A trilha sonora do Maracanã mudou, e em altos decibéis: ao aparecer no telão no anúncio da escalação, Willian Arão é recebido com euforia e frisson pela torcida do Flamengo. Diante do CSA, foi assim, e o volante voltou a apresentar a regularidade e eficiência que viraram rotina em 2019.
Sim, em todo o ano de 2019. Se Jorge Jesus foi o responsável por transformar o patinho em cisne no elenco rubro-negro, com Abel ele já dava sinais de que não era tão feio como a torcida pintava. O gol na decisão do Carioca é um exemplo disso. Mas não há como negar: com o treinador português, tudo mudou. Para todos, como define o próprio camisa 5:
- Ele é muito importante não só para mim como para meus companheiros. Não adianta eu estar bem posicionado e outros não. Depois, teríamos que correr 30, 40 metros, mas todos sabem muito bem o que fazer.
"Fica muito fácil jogar, marcar e fazer as coisas. Isso é mérito dele, sem dúvida nenhuma. Fazemos o que ele pede e tem coisas que eu, quando comecei a jogar, nunca imaginei algum time fazer. Tem que ter muita coragem, muito treinamento e saber como fazer. É total mérito dele".
Em sua quarta temporada no Flamengo, Willian Arão acostumou-se com altos e baixos, mas nunca deixou de ser titular da equipe. São 219 jogos e 24 gols marcados. Neste ano, já entrou em campo 52 vezes e foi às redes cinco. Recuperou a média de superar a marca de 50 jogos por temporadas.
Em 2018, no entanto, não foi possível e com apenas 32 aparições viveu seu momento de maior instabilidade. Sem espaço com Maurício Barbieri, chegou a ser negociado com o Olympiakos, mas uma divergência na forma de pagamento pelos gregos melou o negócio. Bom para Arão e para o Flamengo:
- Vivo um sonho. Continuo plantando para continuar colhendo. Treino forte, faço o que for preciso. Ia sair em um outro momento, outra perspectiva. Acabei não saindo e viver isso agora é grandioso. Espero que passamos carimbar esses dois títulos para me sentir na história do Flamengo.
Campeão Carioca em 2017 e 2019, e vice do Brasileiro, da Copa do Brasil e da Sul-Americana, o volante faz parte de um grupo reduzido que acompanhou de dentro todo processo de transformação do Flamengo administrativamente. Ao lado de Diego, Diego Alves, Rodinei, Everton Ribeiro e Renê, Arão lembra como pouco os dias de osso roído para agora desfrutar do possível banquete de Brasileirão e Libertadores.
- Estivemos perto muitas vezes e sabia que, uma hora ou outra, esse momento ia chegar. Só ganha quem está na final, e a gente toda hora estava na final. Era um detalhe. Sabíamos das nossas condições, que tínhamos que melhorar, e agora é desfrutar. É pegar as experiências ruins, aprender e não fazer de novo.
"O grupo é outro, mas é uma trajetória, um caminho que foi construído desde o próprio Eduardo Bandeira de Mello e todos que passaram e deixaram aprendizado".
Em bate-papo com o GloboEsporte.com, Willian Arão falou sobre a influência de Jorge Jesus na mudança de estilo e personalidade deste Flamengo, da volta ao papel de primeiro volante, que desempenhou no início da carreira, e se emocionou ao lembrar a trajetória do título da Libertadores pelo Corinthians e até a final com o Rubro-Negro. Confira:
Primeiro volante
Já tinha essa percepção. Outros treinadores já fizeram isso, joguei minha base toda como primeiro volante, cheguei ao Corinthians assim...Não é novidade. As novidades são os movimentos que ele pede, as ideias que ele tem de jogo. Aí, tenho que analisar e crescer. Me sinto confortável nas duas posições e estou muito feliz.
Leitura dos adversários
O Jesus tem um discernimento, uma leitura da equipe adversária muito bom. Contra o Grêmio, ele avisou antes que faríamos gol de bola parada. Contra o Atlético-MG, que eu fiz, também. Ele estuda, vê as fraquezas e monta nosso time de acordo com isso.
Volta a uma final de Libertadores
Antes do jogo com o Grêmio, minha esposa mandou mensagem lembrando que há sete anos eu estava indo para o jogo sem saber se ia para o banco, se seria cortado, e agora vivo a história jogando e classificando para a final. Claro que passa um filme de tudo desde o início da carreira, do que abrir mão, de tudo que aprendi no Corinthians... É a realização de um sonho. Fui campeão, mas não joguei, estava no grupo. Hoje, posso colocar em prática tudo que aprendi e estou muito feliz.
Patinho que virou Cisne
Mesmo antes do Jesus chegar, eu já fazia um bom ano. Não estávamos apresentando um bom futebol, mas na minha percepção, individualmente, eu vinha bem. Fiz gols decisivos, já era o maior ladrão de bolas... Mas entendo o lado do torcedor, as cobranças. É o Flamengo. Com a chegada do Jesus, com ideias novas, pensamentos novos, todo mundo cresceu. É um conjunto. Não jogo tênis, preciso dos meus companheiros e eles de mim.
Consistência da equipe
Os treinamentos trazem a confiança, o que fazemos no dia a dia, o que acreditamos. E o resultado comprova isso, mostra que as coisas são bem-feitas. A metodologia e as ideias são passadas de maneira clara, conseguimos absorver e executar. Temos um estilo de jogo que casa com a história do Flamengo.
Final da Libertadores
Enfrentamos o River duas vezes no ano passado, quando eles foram campeões, e estamos aqui e lá. Era um outro time, mas sabemos da dificuldade. Vamos estar preparados. Jogo único pode acontecer tudo. De repente, em um lance tem uma falta, uma expulsão, e muda tudo. Mas vamos chegar bem preparados mentalmente e fisicamente.
Fonte: https://globoesporte.globo.com/google/amp/futebol/times/flamengo/noticia/de-patinho-a-cisne-arao-reescreve-historia-no-flamengo-com-bencao-de-jesus-fica-muito-facil-jogar.ghtml
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