Globoesporte.com - Ao redor da Ilha do Urubu, antes da boa vitória do Flamengo por 2 a 0 sobre o Santos, o GloboEsporte.com abordou torcedores e fez, basicamente, duas perguntas.
2 - Você tem acompanhado o assunto e as justificativas da diretoria?
Depois de três jogos sem lotação, com ticket médio próximo de R$ 60 e público máximo de 14.498 pagantes contra o Santos, na última quarta-feira, as respostas não variaram muito.
Foram 10 sócios torcedores, de planos de associados do clube, profissões e condições econômicas diferentes, ouvidos pela reportagem. Eles até mostraram certa compreensão com a diretoria de Eduardo Bandeira de Mello, pois entendem que o clube vê na bilheteria fatia importante da receita - no orçamento de 2017, a arrecadação total prevista é de R$ 61 milhões (bruto). Mas acham que desta vez o clube pegou pesado nos valores. Querem compreensão recíproca.
Além dos torcedores, a reportagem pediu à assessoria de imprensa do clube entrevista com porta-vozes para entender algumas questões: qual o critério para a definição de preços de ingressos? É levado em conta a comparação com outros clubes? O estádio menor tem efeito sobre o preço? É para garantir bilheteria mínima? O clube enviou texto, que serviu de posicionamento oficial. Leia, na íntegra, no fim da reportagem.
Na véspera da partida contra o Santos, a torcida organizada Raça Rubro-Negra protestou, em nota, contra os preços das partidas. Uniformizadas e torcedores do São Paulo anunciaram que não vão ao jogo de domingo em protesto pelo preço do setor de visitantes. Nessa quinta-feira, o grupo "Fla+", que entrou com representação contra Bandeira, pelos gestos a torcedores em Santa Catarina, pediu explicações da diretoria, com apresentação de documentos, sobre a precificação na Ilha.
A diretoria discute o assunto internamente (leia a nota mais abaixo). Há entendimento de que a comparação com o Maracanã não se adequa à Ilha, pois no ex-Maior do Mundo os sócios torcedores variavam entre 15 mil e 20 mil pessoas. Na Ilha, agora com 100 mil sócios, isso significa a lotação do estádio Luso-Brasileiro. A sensação que fica é que os ajustes não devem ser muito diferentes do que já foi praticado contra o Santos.
CONFIRA O QUE PENSAM 10 TORCEDORES DO FLA
Pedro Cavalcanti, 20 anos, e Lucas Figueiredo, 19. Estudantes de Educação Física - Plano: Os dois são do plano "Raça". Pagam R$ 39,90 de mensalidade.
Os dois amigos estão escolhendo jogos para pagarem ingresso para assistir ao Fla. Pedro foi a três jogos antes do Santos, pela Copa do Brasil – ingresso no qual pagou R$ 45. Pagou R$ 10 para assistir à final da Copa do Brasil Sub-20 (Flamengo x Atlético-MG) e mais R$ 120 pelas partidas contra Ponte Preta e Chapecoense – R$ 60 cada um. Lucas foi contra o Atlético-MG, por R$ 10, mais a partida contra o Santos, de R$ 45.
- Não estou vindo a todos os jogos. Enquanto não baixarem os ingressos, vou escolher em que jogo vir. Acho um absurdo o preço. No Brasileiro, anteriormente, pagava R$ 20 pela meia da meia. Na Libertadores, até R$ 30 por jogo. O que acontece na Ilha é que quando chega o meu benefício da prioridade para o plano Raça, a Norte, que é a mais barata entrada, já está esgotada - contou Lucas.
Vitor Felix, 24 nos. Estudante de Administração - Plano: "Raça". Paga R$ 39,90 por mês.
Vitor é um dos torcedores que mostraram lado compreensivo, fazendo a ressalva que a maioria dos rubro-negros, sócios, paga até meia-entrada da meia-entrada. Mas se queixa igual do preço.
- O pacote mais barato do Brasileiro custava R$ 104 para três jogos, no setor norte. Mas não consegui comprar porque já estava esgotado. Eu comprei o pacote de R$ 152, para o setor leste. Quem paga o plano de sócio mais barato termina comprando o setor mais caro. Então, são R$ 152 pelo pacote, mais R$ 45 (Santos) e R$ 39,90 do plano. Dá uns R$ 237 por quatro jogos. Já são 100 mil sócios, dá para faturar sem meter a mão no ingresso. Eles (diretoria do Flamengo) acham que o torcedor pode fazer up grade no programa, mas eu acho que vão acabar desistindo - opina Vitor.
Andrei Távora e Vitor Fernandes, 23 anos. Militares - Andrei é sócio do "Sou + Raça", paga R$ 69,90. Vitor é do "Raça". Paga R$ 39,90.
- Comprei setor sul. Meia-entrada da meia por R$ 60. Acho que o preço está salgado. A torcida do Flamengo é muito povão. Tinha que ter pacote mais acessível. Tenho muitos amigos que não estão vindo aos jogos - contou Andrei.
