Diretor da FERJ justifica regulamento do Carioca e cita audiência



O Fla-Flu deste domingo, às 16h, em Cariacica (ES), não vale nada — ou quase isso — para os clubes. Mas é carregado de simbolismo. É fruto de um Estadual marcado pelo regulamento que ajudou a despencar a média de público para o pior patamar da década — 2.560 pagantes por jogo. Com ambos já classificados para a fase final do Estadual e com a vantagem do empate garantida, o duelo está por conta da rivalidade própria do clássico.

— Chegar classificado nessa etapa acaba esvaziando. Mas estamos encarando o jogo de forma séria, mais uma prova — avaliou o técnico Zé Ricardo, do Flamengo.

No centro da polêmica está a criação da semifinal do Estadual. Antes de o campeonato ser disputado em turno único — como nas últimas três edições —, os campeões das taças Guanabara e Rio decidiam o troféu principal (caso o mesmo vencesse os dois, também levava o título carioca). A novidade deste ano diminuiu a importância de se conquistar os turnos.

— A fórmula foi determinada principalmente para contemplar a TV com a final em duas partidas — explica o diretor de competições da Federação do Rio (Ferj), Marcelo Vianna. — Nos anos anteriores, o vencedor dos dois turnos era o campeão, fato que interferia diretamente na audiência, por suprimir duas partidas decisivas e deixar a TV sem datas na programação esportiva.

SÉRIE DE PROBLEMAS

A consequência maior é um esvaziamento dos estádios, acentuado na Taça Rio. Do primeiro para o segundo turno, a média de pagantes caiu quase que pela metade (na Taça GB foi de 4.403 por jogo).

— Inúmeros fatores podem ter contribuído, como a falta do Maracanã, a insegurança, o desacordo entre Botafogo e Flamengo quanto ao uso do Nílton Santos, a interferência do poder judiciário em relação às torcidas, entre outros — argumenta Vianna, fazendo questão de lembrar que, na TV, os jogos são um sucesso.

— Em dez partidas transmitidas ao vivo, a média de espectadores foi superior a 1,3 milhão, número não atingido por quase nenhum dos campeonatos do país.

Alheio ao sucesso televisivo, o técnico Abel Braga já avisou que o Fluminense jogará com reservas. Não quer correr o risco de perder jogadores para a estreia na Sul-Americana, quarta, diante do Liverpool, do Uruguai, no Maracanã. Apesar de ser um dos maiores entusiastas do Fla-Flu, ele reconhece que o regulamento do campeonato esvaziou o seu charme.

— Em princípio, foi um regulamento feito para os quatro grandes estarem na fase final. Mas talvez, até a decisão, você tenha cinco Fla-Flus. Sei lá, é muita coisa. De repente, foi feito para ser esvaziado, né? — questionou, de forma irônica, o treinador tricolor.

No Flamengo, poupar alguns titulares não está descartado. O charme do Fla-Flu foi atingido em cheio pelas incoerências do campeonato. Sem todas estrelas em campo e sem classificação em disputa, quem precisa levar a emoção ao torcedor terá um desafio a mais.

— Tenho que compensar apelando para a luz própria do Fla-Flu — conta o locutor da Rádio Globo, Luiz Penido.

E ele não está sozinho:

— Preciso emocionar o ouvinte no gol — diz o narrador da Rádio Transamérica, Bruno Cantarelli.

Em sua última coletiva, Zé Ricardo sugeriu que a Ferj revisse o regulamento para o ano que vem. A fórmula, no entanto, só poderá ser alterada por decisão unânime dos clubes e com a autorização do Ministério dos Esportes, já que a legislação federal determina que alterações só podem ocorrer após dois anos.

Já que não há para onde correr, resta aos clubes se apegarem à premiação. Os semifinalistas da Taça Rio embolsarão R$ 150 mil. Quem ficar com o título, mais R$ 850 mil. No quadrangular decisivo do Estadual, onde os jogos voltarão a empolgar o público, o campeão terá direito a R$ 3,5 milhões e o vice, a R$ 1,5 milhão.

