Bastidores: por que a fragilidade do Flamengo de Dome não surpreende quem acompanha o dia a dia?



Por Cahê Mota | GE: As goleadas para São Paulo e Atlético-MG, a segunda pior defesa do Brasileirão e a inconstância do Flamengo após 98 dias de trabalho minaram a paciência do torcedor com Domènec Torrent. A diretoria debate o futuro do treinador com o peso de uma multa de 2 milhões de euros (R$ 12,7 mi) para quebra de contrato. Mas a fragilidade da equipe ao longo da temporada não surpreende quem acompanha o dia a dia do trabalho de uma comissão técnica que é mais elogiada por ser "gente boa" do que eficiente.



Geralmente, o dia seguinte aos jogos no ge recebem uma análise da performance da equipe. Mas não se analisa um jogo com praticamente apenas sete minutos de duração sem falar de um trabalho que segue sem consistência mesmo três meses após a chegada de Dome ao Brasil (dia 3 de agosto). O 4 a 0 do Atlético-MG no Mineirão tem impacto leve na tabela do Brasileirão e gigantesco na perspectiva de futuro do Flamengo.

Curiosamente, a realidade é similar a dos momentos em que o time vencia, chegando a ficar 12 jogos invictos. O Flamengo dá a impressão de ser aquele time que ganha jogos, mas não passa a segurança para ganhar campeonatos. E a palavra segurança neste caso vai além dos problemas defensivos. Refere-se ao estofo de um time campeão.



Muito reflexo da falta de convicção com que o trabalho de Dome e sua comissão técnica é encarado no Ninho do Urubu. Desde o início, as queixas pelos corredores são as mesmas: falta clareza e detalhamento na passagem de informações. Situação agravada se levado em conta o radicalismo da mudança de estilo de jogo e, principalmente, as características do antecessor.

Dome é daqueles profissionais boa praça, que escuta muito a todos e respeita as atribuições de cada um. Bem diferente do perfil centralizador de "solucionador de problemas" de Jorge Jesus com que o departamento de futebol do Flamengo estava acostumado.



Para uma mudança tão grande de característica e implementação do badalado futebol posicional (ao qual a equipe ainda vive de recortes de eficiência dentro dos jogos) é necessário que os jogadores tenham certeza absoluta de que dará certo. Não é o que acontece.

A percepção de boa parte das pessoas é de que Dome pode até ter o conhecimento que o permitiu ser escudeiro de Guardiola por tantos anos, mas tem dificuldade de passá-lo nos treinamentos. Falta detalhamento das movimentações em situações de jogo, além da questionada mania de não escalar e treinar o time titular até o dia dos jogos.

O exemplo mais marcante aconteceu na véspera da viagem ao Equador, quando os jogadores se surpreenderam com a estratégia proposta para encarar o Independiente del Valle. Algumas lideranças se aproximaram para indicar que não daria certo, o treinador respondeu que ainda haveria uma atividade em Quito, e o time perdeu por 5 a 0.



Mesmo em situações de dificuldade, a passividade faz com que o time se veja mais em apuros do que encontre um caminho. Um dos relatos mais repetidos é do intervalo da derrota por 3 a 0 para o Atlético-GO (que já completou um turno), quando Dome foi sucinto em suas orientações no vestiário após atropelo no primeiro tempo.

No Mineirão, a cena se repetiu fosse e os relatos são de resignação e silêncio diante da goleada sofrida para o Atlético-MG. Marcos Braz e Bruno Spindel se reuniram longamente com Dome e seus pares em uma sala reservada, de onde saíram sem maiores reações e se juntaram a quem já estava no ônibus rumo ao aeroporto.

Alguns posicionamentos de Dome também desgastaram a relação. Em determinado momento em uma exibição de vídeo em que sentiu o elenco disperso, o espanhol disparou que "viu jogos de 2019 e não seria todo ano que seriam campeões na sorte" citando a final contra o River Plate. Os atletas engoliram seco.



Declarações auto defensivas repetidas em entrevistas coletivas também são ditas internamente, como "a dificuldade de uma equipe ser campeã por dois anos consecutivos". A repetição do argumento fez até com que jogadores mais experientes contra argumentassem com a perspectiva de que deveria ser mais difícil ainda para os adversários bater o Flamengo depois do que foi realizado em 2019.

Falar em relacionamento ruim é exagero, até mesmo pelo mais recorrente elogio aos espanhóis: de quem são todos muito educados e ótimas pessoas. Entretanto, o incômodo com este tipo de postura e as repetidas declarações de que os erros são individuais e não de montagem da equipe é uma realidade.

O mesmo vale para pequenos atrasos no dia a dia. Se este elenco acostumou-se com a rigidez dos portugueses, os espanhóis são bem mais tranquilos em relação aos horários e há relatos de se apresentarem para treinamentos de campo ou de vídeo já após a presença dos atletas. Nunca mais houve multa por atrasos.



O estilo gerou até mesmo situações encaradas de maneira bem humorada, mas não com menos estranhamento. Foi o caso do discurso de Dome visando a Copa do Brasil sem saber da ausência de gol qualificado, as dúvidas de Jordi Guerrero sobre os jovens inscritos na véspera da partida contra o Del Valle pela Libertadores ou a confusão que transformou Pedro Rocha em volante.

O famoso rodízio é outro ponto controverso. O posicionamento dos jogadores é de que respeitam desde que os critérios fiquem claros, e muitas vezes o descanso por "desgaste ou lesão" não bate com o posicionamento do departamento médico. Aconteceu com Arrascaeta contra o Botafogo, Gabigol e Gérson contra o Bahia, entre outras vezes.



A declaração após a vitória sobre o Athletico-PR descartando o camisa 9 contra o Galo, por exemplo, gerou expectativa até a divulgação da lista de relacionados. Gabigol se sentia em condição, preparação física e departamento médico também, e o treinador optou por mudar de ideia.

São 98 dias de um trabalho que passou a sofrer externamente com uma desconfiança que há muito paira no Ninho do Urubu. Só que agora já no limite do erro: faltando 18 rodadas para o fim do Brasileirão, o Flamengo terá pela frente quatro meios de semana para decidir a vida na Copa do Brasil e na Libertadores.


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Fonte: https://globoesporte.globo.com/futebol/times/flamengo/noticia/bastidores-por-que-a-fragilidade-do-flamengo-de-dome-nao-surpreende-quem-acompanha-o-dia-a-dia.ghtml

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