"Eu estou realizando o sonho do meu pai e o da minha família. Espero que tudo dê certo". Foram essas as primeiras palavras de Thiago Maia como reforço do Flamengo, depois de ser emprestado pelo Lille, da França, por 18 meses com opção de compra.
Para chegar até a realização do sonho, porém, o meio-campista passou por bastante coisa.
Nascido no estado de Roraima, na capital Boa Vista, com pouco menos de 300 mil habitantes, o jogador enfrentou extremas dificuldades no começo da carreira. Para vingar no futebol, teve de deixar sua casa e sua mãe, Vanda - o maior amor de sua vida - e, ainda aos nove anos de idade, morar com um amigo de melhores condições e fazer testes em São Paulo.
"Eu já tinha um teste agendado no Corinthians e ficamos perto do Parque São Jorge. Eu fiz três testes e não passei. Ele também não passou", contou ao ESPN.com.br em 2016.
Thiago Maia foi persistente. Não desistiu. E ainda ganhou um grande reforço emocional. A chegada de sua mãe a São Paulo para morar com ele. Mas isso não queria dizer que sua condição melhoraria de imediato.
"Quando minha mãe soube que eu estava dormindo no chão, ela veio aqui. Eu dormia num colchão de ar e ele furou. Daí, eu não tinha como pagar remendo, muito menos comprar um novo e acabei dormindo no chão mesmo. Mas não queria deixá-la preocupada. Mas o instinto de mãe não falha nunca, eu sabia que se dissesse como estava, ela ia me mandar voltar para casa", lembra.
"Só que ela ficou sabendo, vendeu a moto dela, uma Honda Biz, comprou a passagem e veio de surpresa me ver em São Paulo. Daí, ela apareceu e eu estava no chão", comemora.
"Depois, fui para um motel, na Penha, e fiquei uns 2 meses por lá e passei muita dificuldade. Não tínhamos condições, mas o motel era mais barato que um aluguel e pagava por dia", conta.
Mas foram as amizades ao longo do tempo que foram ajudando Thiago.
"A gente começou a andar muito por São Paulo e ficamos amigos de um taxista que nos arrumou uma casa para morar. Os pais do meu amigo que pagavam pra gente. Lá, morei dois anos e pouco e entrei na escolinha do Boca Juniors. Fiz um teste, e o diretoria e um treinador da base do Boca selecionaram eu e mais dois jogadores", comemora. "Mas minha mãe não deixou eu ir para o Boca lá (na Argentina)", replica.
Aos 14 anos, Thiago Maia, então, finalmente passou e atuou nas categorias de base do São Caetano. Mas a morte do zagueiro Serginho, em 2004, por parada cardíaca, fez o time do ABC Paulista ter muito mais cuidados com seus jogadores.
"Foram nove meses e venci um torneio municipal. Mas eles pediram exames como eletrocardiograma e eu não tinha condições de pagar, não dava para fazer porque era muito caro. Só tinha dinheiro pra alimentação e transporte e fiquei duas semanas em casa. Um treinador da escolinha do Boca, que tinha uma escolinha do Santos também, me arrumou um teste no Santos", diz.
E olha que, por pouco, o próprio time da Vila Belmiro deixou sua joia escapar. "Eu fui barrado lá porque já tinha muita gente, no quarto ou quinto teste. Dai ele falou com o Lima [ex-jogador e lenda santista], que me deixou fazer o teste", comemora.
Depois, mais dificuldades. "Eu levei chuteira de campo e era campo de society. Um amigo meu estava com uma chuteira 44 e eu calçava 39. Ele me emprestou e ficou enrome no meu pé (risos). Usei todas as meias que tinha em casa. Tinha que ir. Era chance da minha vida", conta.
À época, o grande objetivo de Thiago Maia era ainda ser um camisa 10 clássico. Mas foi no Santos que ele encontrou sua posição atual e, de lá, nunca mais saiu.
"Tinha muito meia, dai a vaga que tinha era de voltante e eu fui. O professor Bebeto disse se eu poderia ser volante e aceitei. Nunca tinha jogado de volante e nem sabia marcar (risos). Eu era camisa 10, tipo Lucas Lima, fazia gols de longe, batia falta. Agora só sei marcar (risos)", gargalha o jovem. "Fui avaliado, passei, fiquei uma semana por lá e já fui inscrito na Copa Votorantim sub-15", completa.
Amor pela mãe
A importância de "Dona" Vanda na vida de Thiago Maia é enorme. Antes do meia ter empresário, ela quem cuidava de todos dos negócios do filho, incluindo os contratos.
Vanda teve um câncer de intestino quando o jovem estava com seis anos. "Toda mulher é vaidosa, mas ela perdeu cabelo e sobrancelha por causa da quimioterapia. Tenho essa lembrança de ver minha tia raspando o cabelo dela na área de casa e chorando. Foi a primeira vez que a vi chorando", disse o jogador.
O santista sempre dedica seus gols e vitórias para Vanda, incluindo sua maior conquista: a medalha de ouro na Olimpíada do Rio de Janeiro, em 2016.
"Foi especial demais na minha vida. Eu era um dos mais jovens ao lado do Gabriel Jesus. A ficha ainda não caiu para mim. Quando olho a medalha, penso como Deus preparou isso para nós".
Vendido ao Lille por 14 milhões de euros em julho de 2017 como a maior contratação da história do clube francês, Thiago Maia nunca chegou a ter o mesmo destaque na França. Na atual temporada, ele atuou poucas vezes antes de ir para o Flamengo.
"Eu estou realizando o sonho do meu pai e o da minha família. Espero que tudo dê certo", disse o jogador à FlaTV.
Fonte: https://www.espn.com.br/futebol/artigo/_/id/6549156/flamengo-thiago-maia-ja-dormiu-no-chao-e-morou-em-motel-por-sonho-no-futebol
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