MAIS PERGUNTAS E RESPOSTAS DE MARCELO VIANNA

1. O campeonato está entrando na reta final. Já é possível fazer uma avaliação dele?

Ainda não. Além da última rodada da Taça Rio, ainda faltam sete partidas importantes pelas semifinais e finais da Taça Rio e do Carioca. Seria precoce e precipitada qualquer conclusão.

2. Um dos pontos mais criticados do regulamento é a semifinal do Estadual, que teria esvaziado as finais dos turnos, principalmente da Taça Rio. Por que, ao contrário do que ocorreu em anos anteriores, os campeões dos turnos não fazem a final do campeonato? Vocês concordam que os turnos foram desvalorizados?

A forma foi determinada principalmente para contemplar a TV com a final em duas partidas. Nos anos anteriores, o vencedor dos dois turnos era o campeão, fato que interferia diretamente na audiência do evento, por suprimir duas partidas decisivas e deixar a TV sem duas datas na programação esportiva do campeonato do Rio de Janeiro. Os turnos não foram desvalorizados. Pelo contrário e, principalmente, pelo aspecto financeiro, uma vez que o prêmio para o campeão de cada turno corresponde a R$ 1 milhão, além de aumentar a possibilidade de se classificar para as semifinais do campeonato.

3. Outra regra muito criticada é a dos cartões, que não zeram após as finais dos turnos. Que avaliação vocês fazem desta medida? Ela é realmente um erro, como dizem os clubes?

Os artigos 17 e 24 [do regulamento] mantiveram o mesmo critério adotado há vários anos em relação aos cartões amarelos, que são zerados ao final da última rodada de cada turno (Taça Guanabara e Taça Rio).

4. Até este momento, o Estadual tem o pior público da década. Na avaliação de vocês, as polêmicas do regulamento podem ter contribuído para isso? Quais as razões para este baixo número de espectadores nos estádios?

Há que ser feita uma distinção entre o público presente nos estádios e o público que assiste e se interessa pelo campeonato. Incontroverso que a média de público nos estádios foi baixa e isto se constitui um grande desafio a ser resolvido já há algum tempo. Este ano, inúmeros fatores podem ter contribuído, como a falta do Maracanã, obrigando Flamengo e Fluminense a jogarem em estádios de pequeno porte; a insegurança, o desacordo entre Botafogo e Flamengo quanto ao uso do estádio Nilton Santos, a interferência do poder judiciário em relação às torcidas, e outros. Convém ressaltar que em dez partidas transmitidas ao vivo pela TV a média de share foi de 41,17 e a média de espectadores foi superior a 1.300.000, dados não atingidos por quase nenhum dos campeonatos do país até então e mesmo por vários dos principais programas da TV.

Não consideramos nenhuma polêmica em relação ao regulamento, que é bem claro, além de ter sido aprovado por todos os clubes e publicado mais de dois meses antes do início do campeonato. A interpretação ou outras formas de avaliação será sempre motivo de controvérsias. Penso que ninguém deva se colocar de forma impermeável a sugestões que possam contribuir para regulamentos livres de imperfeições ou críticas. Infelizmente, o prazo para tais sugestões foi encerrado 45 dias antes do início da competição.

5. A fórmula de disputa pode ser alterada para o ano que vem? Pergunto principalmente no sentido de se resgatar a valorização dos turnos.

A fórmula poderá ser alterada desde que por decisão unânime dos clubes, conforme previsão estatutária, e permissão do Ministério do Esporte, de acordo com a legislação em vigor. Entretanto, conforme já expusemos em pergunta anterior, entendemos como não tendo havido desvalorização dos turnos, citando-se que a definição dos quatro semifinalistas depende da disputa de oito clubes nos jogos da última rodada da Taça Rio e que, somente após essa última rodada, será conhecido o clube que será obrigado obrigado a participar da primeira fase em 2018. Ou seja: praticamente todas as partidas são de extremo interesse para quase todos os clubes.

O GLOBO

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