Por André Rocha | Uol:
Marcelo Gallardo fica no River Plate por mais um ano. O Benfica está
classificado para as oitavas da Liga dos Campeões e Jorge Jesus declarou logo
após a vitória por 2 a 1 sobre o Dinamo de Kiev que vai cumprir o contrato até
o final (junho de 2022).
Ou seja, o Flamengo, a princípio, não terá um daqueles nomes inquestionáveis,
com estofo e currículo robusto para aguentar pressões internas e externas em
um clube cuja direção ouve até demais as redes sociais e os jogadores mais
experientes e influentes do elenco.
Depois de Jesus, as demissões de Domênec Torrent e Rogério Ceni seguiram um
padrão: aconteceram sempre na virada da fase de grupos para o mata-mata da
Libertadores. Um em novembro, outro em julho. Alguma instabilidade no início
do Brasileiro, gritaria na internet, muros pichados e técnico na rua. Com
multa rescisória para pagar.
A temporada europeia termina no dia 28 de maio, com a final da Champions em
São Petersburgo, na Rússia. Muito provavelmente com Jorge Jesus fora do
Benfica e livre no mercado. As oitavas da Libertadores começam exatamente um
mês depois. O Brasileiro estará rolando desde abril, já que a temporada se
encerra em novembro para a Copa do Mundo no Catar.
O Flamengo se dispõe, corretamente, a buscar o melhor profissional disponível
para comandar o time a partir de janeiro. Com pré-temporada e o estadual como
período de adaptação de um estrangeiro ao futebol brasileiro.
A primeira grande questão é que Marcos Braz e Bruno Spindel não são exatamente
os melhores interlocutores para as entrevistas com os nomes que passarem pela
sondagem inicial. O clube precisava de um profissional qualificado, com
conhecimento técnico para fazer as perguntas que, muito provavelmente, não
foram feitas a Dome. Para depois todos se surpreenderam quando o catalão, na
segunda partida, mexeu nas estruturas da equipe implementando os primeiros
conceitos do jogo de posição, bem diferente da dinâmica implementada por Jorge
Jesus.
A segunda, não menos importante, tem a ver com respaldo. Este que escreve já
leu no Twitter um youtuber muito influente junto à direção desmerecendo o
currículo de Carlos Carvalhal, treinador do Braga que interessa ao Flamengo
desde a saída de Jesus.
Independentemente do nome escolhido, tudo terá que dar muito certo até o meio
do ano. Com título estadual atropelando os rivais, conquista da Supercopa do
Brasil, caso o Flamengo se credencie a disputar o tricampeonato com o título
do Atlético Mineiro na Copa do Brasil, e campanha sólida na fase de grupos da
Libertadores, além de um bom início nos pontos corridos.
Qualquer oscilação será suficiente para a sombra de um Jorge Jesus
desempregado pairar gigantesca sobre a Gávea e o Ninho do Urubu. Ainda mais
com as prováveis especulações do técnico campeão brasileiro e da Libertadores
em 2019 em outro grande clube daqui. Talvez um Palmeiras, se Abel Ferreira
estiver voltando para a Europa. Quem sabe?
O que fará a direção de tantos caciques e tantas cornetas? Vai confiar no
trabalho do português ou argentino que estiver no comando ou demitir e pagar
mais uma multa por encerrar outro contrato antes do final? E a imagem de
máquina de moer gente diante de treinadores como Gallardo pensando no futuro?
Por isso o Flamengo deve avaliar a hipótese de buscar uma última conversa com
Jesus, nem que seja um acordo de cavalheiros com o compromisso de assumir o
time rubro-negro depois de deixar Lisboa. Até lá, mandato "tampão" com um
brasileiro mesmo. Candidatos não faltarão.
É arriscado? Claro! Mas bem melhor que o papelão de contratar um estrangeiro
agora falando em "planejamento" e fraquejar novamente de acordo com os humores
da torcida. Prejuízo financeiro e de imagem. Desnecessário.
Este colunista defende, em qualquer clube, a contratação com convicção de que
a proposta do treinador se encaixa com as características do elenco e o que o
clube deseja como estilo. Também se o perfil de comando se encaixa com o que
se deseja na gestão do grupo. Depois é dar tempo ao trabalho, com avaliação
constante do desempenho e do lastro de evolução. Os resultados contam, muito.
Mas não podem definir no curtíssimo prazo as decisões da direção.
Algo básico, mas que tem faltado ao Flamengo. Desde antes de Jesus, um golpe
de sorte que fez história.
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Imagem: Divulgação