Busca por Jesus, fritura silenciosa e pedido que soou mal: bastidores da saída de Abel do Flamengo



Os bastidores do pedido de demissão feito por Abel Braga começaram a se desenhar antes desta quarta-feira, quando o técnico foi ao Ninho do Urubu se despedir dos jogadores.



Mais do que os gritos das redes sociais e das arquibancadas, a falta de respaldo da diretoria, um processo de fritura interna e o nome de Jorge Jesus no radar culminaram no pedido de saída feito pelo treinador.

Mas, independentemente dos incômodos de Abel, a direção rubro-negra já desaprovava o trabalho, apesar de destacar os resultados.

O destino estava selado. O técnico, que até a tarde de segunda-feira não cogitava pedir o boné, decidiu se antecipar depois do estopim na terça-feira.



Enquanto confraternizava com funcionários do departamento de futebol e elenco a conquista do título carioca em churrasco organizado e já previsto pelo próprio Flamengo no CT, Abel foi surpreendido pela notícia de que a diretoria "aconselharia a escalação do time titular contra o Fortaleza". Foi a gota final de um copo que transbordou com as notícias que vinham de Portugal.

Veja os motivos:

O estopim

O estopim da relação que já não vinha bem com alguns dirigentes foi a cobrança após Abel dizer que era "óbvia" a escalação de reservas contra o Fortaleza no jogo de sábado, no Nilton Santos. A declaração causou reação imediata nos dirigentes, que, incomodados com a batida de martelo sem consulta, aconselharam o treinador a utilizar força máxima.



Abel ficou contrariado, mas tendia a mesclar titulares e reservas. Renê, por exemplo, será poupado, uma vez que Trauco estará à disposição da seleção peruana. O conflito, por sua vez, era evidente e foi determinante para que o treinador pedisse o boné.

A ligação e a decisão

Na noite de terça-feira, Abel deixou clara sua insatisfação e já projetou a saída em ligação telefônica para Luiz Eduardo Baptista, o BAP, vice-presidente de marketing, mas que tem extrema influência no futebol, e com o presidente Rodolfo Landim. Sempre foi BAP o principal defensor do treinador na diretoria e o primeiro a levantar seu nome quando Renato Gaúcho era quase unanimidade.



O treinador colocou todo seu incômodo para fora. Ali, a decisão de sair já estava tomada. Ainda mais com a notícia de que integrantes da diretoria foram contrários a escolha de Abel em escalar reservas na partida de sábado, contra o Fortaleza, no Nilton Santos.

Notícias de Jorge Jesus

À essa altura, Abel Braga, que tem muito contato com pessoas do futebol português, onde trabalhou por sete anos, já tinha conhecimento de contatos de representantes do Flamengo com Jorge Jesus. Abel ligou para dois profissionais com quem trabalhou em Portugal e confirmou a informação.



Jorge Jesus esteve no Independência para assistir a Atlético-MG e Flamengo. Na ocasião, dirigentes do Galo descartaram negociação com o treinador português. Quem acompanhava Jesus na partida era Lucca Bertolucci, filho do influente empresário Giuliano Bertolucci. Giuliano é quem trata da negociação com o Flamengo.

Não será surpresa de Jorge Jesus desembarcar no Rio de Janeiro nos próximos dias.

Desabafo aos jogadores; Diego pede a palavra

Abel Braga manifestou seu incômodo com a forma como foi tratado pela diretoria. Disse textualmente ao grupo que foi traído, que não recebeu respaldo, que nunca ninguém foi a público defendê-lo mesmo diante de tanta pressão externa. O treinador externou aos ex-comandados a mágoa que pouco depois transformou em nota oficial.



Diego foi quem pediu a palavra e proferiu palavras de carinho para Abel. O restante do grupo ainda aplaudiu o ex-treinador no contato final antes de abraços.

Fritura e o último pedido para Abel

Desde o início do trabalho no Flamengo, Abel sempre se sentiu desprotegido por membros do departamento de futebol. A relação era fria com o vice de futebol, Marcos Braz, e o gerente, Paulo Pelaipe. A maior proximidade era com o diretor Carlos Noval que, na terça-feira, conversou bastante com o treinador e passou confiança.



Abel se sentiu traído por membros da diretoria que o acarinhavam pela frente e arquitetavam uma troca nos bastidores. Bruno Spindel, um dos negociadores em Portugal, é homem de confiança justamente de BAP, aquele que, imaginava-se, o defendia.

O primeiro contato com Jorge Jesus aconteceu há mais de um mês, quando o português foi oferecido, e os dirigentes deixaram a situação em modo de espera.

Na noite de terça-feira, a diretoria do Flamengo tentou dar sua última cartada, mas o pedido soou inusitado. O time tem mais quatro jogos até a Copa América: Fortaleza e Fluminense, pelo Brasileiro, e Corinthians, pela Copa do Brasil. E ainda o CSA, também pelo Brasileirão.



Em vez de sugerir que Abel ficasse até a parada do Brasileirão, a sugestão foi para que ficasse até o duelo com o Corinthians, terça-feira, pela Copa do Brasil.

Abel não precisou pensar muito para saber que, em caso de eliminação, o mundo e a culpa cairiam nos seus ombros; e em caso de classificação os méritos seriam poucos e desfrutados por um novo treinador. Foi o fim da linha de Abel no Flamengo.


Fonte: https://globoesporte.globo.com/futebol/times/flamengo/noticia/busca-por-jesus-fritura-silenciosa-e-pedido-que-soou-mal-bastidores-da-saida-de-abel-do-flamengo.ghtml

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