A final da Sul-Americana teve mais uma vez público decepcionante no estádio de
Córdoba para assistir a São Paulo x Independente Del Valle. Ainda que a
torcida são-paulina tenha ido em bom número no seu setor, havia menos da
metade das arquibancadas disponíveis ocupadas - a Conmebol não divulgou o
público. Foi melhor do que a decisão de 2021, Athletico x Red Bull Bragantino,
disputada em estádio vazio.
A decisão da Libertadores, entre Flamengo e Athletico, também tem vendas de
ingressos mais lentas até o momento. O jogo será no Estádio Monumental, em
Guayaquil (EQU). Neste caso, há um contraste com as outras duas decisões, Lima
e Montevidéu, em que o público praticamente encheu os estádios.
Ambos os casos ocorrem em um contexto em que a Conmebol reduziu os valores dos
ingressos para ambos os jogos. Os preços estão mais acessíveis neste ano, com
ingressos da Libertadores com mínimo de R$ 795,00. No caso da Sul-Americana, a
final poderia ser acessada com R$ 300,00.
Nos dois casos, o problema não é a falta de interesse das torcidas ou a falta
de tamanho do número de adeptos do time. Tanto que a torcida do São Paulo
praticamente encheu seu setor em Córdoba. A grande questão é logística para
chegar às cidades de Córdoba e Guayaquil que transformam a ida ao jogo em uma
operação de milhares de reais.
Para Córdoba, havia pacotes de viagens por R$ 8 mil com direito a hospedagens,
voos e ingressos. Uma passagem avulsa de São Paulo saia por em torno de R$ 4
mil.
No caso de Guayaquil, os preços variam de R$ 6 mil a R$ 15 mil por passagens
aéreas para chegar à cidade equatoriana. Não havia hospedagens disponíveis na
maioria dos sites de viagem.
Esses dois casos são resultado da decisão da Conmebol de diversificar as sedes
das finais únicas. No Equador, por exemplo, há um acordo político entre a
confederação e o governo federal local. Por isso, a entidade também tem
minimizado o impacto dos casos de violência nem Guayaquil. Óbvio que qualquer
mudança de sede agora - que tem sido descartada até o momento pela Conmebol -
seria um desrespeito com quem já comprou a viagem e ingressos.
Só que a América do Sul não conta com a infraestrutura de transporte da
Europa: cidades que não são capitais, ou com turismo internacional, têm
problemas de acesso com faltas de voos e de hospedagem.
A Conmebol não tomou atitudes para facilitar a vida do torcedor. Não negociou
com hotéis, nem com companhias aéreas. Como resultado, um mercado abusivo se
instalou em torno das suas finais, com fracasso de público.
Essa atitude é um boicote às próprias competições. A imagem de arquibancadas
vazias depõe contra a Sul-Americana e Libertadores que a Conmebol deseja ver
vendidas internacionalmente.
Se quiser manter o jogo único, a Conmebol tem que pensar onde de fato o jogo
único é viável no continente. Ou seja, cidades grandes ou capitais com grande
rede de acesso no continente e larga rede de hospedagens. Locais como Rio de
Janeiro, São Paulo, Buenos Aires, Santiago, Bogotá, Brasília e Lima atendem
esse requisito, ainda que existam algumas restrições em parte delas. Há outras
capitais brasileiras como Salvador, Porto Alegre e Belo Horizonte que também
poderiam ser opções, e mesmo Montevidéu funcionou razoavelmente, embora com
problemas de hospedagem.
"Ah, mas é injusto restringir os jogos apenas a determinadas cidades". E é
justo transformar finais que são feitas para o público em desertos na
arquibancada ou em aventuras impossíveis? É essa a imagem que a Conmebol quer
vender para o mundo?
Estamos na quarta edição da final única da Libertadores e Sul-Americana, sendo
que boa parte delas teve turbulências ou público baixo. Já está na hora de a
Conmebol aprender com suas experiência e adotar um critério mais seguro para
as sedes da decisão.
Imagem: Divulgação
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