Thiago Maia e Isla podem acelerar difícil transição de Dome no Flamengo



Não tem sido um início fácil para Domènec Torrent no Flamengo. A escolha marcava uma óbvia e complexa ruptura com as ideias que fizeram história com Jorge Jesus no clube.


Já não adianta usar as referências de um trabalho anterior ou cobrar que um treinador coloque em prática ideias que não são as dele. A mudança de perfil afeta as funções individuais e os princípios coletivos.


Mesmo na vitória sobre o Santos, o jogo foi diferente do esperado. É possível dizer que o contra-ataque funcionou, mas não é exatamente o papel ou a proposta que o Flamengo pretende ter.

O desempenho ainda não agrada, mas as escolhas já são perceptíveis. A necessidade, por conceito, de abrir o campo, mexe no funcionamento de um time que se aproximava com naturalidade. Gabigol e Bruno Henrique ficam mais distantes, Everton Ribeiro já não é quem ocupa o corredor direito, opções de velocidade ganham espaço pelas pontas.

E não é questão de escalação. O fato de mudar constantemente o time titular era uma conhecida característica, e não é problema. Um ponto positivo tem sido o crescimento de Thiago Maia, talvez o meio-campista com maior entendimento da função esperada. Tem físico para infiltrar e pressionar, e dá dinâmica aos passes por dentro.


Quando Dome chegou ao New York City, encontrou um time com muitos meias e atacantes que rendiam melhor por dentro. A saída foi buscar formações mais flexíveis, apostando na amplitude com seus laterais/alas ofensivos.

Tal memória é relevante na comparação com o Flamengo, mas esbarrava no perfil dos laterais. Com a chegada de Isla, a característica muda. Enquanto Filipe Luís constrói bem por dentro, agora, ao menos na direita, há um lateral capaz de dar potência nos ataques pela ponta.

Isla tem experiência na função esperada. Embora seja um jogador de carreira muito mais sólida na seleção do que nos clubes, curiosamente encontra agora um perfil mais próximo do que teve no Chile de Bielsa ou de Sampaoli.


Caso consiga se consolidar na função, pode representar um alívio para muita gente. Um lateral abrindo o campo na ponta direita poderia significar mais liberdade para quem, hoje, ocupa tal corredor.

A coordenação requer tempo e treino, mas muda a exigência do meia ou atacante que atua aberto. Michael, Pedro Rocha e Vitinho não ganharam minutos por acaso. São justamente os pontas que compensam os laterais por dentro. Mas se as características se invertem, com Isla aberto, Gabigol poderia virar um segundo atacante mais próximo de Bruno Henrique, ainda que partindo da direita.

Ou até Everton Ribeiro poderia voltar a fazer seu tradicional movimento da direita para dentro, embora este pareça mais em processo de adaptação ao novo papel de meio-campista.

O Flamengo ainda tem um longo caminho a percorrer na desafiadora transição que a diretoria optou por promover. Não adianta cobrar que o treinador seja diferente do que sempre foi. A execução pode funcionar ou não, mas o fundamental é tentar compreender o que as decisões significam para as ideias dele, e não para o fantasma do time que já não existe mais.


Fonte: https://www.uol.com.br/esporte/colunas/rafael-oliveira/2020/08/31/thiago-maia-e-isla-podem-acelerar-dificil-transicao-de-dome-no-flamengo.htm

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