Por Rodrigo Coutinho | Uol:
Pronto! Depois das súplicas insistentes da torcida e muitos jornalistas, Paulo
Sousa não é mais o técnico do Flamengo. O trabalho do português foi de fato
bem frágil. Podemos enumerar os erros cometidos. Mas e o cenário a seu redor?
Dorival Junior será a próxima vítima de um clube que simplesmente não tem paz
desde a saída de Jorge Jesus?
O novo técnico rubro-negro será o quinto nome desde que o treinador campeão da
Libertadores deixou o Mais Querido, em julho de 2020. Em 23 meses, o clube
mudou de treinador quatro vezes. Em todas elas por demissão. A média é de
cinco meses e alguns dias de permanência para cada profissional. Será que
nenhum deles reunia capacidade para ocupar o cargo?
De Domènec à Paulo Sousa, passando por Rogério Ceni e Renato Gaúcho, o
Rubro-Negro oscilou. Com os últimos dois teve mais momentos positivos do que
negativos. Com Ceni, venceu um Brasileirão, uma Supercopa do Brasil e um
Estadual, mas nem assim teve dias normais. O ambiente criado em torno da
cadeira de técnico do clube mais popular do país é basicamente doentio.
A começar pela sensação geral de que o mesmo desempenho de 2019 e parte de
2020, com Jesus, vai ser retomado. Esqueçam! Aquela qualidade de futebol é
vista em média a cada duas décadas no futebol brasileiro. É necessário que
muitos fatores se combinem para que haja tamanha sinergia e alto nível entre
atletas e treinador. O mundo real, infelizmente, não é esse.
Mirar aquele futebol é o começo do erro. Nem mesmo um retorno de Jorge Jesus
daria tal garantia. É claro que o torcedor e a imprensa como um todo podem e
devem cobrar o melhor de cada equipe. Por mais subjetivo que isso possa
parecer, é totalmente saudável exigir um bom futebol.
Faz parte dos desafios de lidar com a opinião pública, mas é necessário
respeitar o tempo certo para que cada metodologia se desenvolva. Algo que já
seria improvável em cinco meses com condições normais de aceitação dos
jogadores e respaldo da diretoria. O que dizer, então, quando essas duas
coisas não acontecem?
Paulo Sousa foi contratado com a missão de rejuvenescer o elenco do Flamengo,
cortar privilégios e mimos, além, é claro, de desenvolver a equipe dentro de
campo. Não teve respaldo para isso em nenhum momento. A começar pelo
questionável planejamento de renovação de contratos iniciada em novembro de
2021.
Essa postura dos responsáveis pelo futebol rubro-negro é facilmente percebida
pela maioria dos jogadores, que seguem tendo o mesmo comportamento nocivo dos
últimos dois anos.
Na maioria dos jogos falta concentração ao longo dos 90 minutos. Falta
intensidade no momento defensivo. Num cenário de ajustes táticos iniciais, não
há como desenvolver nenhuma ideia. O treinador que cobra de forma veemente
acaba fragilizado pela forte influência dos atletas junto à diretoria e
figuras da imprensa.
Os resultados negativos acabam vindo com mais facilidade, e a última parte do
''pacote'' vem: a fritura pública! O torcedor, quase sempre movido pelo placar
final dos jogos, se manifesta contrariamente de maneira exacerbada. E vê
profissionais, que mais se parecem ''parceiros de arquibancada'' com o poder
da opinião, desenvolverem retóricas sem o menor embasamento para avaliar um
trabalho. Verdadeiras perseguições ''inquisitórias'' são promovidas.
Entender que o cenário do Flamengo hoje vai muito além de uma troca de
treinador, que desta vez foi necessária, é o ponto de partida para o clube
tentar se pacificar. É necessária uma profunda reformulação no elenco também,
mas antes disso é preciso mexer em toda a estrutura do futebol do rubro-negro.
Já está mais do que provado que o sucesso de 2019 se deve principalmente a uma
figura que não está mais lá.
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Imagem: Divulgação
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