Por Rodrigo Coutinho | Uol:
Desde que foi formado no histórico time de Jorge Jesus em 2019, o quarteto
ofensivo do Flamengo é a realização dos sonhos dos torcedores pelo grande
desempenho apresentado. O retrospecto vencedor faz falta na busca de um
inédito tricampeonato nacional rubro-negro. Na atual edição do Campeonato
Brasileiro, Rogério Ceni e Renato Gaúcho só puderam escalar Arrascaeta,
Everton Ribeiro, Bruno Henrique e Gabigol juntos em apenas 12% dos jogos.
O dado é alarmante se comparado com as últimas duas edições da competição,
ambas vencidas pelo Flamengo. Em 2019, contando a partir da 10ª rodada, diante
do Goiás, quando Jorge Jesus dirigiu e os escalou juntos pela primeira vez, o
Mais Querido fez 28 partidas pelo Brasileirão. Em 24% delas o quarteto foi
escalado.
O quadro deixa bem claro a pouca possibilidade de utilização dos jogadores que
mais desequilibram na equipe neste Brasileirão - Imagem: Rodrigo Coutinho
Cabe ressaltar que naquela ocasião, quando a conquista já era dada como certa
na reta final, bem perto da final da Libertadores, o técnico português poupava
quase sempre um deles ou não podia escalá-los em virtude de problemas físicos.
Mesmo assim os 24% representam nada menos que o dobro da condição atual.
Já em 2020, Domènec Torrent e Rogério Ceni foram mais felizes. Os quatro
homens mais avançados da equipe estiveram juntos desde o início em 39% dos
jogos do Brasileirão. Incluindo uma sequência de vitórias na reta final da
competição, o que foi determinante para a recuperação e a confirmação do
título na última rodada.
Foram poucas derrotas com eles iniciando uma partida. Em 2021, por exemplo, o
Rubro-Negro só saiu de campo derrotado para o Internacional, por 4 x 0, neste
Brasileirão. Por mais que o clube tenha reforçado o seu elenco e hoje conte
com peças mais qualificadas para a reposição, há diferenças consideráveis nas
características dos atletas e no próprio nível de decisão dos suplentes.
Andreas Pereira, por exemplo, que é titular, mas na ausência de Arrascaeta vem
jogando mais avançado, tem forma de atuar totalmente diferente do uruguaio.
Entra menos na área, não sustenta tanto os duelos físicos, é menos intenso nos
movimentos de subida de marcação e nas pressões pós-perda. Povoa uma área bem
mais recuada.
Michael vem jogando bem. É opção aguda e garantia de volume e dribles pela
esquerda, mas não compensa as flutuações de Gabigol. O camisa 9 gosta de jogar
do meio para a direita, sai da área, circula a intermediária, mas Michael não
ataca a última linha rival em diagonal como Bruno Henrique faz. Não tem essa
característica.
Superar esses problemas é questão de repertório de jogo por parte da comissão
técnica e entendimento de tais diferenças. É necessário que se crie um modelo
de movimentos padronizados considerando o que cada atleta pode oferecer de
melhor a cada jogo. O modelo buscado hoje com o quarteto em campo já era feito
em 2019. Renato tem méritos por recuperá-lo, mas quando eles faltam o time
sofre mais do que deveria.
Logicamente haverá queda de produção, mas é necessário saber lidar com o
insano calendário que gera lesões e desgastes, além da quantidade absurda de
Datas Fifa. No caso do Flamengo, Gabigol, Arrascaeta e Everton Ribeiro têm
saído constantemente pelo segundo caso. Já Bruno Henrique vem sofrendo com
lesões musculares.
Como podemos ver, comandar um ''time de R$ 200 milhões'' pode não ser tão
fácil assim. O sucesso e o interesse da Seleção desfalcam, o esforço desgasta
e gera atletas machucados. Achar soluções com reservas mais qualificados que
os de Jorge Jesus em 2019 é função de Renato Portaluppi.
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Imagem: Alexandre Vidal