A cada nova adição à sala de troféus do Flamengo, os integrantes do time atual
fincam mais passos na escalada de idolatria no clube. A geração atual se
coloca em prateleiras pouco frequentadas nos últimos anos, mas como posicionar
esses jogadores em relação a ídolos recentes, que viveram uma época de vacas
magras?
O ex-meia Petkovic, por exemplo, disse na semana passada que Arrascaeta ainda
não o superou no clube. O sérvio entrou na memória dos rubro-negros,
principalmente, pelo gol no tricampeonato estadual diante do Vasco, em 2001, e
pelo brilho no título brasileiro de 2009.
Nesse período muito menos fértil em dinheiro e taças, surgiram outros ídolos,
como o goleiro Júlio César, o zagueiro Juan e Adriano Imperador. À exceção de
Petkovic, a formação na Gávea os une. No elenco atual, há mais protagonistas,
um dos benefícios da saúde financeira fortalecida a partir de 2013. Mas a
identificação não vem pelas raízes no clube.
O debate tem subjetividade. Mentes rubro-negras, famosas e anônimas, ajudam a
traçar o raciocínio.
— Acho um erro dizer quem é melhor ou pior. Cada um terá sempre seu espaço no
cenário do Flamengo. Logicamente, quem conquista muito leva vantagem em
relação aos que tiveram um grande desempenho e que não tiveram grandes
conquistas — diz o ex-lateral Júnior, comentarista da TV Globo.
O sucesso na Supercopa ressalta o papel de Diego Alves. O prêmio de melhor do
jogo contra o Palmeiras foi para Arrascaeta, mas, nos pênaltis, o goleiro
mostrou por que é tão respeitado. Diego Alves não precisou evitar
rebaixamento, como fez Júlio César em 2004, mas é o primeiro nome de uma
escalação que ecoará por gerações. Mesmo assim, ele evita se colocar em um
pedestal.
— Não tenho como me enxergar desta forma. A avaliação é de cada um. O Júlio,
como outros goleiros, tem participação e grandes histórias no clube. Eu me
sinto privilegiado em fazer parte da história do Flamengo — disse Diego Alves
ao GLOBO.
Gabigol é um capítulo à parte. “Predestinado”, como diz a série sobre ele no
Globoplay. Os gols na final da Libertadores já o colocam em um espectro de
idolatria que só Zico supera com folga. Mas não é possível ignorar Bruno
Henrique e Everton Ribeiro, para ficar só na composição ofensiva.
Na zaga, Rodrigo Caio se destaca. Ponto de equilíbrio, não importa o parceiro.
O pênalti cometido em Rony passa longe de abalar a confiança da torcida nele.
Um Juan moderno? Na representatividade internacional, não. Juan, inclusive, é
funcionário do departamento de futebol do Fla. Mas Rodrigo Caio ainda tem
tempo para solidificar seu papel na história e chegar perto na paixão dos fãs.
— Esse elenco conquistou tudo, incluindo a Libertadores, mas essa galera da
antiga faz parte da cultura do Flamengo — diz Rodrigo Ramos, gerente de
lanchonete no Centro do Rio.
O Maestro Júnior respirou os ares do Fla em diferentes épocas e funções. Por
isso, tem cacife para perceber as mudanças na relação entre jogadores e
torcida.
— A geração tem o benefício da rede social. Ela faz com que o torcedor tenha
um aprofundamento maior de quem são os caras. O máximo que se tinha há alguns
anos, antes de o Maracanã ser refeito, era a geral. Agora, a Fla mureta faz
selfie — disse Júnior, referindo-se aos que, antes da pandemia, ocupavam os
lugares mais próximos ao campo.
A evolução do processo de idolatria passa pelo ritmo de conquistas em 2021. A
Libertadores, claro, está no topo de prioridades. O jogo de estreia, contra o
Vélez, será no dia 20.
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Fonte: https://oglobo.globo.com/esportes/no-flamengo-titulos-mexem-com-prateleira-de-idolos-mas-como-posiciona-los-24968036
Imagem: Alexandre Vidal