- A gente mora na Região dos Lagos, em Araruama. Então, no meu caso, ainda tem o dinheiro da passagem. A gente é sócio para ajudar o Flamengo, mas quer que seja recíproco. Assim, somando a mensalidade, quase não está valendo a pena ser sócio-torcedor - disse Vitor.
Com planos diferentes, torcedores discutem os benefícios do sócio torcedor: Com planos diferentes, torcedores discutem os benefícios do sócio torcedor:
Sueli Alvarenga, 55 anos, e Paula Alvarenga, 21 - A mãe, que é sócio-proprietária do Flamengo, e a filha têm plano familiar, o “+ Paixão”. Pagam R$ 200, mais R$ 30 por cada um dentro do plano. No total, R$ 290.
- Antes, era R$ 60 a inteira, sócio-torcedor pagava R$ 30, eu pagava R$ 15, a meia da meia. Esse jogo contra o Santos paguei R$ 45. Antes, peguei o pacote de R$ 104, que é o mais barato para quem é sócio-torcedor. Mas só consigo porque eu pago o plano mais caro. Meu pai, por exemplo, paga R$ 208. Mas é muito mais caro do que antes. Cheguei a pagar R$ 12,50 ou R$ 20 por jogo. Contra o Fluminense, que não teve sócio-torcedor do Fla, paguei R$ 30 (meia por ser estudante). Eu não vou deixar de ir, mas sei que tem gente que não vai poder continuar vindo - afirmou Paula.
Douglas Martins e Wilker Fonteles, 25 anos. Estudante e corretor, respectivamente - São do plano "Raça", pagam R$ 39,90.
- Por um lado é caro, mas entendo que a maioria paga meia da meia. Só sócio-torcedor que consegue vir. Público em geral não dá. Até porque são 100 mil sócios, um estádio para 20 mil, ou seja, 20% dos sócios já enchem o estádio. Antes, pagava R$ 20, R$ 30 em jogos normais. Paguei R$ 75 em pacote de três jogos na Libertadores de 2013. Por isso não está enchendo. Ainda tenho que ouvir amigo botafoguense zoando que estádio para 20 mil e não enche - lembrou, rindo, Douglas.
Sabrina Vianna, 31 anos. Professora - Plano "Raça". Paga R$ 39,90 por mês.
A torcedora lembra o ânimo dos torcedores cariocas pelo retorno do time à cidade, mas confessa que sentiu o golpe - "um banho de água fria logo de primeira". Lembra que os preços eram bem acima dos cobrados no Maracanã e Volta Redonda.
- O desafio da diretoria, agora, é continuar o projeto de trazer o torcedor pra perto do time. Mas, até agora, ela está afastando boa parte da torcida (seja sócio torcedora ou não) pelo alto preço e arranhando o relacionamento com quem está indo aos jogos. As pessoas mesmo indo se sentem lesadas. Pagam o ST, mais o ingresso. Infelizmente, a diretoria se apoia no discurso da meia-entrada e que o ticket médio praticado não é tão alto. Mas mesmo assim o valor segue sendo maior do que estávamos acostumados a pagar. É necessário que haja um meio termo e mais boa vontade. O ano é longo, ainda há muitos jogos em casa, e o time precisa, mais do que nunca, se sentir acolhido novamente - disse Sabrina.
Mas também tem aqueles que ainda não conseguiram ir por causa do preço dos ingressos...
To querendo muito ir pra ilha, mas com esse ingressos caros do jeito de estão, vai demorar.— June 28, 2017
tô louca pra ir em algum jogo na Ilha do Urubu, mas os ingressos estão mt caros— June 29, 2017
Público na ilha hoje é reflexo do preço do ingresso— June 29, 2017
A NOTA DO FLAMENGO
"É importante explicar ao torcedor que a estratégia para estabelecer os preços dos ingressos depende de um conjunto de variáveis, entre elas o apelo da partida, o momento do time, dia e horário dos jogos e custos de operação do estádio, além de refletir a necessidade de o Flamengo cumprir a previsão de bilheteria que está em seu orçamento.
A precificação de jogos em um estádio com a capacidade da Ilha do Urubu é uma experiência nova para o Flamengo no Rio de Janeiro. Iniciamos a operação com a venda de um pacote para três jogos do Campeonato Brasileiro, o que fez com que não fosse possível alterar individualmente o preço de cada partida.
No jogo contra o Santos, pela Copa do Brasil, já realizamos um ajuste igualando os preços dos setores leste/oeste/sul. Agora, vamos analisar jogo a jogo em busca de um ponto de equilíbrio que faça com que tenhamos ocupação máxima do estádio e ao mesmo tempo operemos com uma margem de resultado adequada.
É importante salientar que será natural, pelas características da Ilha do Urubu (localização e capacidade), que tenhamos uma ocupação predominante de sócios-torcedores em todos os setores.
Apesar do questionamento em relação aos valores nominais dos ingressos, uma análise mais apurada dos borderôs mostra o alto índice de benefícios de descontos para sócios, meia-entrada e gratuidades.
Estamos trabalhando para encontrar o melhor equilíbrio possível, considerando todas essas variáveis."
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