Por Rodrigo Mattos | Uol: Campeão da Libertadores, o Flamengo sofreu sua maior goleada na competição ao ser atropelado pelo Independiente Del Valle. O placar de cinco gols refletiu o que ocorreu em campo em termos técnicos, táticos e físicos. Não foi casual. Neste desastre rubro-negro, o técnico Domènec Torrent mostrou desconexão com a realidade clube e da Libertadores.
A escolha da escalação do espanhol, diga-se, fazia sentido diante das circunstâncias. Foram quatro meias no meio com a formação que teve boa atuação diante no Fla-Flu. Por que? O objetivo era ter um bloco de jogadores no meio, tentar impedir a dinâmica do Del Valle e controlar a partida.
O Del Valle é um time com um padrão bem definido, com pressão na marcação na saída do adversário e boa circulação de bola nas linhas do adversários. Resultado do trabalho de Miguel Angel Ramirez.
Pois bem, a formação não impediu o domínio do time equatoriano. O Flamengo evitou um excesso de conclusões na área, mas nunca conseguiu controlar o jogo. Retomava a bola e nem conseguia toca-la, em contra-atacar. Sem ameaçar, o controle do Del Valle acabou em um gol bem tramado pelo meio. Para Dome, aí o time estava ordenado e por isso só tomou um gol.
O jogo era complicado e o técnico resolveu voltar para o segundo tempo para pressionar a marcação rival, com Bruno Henrique no lugar de Diego. Os jogadores rubro-negros, no entanto, não pressionavam ninguém na frente. E sobrava um buraco no meio-campo para Del Valle sair jogando.
Ao final do jogo, Dome admitiu o erro ao avançar o time. "Decidimos atacar e tentar um jogo. Aconteceu com espaço esse time joga muito melhor", explicou o treinador. Ou seja, ele sabia que com espaço o Del Valle ia melhor? e deu o espaço.
Entre as linhas rubro-negras, o Del Valle passeava conduzido por Caicedo, sem ser incomodado nem por Gerson, nem por Arão. Aumentou a vantagem para três gols com o time equatoriano massacrando também fisicamente um Flamengo que parecia apático de tão lento. Não era só altitude.
Diante do domínio absoluto, Domènec decidiu dobrar a aposta. Tirou outros jogadores do meio, Everton Ribeiro e Arrascaeta, por mais atacantes, Michael e Pedro. Mandou os marcar lá na frente, pressionado, com só dois atletas no meio, Thiago Maia e Arão. Ressalte-se que está longe de ser só culpa do técnico já que o time inteiro foi muito mal.
Após a partida, Dome explicou que entendia ali que o jogo já estava decidido com 3x0. "Depois, tentamos trocar jogadores para estar frescos para o próximo jogo. Tomamos mais dois gols. Ao final são três pontos", disse, reconhecendo, no entanto, que a derrota era dolorosa.
Ora, com essa declaração, o técnico espanhol demonstra uma incompreensão do impacto de uma goleada de cinco sofrida pelo campeão da Libertadores. Faz diferença, sim, tomar de 3x0 ou de 5x0 para um time no topo de linha do continente. Se ele não sabia disso, deve descobrir nos próximos dias.
O início do trabalho de Dome mostra ideias bem diferentes de Jorge Jesus. Ele quis implanta-las com rapidez ao contrário do que prometera inicialmente quando afirmara que faria adaptações. Como já dito por aqui, é interessante que ele traga ideais diferentes e isso provoca uma reflexão no futebol brasileiro.
Porém, o técnico espanhol não pode simplesmente pegar sua fórmula fixa usada durante anos ao lado de Guardiola e aplica-la sem adaptação à realidade do Flamengo e do Brasil. É importante ter planilhas no futebol, mas só essas não bastam. Tem que entender o ambiente onde está inserido e os efeitos de cada um dos seus atos. Não é o que está se vendo até agora.
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Fonte: https://www.uol.com.br/esporte/futebol/colunas/rodrigo-mattos/2020/09/18/em-goleada-dome-mostra-se-sem-nocao-sobre-libertadores-e-flamengo.htm
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