O Flamengo pode ser a melhor aposta de superclube da América do Sul



Meu estudo favorito de todos os tempos relacionado a futebol, com boa vantagem, veio da revista brasileira "Mundo Estranho" poucas semanas antes do início de 2014.


Pela primeira vez, segundo a revista, era possível responder uma questão espinhosa: qual time tem a maior torcida do futebol mundial? Você vai concordar que essa, sim, é a sorte de pesquisa que realmente importa, o tipo de material que acadêmicos e estatísticos de todo o mundo deveriam dedicar todo seu tempo para entender.

Afinal, ela tem consequências no mundo real: Manchester United, para dar um exemplo, menciona regularmente em teleconferências com investidores quantos torcedores tem. A última estimativa, feita pela agência Kantar, era de 1,1 bilhão de pessoas. Ou seja, uma de cada sete pessoas ao redor do planeta tenta se convencer de que o sétimo lugar da Premier League não é tão mal assim.


Dessa forma, o estudo da "Mundo Estranho" tinha o potencial de ser extremamente importante. A tarefa foi entregue a empresas de pesquisas em dez países, da Holanda ao Japão, com dados analíticos a fim de prover uma resposta definitiva.

A conclusão foi, digamos, um pouco surpreendente. Se você achava que o United estaria bem na parada, com um sétimo da população mundial ligadaça nas aventuras do rebelde Ashley Young, a verdade é que ele nem chegou no Top 10.

Nem o Barcelona. O Real Madrid ficou em nono, e a Juventus foi o mais bem colocado dos clubes europeus, mas mesmo a Velha Senhora, que afirma ter metade da Itália a seu lado, acabou em um modesto sexto lugar.


No topo da lista, segundo o estudo, estava o Flamengo, o gigante do Rio de Janeiro, logo à frente de dois mexicanos: o Chivas Guadalajara e o América. O Flamengo soma 32,6 milhões de torcedores em volta da Terra, segundo a revista.

Se isso soar esquisito, é preciso ao menos considerar os critérios da pesquisa. Por razões não muito bem explicadas, mas que soam bastante óbvias quando se pensa no assunto, a Mundo Estranho decidiu que "fãs chineses que apoiam o Manchester United" não contam.

Talvez não seja muito científico, mas a mensagem é digna de consideração. O futebol se tornou tão eurocêntrico nas últimas duas décadas que é fácil pensar nos clubes brasileiros como meros fornecedores: linhas de produção de talentos, mineiradores que entregam estrelas em potencial (e volantes de contenção) à elite da Premier League e de La Liga.


É fácil se esquecer de que tais clubes são instituições históricas e grandiosas que até recentemente eram capazes de emparelhar com a maioria dos clubes europeus em glamour, prestígio e até em riqueza. O Flamengo não é o clube mais rico do Brasil nem o mais bem sucedido, mas é, de acordo com a Mundo Estranho, aquele que provavelmente é o mais amado.

É por isso que milhares de torcedores rubro-negros se reuniram no aeroporto internacional do Rio nesta semana a fim de se despedirem do time que partiu rumo a Lima, no Peru, para a final da Libertadores. é por isso que todos os seus 32,6 milhões de torcedores vão sintonizar suas TVs para ver se o Flamengo pode superar o River Plate, atual campeão da América do Sul, e levantar o troféu pela primeira vez desde 1981.

Viria a calhar se assim acontecesse. Esta é a primeira vez que a Libertadores se decide numa partida única, como na Champions League – tradicionalmente, eram partidas de ida e volta. A Conmebol tenta estabelecer sua competição como uma espécie de rival do torneio europeu, mais conhecido e mais rico.


Segundo me disse no ano passado o presidente da Conmebol, Alejandro Dominguez, trata-se de uma tentativa de marcar a autenticidade sul-americana com uma organização europeia. Também dessa forma pensa o Flamengo. Seu técnico é português Jorge Jesus, ex-Benfica e Sporting Lisboa; a rápida transformação de uma equipe esforçada se deve, em grande parte, pela introdução de ideias táticas europeias e inovações no centro de treinamento. Ele se tornaria o segundo técnico europeu a conquistar a Libertadores, depois do croata Mirko Jozic.

Bem como seus pares e rivais no Brasil, o Flamengo busca uma forma de estancar a hemorragia de talento sugada pela Europa. Se não for possível encurtar o abismo, como diz Dominguez, ao menos evita que ele se abra. Assim como o Palmeiras, o São Paulo e outros, o Flamengo ambiciona se tornar o primeiro superclube fora da Europa.

Sua popularidade é um bom começo. Adotar algumas práticas da elite europeia, idem. Mas não se pode parar na superfície. Muito do trabalho tem de ser feito fora dos holofotes. Como evidenciou a morte de dez jogadores da base do Flamengo em 8 de fevereiro deste ano, os clubes brasileiros nem sempre priorizaram a saúde e a segurança de seus jovens talentos. Se o Flamengo e seus rivais quiserem ser um ponto de destino, em vez de uma simples fonte de jogadores, precisa não apenas pensar nas recompensas, mas também nas suas responsabilidades.


Fonte: https://oglobo.globo.com/esportes/o-flamengo-pode-ser-melhor-aposta-de-superclube-da-america-do-sul-24096474

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