia ter ficado p... e não ter feito o que ele queria, mas não iria jogar. Infelizmente, o jogador brasileiro é meio cabeçudo. A Europa meio que muda a gente", admitiu.
O ex-jogador acredita que tenha passado pelo mesmo processo que um atual destaque do Flamengo.
"Ele falava que, quando eu tocava a bola rapidamente, desmontava o adversário. Ele pediu para as jogadas saírem do meu pé porque eu era um criador. Ele dizia que eu era um pouco lento e não iria conseguir fazer o que ele queria na frente. Eu tinha um passe muito bom, não perdia e bola e achava a solução para o time sair jogando. Me vi na mesma situação do Gerson. Se fosse outro treinador, iria colocá-lo de meia e acabou."
De um meia que tinha feito 12 gols na Ponte Preta em poucos meses, Harison tornou-se um volante que não balançava as redes, mas conseguia ditar o ritmo da equipe.
"Tinha jogos que os jornais falavam em duelo de maestros contra o Rui Costa, do Benfica. Se jogasse como era acostumado no Brasil, não teria conseguido o sucesso que tive em Portugal. Eu dei mais de 20 assistências e mudei totalmente meu jogo. Com esse novo estilo, consegui atuar em outros países", garantiu.
Um dos traços que mais chamava atenção do brasileiro era a forma como Jesus sabia ler o jogo. O técnico assumiu um time que estava na 15ª colocação na Liga Portuguesa e conseguiu terminar a temporada na 7ª colocação.
Contra os grandes, foram duas derrotas apertadas para Sporting [2 a 1 fora e 1 a 0 em casa] e Porto [3 a 1 em casa e 1 a 0 fora] e vitória por 3 a 1 sobre o Benfica.
"Ele falava coisas específicas das jogadas e que funcionavam: 'Se você der o passe aqui, a bola vai passar por ali e vai sair o nosso gol'. E acabava em gol. Depois dos jogos, ele dizia: ‘Tá vendo? Eu sou bruxo! Pode confiar em mim, que a coisa vai acontecer. Se vocês fizerem o que estou falando, nós vamos ganhar'. A gente achava estranho e brincava: 'Ele é doido ou vidente?'", analisou.
No final da temporada, Jesus trocou o Leiria pelo Belenenses, clube no qual virou sensação em Portugal após se classificar à Liga Europa. Depois, o Mister passou por Braga, Benfica, Sporting e Al Hilal antes de chegar ao Flamengo.
Não gosta de rodízio
O treinador não gostava de mudar a formação titular da equipe ou fazer rodízio de jogadores, algo muito comum na Europa. Por isso, a parte tática era treinada à exaustão.
"Ele cobra demais para acertarmos os passes. A gente treinava até mesmo no dia dos jogos as situações de jogo e o posicionamento. Coisas que nunca vi em nenhum país no mundo. O Jesus corria com a gente e colocava estacas no campo para posicionamento. Ele gostava de automatizar o sistema dele de jogo nas nossas cabeças", contou.
Harison acredita que um dos maiores méritos do técnico do Flamengo é tratar o elenco de forma igual.
"Ele não gosta de privilégios e nem que o cara seja humilhado. Mesmo quem está na reserva não se sente rejeitado. A mesma dura que ele dá no astro ele dá no reserva. Tem técnico que só liga para os titulares. O Jesus deseja ver os caras crescerem. Por exemplo, o Reinier estava dando vários toques de calcanhar e poderia errar. Ele falou aquilo e o moleque evoluiu muito em pouco tempo", analisou.
Fonte: https://www.espn.com.br/futebol/artigo/_/id/6478530/hoje-no-flamengo-jorge-jesus-ja-deu-uma-de-vidente-eu-sou-bruxo-pode-confiar-em-mim
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